Marina 15/01/2021Antes de tudo, uma apologia à vidaPeguei esse livro pra ler pela primeira vez há 5 anos, mas foi agora que consegui ler tudo. A linguagem é difícil e é preciso manter o foco pra não se perder nas inúmeras narrativas dentro da história principal. O conteúdo é muito denso, além de ser cheio de metáforas e alegorias.
Zaratustra, o personagem principal, é um homem solitário, que tem poucos amigos e seguidores a quem busca orientar com suas doutrinas. Seus ensinamentos se dividem em 4 eixos:
(1) A crítica à moralidade cristã, considerada repressora e hipócrita. Aqui ele comenta como os homens defendem uma moral que não praticam, e se tornam piores ao tentar fingir ser algo que não são.
(2) O ?espírito senhoril?, com o elogio à virilidade e a coragem do homem que quer ser senhor, mandar, dominar, submeter e criar.
(3) O anuncio do ?Super Homem?, como aquele que vai superar o homem como o homem teria superado o macaco. O Super Homem seria esse homem que viveria livre da moralidade do ?rebanho? e faria sua própria felicidade.
(4) A ideia do eterno retorno, ou o tempo circular em que tudo se repete: ?porque toda a alegria quer eternidade?. O sentido da vida tem que ser criado na própria vida, e pra quem ama a vida o eterno retorno seria uma dádiva, não um fardo.
Ao contrário do que se diz sobre Nietzsche, em assim falava Zaratustra ele se mostra tudo menos pessimista. Seu amor pela vida é absoluto, ainda que muitas vezes peque por romantizar excessivamente as ideias de virilidade, masculinidade, nobreza, guerras e poder.
Ele se mostra tão apaixonado por esses ideais masculinos que volta e meia precisamos nos lembrar durante a leitura de que ele, muitas vezes, está errado. E tudo bem, porque ele não se pretende certo o tempo todo.
Se por um lado ele trata de forma agressiva e problemática todos os que fogem desses ideais de virilidade, como as mulheres, os deficientes, os velhos, os feios, por outro lado, quando Zaratustra de fato se encontra com esses suas ações são majoritariamente respeitosas e amigáveis.
Ainda que eu discorde em grande parte dos caminhos apresentados por Zaratustra, ele mesmo afirma que seu objetivo não é apresentar um manual com a forma certa de viver, mas ensinar que se ?quebrem as tábuas? de moralidade e se crie o próprio caminho. É contagiante o amor completo à vida que sentimos em Zaratustra.