Felipe 27/08/2020Essa foi uma das leituras que mais me incomodaram até hoje. Causa muito estranhamento um senhor ir até uma casa onde garotas ficam "adormecidas" durante todo o período em que ele está com elas. Talvez a busca que Eguchi está fazendo, é uma espécie de reconciliação com um passado já esquecido, e no corpo dessas meninas, ele procura não o prazer carnal em si, mas a busca de sensações, toques, cheiros, sem ser julgado, visto que as mesmas não sabem com quem estão se deitando, por conta do sonífero. É um exercício de tentar entender os motivos que o levam até essa casa, e na minha visão, a solidão da velhice é o maior motivo. Mas é um livro polêmico sim, ao estilo "Lolita" eu diria.
"[...] Decerto os velhotes não possuíam seu Buda, diante do qual pudessem ajoelhar-se e orar. Por mais que abraçassem fortemente a bela desnuda, derramassem lágrimas frias, se desmanchassem em choro convulsivo ou berrassem, a garota nada ficaria sabendo e jamais acordaria. Os velhotes não haveriam de se envergonhar, nem ficariam com seu orgulho ferido. Estavam inteiramente livres para se arrepender e se lamentar à vontade. Consideradas dessa forma, seriam as "belas adormecidas" uma espécie de Buda? E, além de tudo, um Buda vivo? A pele e o cheiro jovem das garotas seriam, então, o perdão e o consolo desses pobres velhotes."