Raphael 20/07/2020Instrutivo, mas esquecível...Foi uma leitura agradável, instrutiva, capaz de entreter e de instigar a curiosidade, mas ao mesmo tempo foi uma leitura bastante esquecível.
Em Kyoto, conhecemos Chieko, uma jovem que, quando bebê, fora abandonada à porta de um casal de ricos, porém decadentes atacadistas, tendo sido adotada e criada por eles como filha. Chieko eventualmente acaba descobrindo que tinha uma irmã gêmea, de nome Naeko, que, órfã desde muito cedo, vivia em circunstâncias socioeconômicas bastante duras.
O livro parece uma crônica do cotidiano do Japão do Pós-Guerra, conjugando um esforço entre o cultivo das tradições japonesas e um perene mal estar com a crescente ocidentalização dos costumes então em voga. Kawabata resgata as festas tradicionais, as celebrações dos santuários, as crenças populares, a cultura material. Suas descrições são arrebatadoras, tremendamente visuais, e têm o condão de nos fazer querer prestar mais atenção à beleza das árvores, das flores, da vida.
Alguns incômodos: em vários momentos, Kawabata interrompe muito abruptamente cenas e diálogos, de maneira um tanto desconcertante. Esse pode ser um traço de seu estilo - não sei - mas não me agrada muito.
Um colega já havia me alertado que, embora ele mesmo goste do autor, que esse seu estilo um tanto quanto inconclusivo não agradasse a todos. Bem, também achei o livro esteticamente bonito, mas realmente cheguei ao final com aquele "então é isso? acabou?".
Para além das cenas do cotidiano, há uma pitada de drama na vida da protagonista, introduzida com a descoberta da irmã gêmea, mas ele não é tão desenvolvido. Tive a sensação de que a própria Chieko e todo o núcleo de personagens são descentralizados - isto é, importam menos que o cenário. A cidade de Kyoto brilha como um quase personagem do livro, mas seus personagens humanos e sua protagonista perdem em densidade. Por isso, para mim foi uma leitura esquecível.