spoiler visualizarDIRCE 22/01/2024
Você foi tomado pela resseca literária? Super-recomendo esta obra.
Do que confessar que andava meio preguiçosa em relação às leituras: creio que fui cometida pela tal resseca literária. Mal sabia eu que, apesar da diagramação (fontes minúsculas para essa pobre Mrs Magoo), iria devorar o livro.
A obra é dividido em duas partes: I- Antares e II o Incidente. Li, algures , pessoas dizendo que a parte I é monótona. Em momento algum senti fastio durante a leitura, muito pelo contrário, foi a aula de História mais prazerosa que tive nos últimos tempos. Com uma escrita refinada o nosso Érico me levou aos primórdios da fictícia Antares (antes conhecida como Povinho da Caveira), porém, os acontecimentos até a data de 12 de dezembro de 1963 não tinha nada de fictício : o coronelismo representado pelos arqui-inimigos – os Vacarianos e os Campolargo, a chegada do progresso ( usina elétrica, os veículos trazidos do exterior e outros que me fogem à mente) a I Guerra Mundial, política brasileira , incluindo a morte do Getúlio Vargas, a vassourinha do Jânio Quadros, J. Kubistchek e seus 50 anos em 5 anos, enfim, uma gama de acontecimentos históricos foram reavivados na minha memória.
Chegando a II parte , impossível esconder o riso . Que vergonha, Dirce!!! Não era para sorrir diante de fatos tão graves. Culpa não me cabe e, sim, ao Érico ( nos tornamos amigos íntimos). O II Capítulo de se inicia com a greve geral que se deu na sexta-feira no dia de 12 de dezembro de 1963, dentre eles, os coveiros da cidade que teimaram em não descruzarem os braços para enterrarem os 7 mortos: dona Quitéria Campolargo- a dama da comunidade, Barcelona – o sapateiro, Cícero Branco- advogado, João Paz – um pobre coitado que carrega o pacifismo até no nome, Pudim Cachaça - nem precisa explicar quem era ele, Menandro – o pianista e Erotildes – a prostituta. A partir desse evento, o romance torna-se sensorial, haja vista o fedor que advém tanto dos mortos que ,uma vez não enterrados, levantam-se das suas urnas funerárias e resolvem jogar caca no ventilador, bem como a corajosa exposição que o escritor faz da corrupção, autoritarismo, golpismo e os pensamentos sociais nas mais diferentes idades, gêneros e raças. Mas tudo é feito com diálogos engraçadíssimos e situações que chegam a doer o coração.
Confesso que fiquei atônita que, em plena Ditadura Militar ( com o ditador Emílio Garrastazu Médici no poder, penso que o mais temido), a obra publicada em 1970 passasse pela censura. Será que os censores se assustaram com os números de páginas ???!!!!
É... positivamente, a História do Brasil não é um bolo recheado de leite ninho com morangos. O final contém uma denúncia irônica assustadora: a operação borracha (TÃO ONTEM, TÃO HOJE) apagou o macabro incidente no ano de 1963. Sete anos após o progresso era visível na cidade de Antares. Abaixo transcrevo alguns trechos da última página:
ELA SE TORNOU UMA CIDADE PRÓSPERA E FELIZ. COMO, PORÉM , NADA É PERFEITO NESTE MUNDO , ÀS VEZES NA CALADA DA NOITE VULTOS FURTIVOS ANDAM ESCREVENDO NOS SEUS MUROS PALAVRAS E FRASES SUBVERSIVAS, QUANDO NÃO APENAS PORNOGRÁFICAS (...)
- QUE ESTÁ ESCRITO ALÍ . PAI?
- NADA . VAMOS ANDANDO, QUE ESTAMOS ATRASADOS...
O PEQUENO , ENTRETANTO, PARA MOSTRAR AOS CIRCUNSTANTES QUE JÁ SABIA LER , OLHOU PARA A PALAVRA DE PICHE E COMEÇOU SOLETRÁ-LA EM VOZ ALTA:
- LI-BER-...
CALA A BOCA BOBALHÃO !- EXCLAMOU O PAI, QUASE EM PÂNICO . E PUXANDO COM FORÇA A MÃO DO FILHO, QUASE DE ARRASTO RUA ABAIXO.
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AMEI! AMEI! AMEI ! Entretanto, não darei 5 estrelas . Darei 1 só . GIGANTE, do tamanho da estrela ANTARES. Xereta é o meu segundo nome, de forma que, encontrei uma página por meio do Google: Astronomia do Zenite onde é informado que Antares é 10 mil vezes mais brilhante que o Sol e que, para sorte nossa , ela está distante de nós 600 anos luz. Qualquer inverdade a operação borracha deve ser feita nessa página e, não, neste meu humilde comentário.
Claro que esta obra irá para os meus favoritos, e Veríssimo para o altar dos meus deusos, dentre deles, A. Camus, o qual é, inclusive, citado na obra. É..., gente: Veríssimo era tão humanista como Camus.