Polly 17/02/2021
O Amor nos Tempos do Cólera: não falta nada (#158)
Meu primeiro Gabriel Garcia Marquez foi Cem Anos de Solidão. Não vou mentir, foi uma leitura difícil, no entanto, sem deixar de ser prazerosa. Uma longa linha temporal, personagens de nomes repetidos e uma paragrafação peculiar (os parágrafos às vezes duram mais de uma página, só não é pior que Saramago) são um grande desafio para uma leitora enferrujada como eu era há cinco anos atrás. Depois de todo esse tempo, e carregando a bagagem literária que carrego hoje, tenho que dizer que não foi, exatamente, uma boa ideia conhecer Gabo por Cem Anos de Solidão. Eu, na realidade, deveria ter começado por O Amor nos Tempos do Cólera; talvez, eu não tivesse passado tanto tempo para ler de novo esse autor maravilhoso.
O Amor nos Tempos do Cólera nos conta a história do amor desencontrado de Florentino Ariza e Fermina Daza. Os dois amantes tardios se conhecem na adolescência, quando Florentino se apaixona perdidamente, à primeira vista, por Fermina. Embora ambos correspondam aos sentimentos um do outro por um tempo, a intensidade maior desse sentimento sempre virá de Florentino. Será assim durante toda a vida, pois ele espera a amada até a velhice, ocasião em que esse amor terá, finalmente, a chance de acontecer.
Não dá para contar muito mais do que isto da história. Acho que estragaria a experiência. O Amor nos Tempos do Cólera não tem bem uma cronologia linear: ele começa do fim, vai para o começo e depois volta para o primeiro para nos dar um desfecho digno de uma história do Gabo. Mas, apesar de toda a magia da escrita, Gabriel Garcia Marquez nos fala sobre a vida, sobre a realidade, mesmo aqueles fatos sobre os quais a gente não costuma falar: o amor na velhice; o exagero no amar (que, no fundo, no fundo, não é amor); o desapaixonar-se; o amor construído aos poucos, que é o único que permite serenidade para viver; o luto. Gabo nos entrega tudo. Não falta nada.
A história é belíssima, uma prosa poética, eu diria. Porém, devo confessar que por grande parte do texto não consegui simpatizar com seus protagonistas. Florentino é dado ao exagero e idealiza demais o amor. E se tem uma coisa em que acredito é que a idealização nos impede de viver de fato. A realidade nunca será tão boa como as nossas idealizações, entretanto, nada é mais nosso do que ela. Já Fermina, no momento da leitura, pareceu-me indiferente demais por boa parte do livro. Agora, depois de refletir por alguns dias sobre a história, vejo que, na verdade, Fermina Daza sempre foi fiel a si mesma. E não há nada mais importante do que isso, não é? Tanto que, ao longo do livro, ela foi me conquistando e, no final, eu já achava que ela era areia demais para o caminhãozinho do Florentino (risos).
Enfim, um livro incrível com aquele jeitinho latinoamericano precioso de escrever. Como falei antes, no enredo, não falta nada. Dificilmente não dá para não gostar. Sério. E se você tiver querendo começar a ler Gabriel Garcia Marquez, talvez, ele seja melhor do que Cem Anos de Solidão. Pelo menos, é o que eu acho. Já estou doida para ler meu próximo Gabo. Qual você me indica?