O ano da morte de Ricardo Reis

O ano da morte de Ricardo Reis José Saramago




Resenhas - O Ano da Morte de Ricardo Reis


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Bia 08/03/2021

Bem mais ou menos...
Para quem é português sabe que este é um livro importante para a disciplina de Português do Secundário, tal como Os Maias de Eça de Queiróz ou o Amor de perdição de Camilo Castelo Branco.
Sendo assim, penso que não preciso de dizer que foi por "obrigação" que começei esta leitura.
Então, na minha opinião, até fiquei surpresa pois pensei que fosse muitoooo pior. Em comparação com Os Maias é um livro muito mais fácil apesar de me ter custado a uma determinada altura a avançar devido, principalmente, à altura em que estava a ler (tinha imensas avaliações).
Além disso, também achei um final bem pobre pois pensei que fosse muito mais extenso e composto.
Quanto à escrita acho a escrita de Saramago confusa e inadequada para mim pois perturbou-me muito a ausência de diálogo com a utilização de travessão e as suas imensas reflexões que se confundem com algumas coisas que não estão na realidade a acontecer e são, sim, fruto da imaginação do protagonista.
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regifreitas 10/02/2021

O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS (1984), de José Saramago.

Nos derradeiros dias de 1935, o médico e poeta Ricardo Reis retorna a Portugal depois de viver por mais de quinze anos no Brasil. Um mês antes de sua volta, morria o poeta Fernando Pessoa. Seria uma mera coincidência, não fosse o fato de Ricardo Reis ser justamente um dos mais conhecidos heterônimos do poeta falecido. Vagando pelas ruas de uma Lisboa muito diferente após tanto tempo de ausência, e decidindo que rumo tomar na vida, Reis se depara com um fantasma – ninguém menos que Fernando Pessoa.

Pessoa criou uma série de heterônimos ao longo da vida - alguns estudiosos do tema chegam a mencionar cerca de 127. Quase todos possuíam personalidades independentes, com características estilísticas que os diferenciavam uns dos outros. Muitos possuíam biografia completa, com data de nascimento e morte. À vida de Ricardo Reis, o mais clássico e erudito de todos, nunca foi dada uma conclusão, e este fato não passou despercebido a Saramago.

O autor português parte justamente desse gancho para desenvolver sua história: como seriam os últimos dias da vida de Reis. Saramago situa esse período justamente no ano de 1936, historicamente um dos mais importantes para Portugal e para toda a Europa. O enredo transita por acontecimentos marcantes da época: os anos iniciais da ditadura salazarista, os eventos que antecederam a Guerra Civil Espanhola, a ascensão de Hitler e Mussolini.

À intertextualidade histórica se mescla a intertextualidade ficcional. Um pouco de conhecimento sobre a obra de Pessoa talvez traga uma compreensão a mais, visto que há diversas referências a textos de outros heterônimos, como Alberto Caieiro e Álvaro de Campos, bem como do próprio Pessoa. É um trabalho de gênio na sua concepção e no seu desenvolvimento. Sem dúvida, uma das grandes obras de José Saramago!
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Marcelo.Alencar 20/01/2021

Crítica à Saramago
Saramago é insuperável. Nessa obra ele abusa da sutileza ao conversar com o fantasma de Fernando Pessoa, seu contemporâneo, porém de ideias bem diferentes! Daí ele usa um heterônimo do famoso poeta e romancista português, dá-lhe vida! E mostra como esses atores encararam os fatos da Europa em ebulição da década de 30. Assim ele usa Ricardo Reis (que é o próprio Fernando Pessoa) em permanente confusão, ele sendo um e sendo o outro.
Acho que foi a forma de Saramago abordar temas tão sensíveis que se passavam na Europa naquela época: ascensão do fascismo alemão, italiano, espanhol e em Portugal! E destilar seu julgamento ao poeta português.
Show!
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Bianca 09/10/2020

Um típico Saramago
Como diz o título, o livro trata do último ano da vida de Ricardo Reis, um dos heterónimos de Fernando Pessoa. Muito interessante e de difícil leitura, conta a vida do médico Ricardo Reis que retorna do Brasil à Lisboa quando da morte de Fernando Pessoa. Suas impressões sobre a Lisboa que deixou por 14 anos para viver no Brasil, e a vida que tentou constituir quando de seu retorno. Recomendo para quem curte o estilo rebuscado e sem pontuação de José Saramago.
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Jaciara44 13/09/2020

Frases que amei:
"Aos deuses só peço que me concedam o nada lhes pedir".
"É com atos que respondemos, e também com os atos que perguntamos".
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Lara.Emanuelle 18/08/2020

Três anos
Eu passei três anos com esse livro nas mãos. Terá um verdadeiro desafio nas mãos, pois encontrará uma leitura densa e complicada demais. Você vai estar lendo, bem tranquila e do nada tem um poema, uma descrição de fatos jornalísticos, ou, a depender do quão distraído no pensamento estiver, vai ter a impressão de não ter sido alfabetizada. Afinal, o estilo de escrita Saramago não facilita muito a leitura. Destarte, é um desafio que vale acatar.
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Leonardo 07/06/2020

Referências muitas
"O Ano da Morte de Ricardo Reis" é um livro complexo por envolver uma imensidão de referências literárias, históricas, políticas, ideológicas e existencialistas. Talvez por essa fama de difícil, não figure entre os mais populares do escritor na atual geração de leitores em que me incluo. É inegável, entretanto, que se trata de uma obra grandiosa.

A história se passa no final de 1935 e o ano de 1936, em pleno avanço do fascismo na Europa. A ditadura salazarista vigora em Portugal, o avanço do nazismo se intensifica na Alemanha, a guerra civil espanhola se aproxima e o fascismo italiano mostra uma de suas faces mais cruéis na invasão à Etiópia. Era apenas o fascismo que vigorava, não havia resistência? Claro que sim, porém a fonte principal de informação de Ricardo Reis era o jornal, totalmente enviesado e sob forte censura em Portugal na época. Saramago retrata Portugal como um país que se diz tão grandioso, mas na realidade é uma nação pouco influente sobre os rumos da Europa, à mercê das verdadeiras potências. Ricardo Reis, sendo um monarquista, vê tanto os movimentos fascistas quanto os de resistência como puramente republicanos versus republicanos, e não toma partido diretamente.

A solidão de Ricardo Reis mostra-se muito no lado contemplativo do personagem e torna-se exacerbada à medida que ele se entrega ao marasmo da existência. Essa monotonia é constantemente quebrada por duas personagens chave, Lídia e Marcenda, completamente opostas em suas origens e classes sociais. Lídia é um nome recorrente na obra do “verdadeiro” Ricardo Reis ("É tão suave a fuga deste dia, Lídia, que não parece, que vivemos"), porém diferente da mulher evocada pelo poeta heterônimo, a Lídia na obra de Saramago é uma mulher do povo, entregue aos prazeres carnais e crítica da realidade. Além disso, o próprio Fernando Pessoa, já morto, constantemente surge nos mais inusitados momentos para dialogar com Ricardo. Estes trechos são profundos, cômicos e tomados de ironia, com certeza os pontos altos do livro e onde a genialidade de Saramago mais se mostra.

“[...] Acima dos deuses está o destino, O destino é a ordem suprema, a que os próprios deuses aspiram, E os homens, que papel vem a ser o dos homens, Perturbar a ordem, corrigir o destino, Para melhor, Para melhor ou para pior, tanto faz, o que é preciso é impedir que o destino seja destino [...]”

Este livro contém uma série de referências, que na minha experiência não foram proveitosas. Em outras obras saramaguianas a crítica a um sistema imposto é presente, mas em geral adquire um viés abstrato e se dilui na trama. Neste livro, a menção é concreta até demais e não senti uma fluidez entre temas históricos, referências a Fernando Pessoa e as relações pessoais que Ricardo Reis constrói em Lisboa. Jamais chamaria a este livro prolixo, o que me incomodou um pouco foram as divisões até demasiadamente óbvias nos capítulos, como uma receita (x parágrafos de relações pessoais, x parágrafos de caminhadas por Lisboa, x parágrafos de leitura de notícias sobre a situação na Europa, x parágrafos de diálogo com Fernando Pessoa). Da metade para o fim certos parágrafos se tornaram maçantes e pouco proveitosos, mesmo eu parando a leitura o tempo todo para pesquisar o fato/ pessoa histórica que ele se referia. Não posso deixar de dizer que o último parágrafo é genial (o último capítulo como um todo é excelente) e a jogada de palavras entre a primeira e a última frase do livro também é algo que só um escritor do calibre de Saramago escreveria de modo tão simples e com tanto sentido.
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Pê Reck 18/04/2020

O livro mais...
Difícil do Saramago que li até agora. É o preferido de muita gente que conheço, mas eu achei só ok, um Saramago, ok.
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Rosa Santana 15/04/2020

O título do romance já diz o que José Saramago, esse renomado autor, detentor do Nobel de Literatura, se propõe a contar nas 415 páginas que se abrem diante do leitor.
Ricardo Reis, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, nasceu na cidade do Porto, Portugal, em 19 de setembro de 1.887. De formação jesuíta, estudou Medicina e se mudou para o Brasil, em 1.919 expatriando-se espontaneamente por ser monárquico e discordar da Proclamação da República Portuguesa. Não se teve mais notícias dele. Sua poesia apresenta uma visão contemplativa do ?espetáculo do mundo?, sem nele interferir, para voltar-se ao aperfeiçoamento interno, sem paixões: uma poesia clássica, fria, sem emoção, ao estilo pregado por Horácio, descrevendo mulheres diáfanas, irreais, deusas inatingíveis. Assim criou-o Fernando Pessoa, não dando data para sua morte.

Então entra em ação a narrativa de José Saramago, que poderia nos apresentar um Ricardo Reis tal qual fora criado, mas, surpreendentemente, ele o transforma em outra criatura, transcendendo a ?original?, se assim a pudermos chamar: leva-o para Lisboa em um navio em 30 de dezembro de 1935, um dia chuvoso e frio, dois dias depois que seu criador, Fernando Pessoa, foi sepultado. Coloca-o em contato com pessoas de carne e osso, que participam ativamente da política, da vida econômica e social de Lisboa; coloca Lídia, homônima de sua personagem na poesia, que, ao contrário daquela, nutre grande humanidade em si: por ele, então seu amante, pelo irmão, pelo filho de ambos que, ao final, está em seu ventre; coloca-o de frente com investigadores de Salazar, com a pobreza da cidade; e, mais, coloca-o cara a cara com nada mais nada menos do que com seu criador, o defunto Fernando Pessoa, que o vem procurar para longas conversas acerca de variados assuntos. Mas, sobretudo, daqueles concernentes à obra de cada um deles!
Por longa pesquisa feita, o autor vai levando o leitor para o ano de 1.936, contando-lhe fatos nacionais e mundiais das mais diversas áreas; fala da eleição na Espanha, em que vence os ?comunistas?, da consequente tomada do poder pelo general Franco, implantando a ditadura; da ação de Salazar, em Portugal, também ditador; Mussolini na Itália empreendendo guerra contra a Somália; Hitler ascendendo na Alemanha... Enfim, Ricardo Reis é colocado nesse cenário de guerra e de desigualdades sociais a que Saramago sempre combate! É esse o espetáculo do mundo que ele tem para admirar. A grande questão é: como não interferir, ficar passivo diante desse quadro de violência e de matança? Apesar de não ser o frio e distante ser criado por Pessoa, em alguns momentos senti vontade de sacudi-lo e dizer: reage! porque ele sente emoção diante dos acontecimentos, embora não seja o bastante para levá-lo a ação!
Assim acompanha ele o desenrolar dos fatos: diariamente compra jornais para contemplar a maravilha do mundo; recebe a visita da amante em seu apartamento alugado, até que ela decide não ir mais vê-lo; divaga pelas ruas e conversa com Fernando Pessoa! Até que este lhe diz que não voltará mais. Então, nosso protagonista diz que se vai, definidamente com seu mestre! E morre Ricardo por não ter mais a luz do seu criador!
Saramago com sua grande capacidade de construção, foi capaz de respeitar a personalidade de cada um dos envolvidos na narrativa, mas não sem dar pinceladas filosóficas segundo sua órbita! Os diálogos travados pelo criador com sua criatura, dirigidos logicamente pelo narrador, reabilitam, ainda que de leve, aos olhos do leitor o reacionário Fernando Pessoa que, como conhecemos emitiu opiniões que nos parecem desumanas acerca de assuntos concernentes às questões políticas e sociais da época. Assim, diz FP: ... você esquece a importância das contradições, uma vez fui eu ao ponto de admitir que a escravatura fosse uma lei natural da vida, das sociedades sãs, e hoje não sou capaz de pensar sobre o que penso do que então pensava e me levou a escrevê-lo (página 384)

Quem lê a narrativa vê, com certeza, José Saramago, Fernando Pessoa e Ricardo Reis: uma soma dos três grandes escritores, como diz esse trecho ao final, quando Reis e Pessoa se despedem do leitor, se encontrando, à nossa vista, pela última vez: ?Ricardo Reis tem uma curiosidade para satisfazer, Quem estiver a olhar para nós, a quem é que vê, a si ou a mim, Vê-o a si, ou melhor, vê um vulto que não é você nem eu, Uma soma de nós ambos dividida por dois.? (Página 394). Assim também, a soma dos três, dividida por três resulta em O Ano da Morte de Ricardo Reis!

Achei delicioso me deparar com vários trechos das criaturas de Fernando Pessoa, todos muito bem contextualizados, resultado da grande capacidade de escrita de Saramago.
Obrigada, Pessoa, pela genialidade da criatura, Ricardo Reis; obrigada, Saramago, por lhe dar vida, e fazê-lo descansar em paz.
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Karina.Sousa 12/02/2020

Mais um
Este foi o único livro de Saramago que li, porque fazia parte de um projeto escolar. Não me arrependo de ter lido, mas honestamente nada demais acontece... Ainda assim, é um livro que tem o seu interesse. Aconselho para quem é fã do Saramago e para quem quer aprender um pouco mais sobre o contexto histórico da Europa da época.
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Tatiana 14/03/2019

A mudança em "O ano da morte de Ricardo Reis"
O autor não é mas aquele que cria a partir do nada, mas sim aquele que lê e transforma, atualiza, dá novos sentidos e rumos àquilo que foi lido. O autor contemporâneo está sempre num exercício de intertextualidade, para o qual ele lança mão da paródia, entre outros recursos.
O livro O ano da morte de Ricardo Reis começa pela frase “Aqui o mar acaba e a terra principia”, esta é uma inversão da premissa camoniana: “Onde a terra se acaba e o mar começa”. Através desta inversão de sentido, Saramago propõe uma visão para dentro de Portugal, ou seja, uma volta à viagem Camoniana.
O autor, aqui, esta apontando para o momento pós-colonização, e indicando o rumo da nova viagem. Portugal neste momento se encaminha em direção à Europa, ao mercado comum europeu.
Saramago parodiou não só o texto Camoniano mas também um heterônimo de Pessoa. Deu a Ricardo Reis um novo perfil, uma vez que não se conformava com o fato de um sábio como ele ser passivo e apenas contemplar a sua época. Saramago como leitor de Pessoa teve a liberdade de interpretar o seu heterônimo e dar a ele um novo contorno.
Por este novo olhar, Ricardo Reis teria uma atitude mais ativa, pois para Saramago seria inconcebível um sábio se manter passivo, talvez até indiferente, diante de sua época. “Entra-nos no corpo a tentação da mudez, a fascinação da imobilidade, estar como estão os deuses, calados e quietos, assistindo, apenas”.( Ricardo Reis: 1998:49 )
Médico, educado pelos jesuítas e monarquistas, ele é um sábio capaz de contentar-se em assistir ao espetáculo do mundo, como diz numa das epígrafes do livro:
“ Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo”
Aqui, porém, ele se vê confrontado com os acontecimentos de 1936 em Portugal e fora dele: de um lado, a ditadura fascista de Salazar; de outro, a gestação da Segunda Guerra mundial, a Frente Popular francesa, a Guerra Civil Espanhola, a expansão nazista na Europa. Um confronto, enfim, com um mundo que decerto não era um espetáculo.
Adepto de uma filosofia céptica, baseada na renúncia à ação e no aperfeiçoamento interior do indivíduo, Reis percebe que não é fácil permanecer alheio ao mundo. Quanto ao “espetáculo do mundo”, este se apresenta demasiado inquietante para que ele possa contempla-lo com indiferença.
Ricardo Reis, no livro em questão, hesita entre viver o seu mundo ou o mundo da ação. Poderíamos dizer, até, que se trata de um dilema existencialista.
Saramago faz uma releitura das situações e dos comportamentos. O que se percebe é o aspecto da mudança. Lídia a musa de Reis, pastora, submissa, passiva aparece aqui como uma mulher de carne e osso, portadora de vontades, de atitudes, uma mulher de ação. O próprio Ricardo Reis que se auto-exilou no Brasil por ser monarquista, ao final do romance apresenta-se quase como um comunista.
Lídia representa o caminho pelo qual pode surgir um Portugal novo, ou seja, a sua fertilidade, o seu filho é o próprio renascer de Portugal. Renascer, este, que vem do povo, vem de uma mulher que representa o agir, o mover-se, o realizar. Para Saramago o “progresso” português depende do agir em detrimento da estagnação.
No livro, esta estagnação é representada por Marcenda. Seu braço paralisado é uma metáfora da situação de Portugal, incapaz de mover-se, realizar, agir, ir em frente. Reis ao se relacionar com as duas e ser incapaz de escolher entre elas, nos deixa observar o seu dilema existencial: estar paralisado apenas contemplando ou mover-se, agir.
A obra O ano da morte de Ricardo Reis resulta numa reflexão sobre a identidade portuguesa e numa “contribuição para o diagnóstico da doença nacional”. Reflexão esta que começa a partir de dois pilares da cultura portuguesa: Camões e Fernando Pessoa.
O objetivo de toda a obra de arte é a mudança. É o levantamento de questões para que os leitores procurem as respostas. É tentativa de transformar a visão oficial de mundo.
Saramago propõe esta mudança partindo da transformação do ponto de vista de Ricardo Reis. O novo perfil do protagonista dá margem ao levantamento de questões que levam à reflexão de que caminho Portugal deve tomar.
Assim como na obra tudo esta em transformação: a pastora Lídia passa a ser uma mulher de vontade, o próprio Reis torna-se mais dinâmico, a intenção do autor também é provocar em nós leitores uma reação, uma vontade de modificar a realidade. Transformar a estagnação do povo português em ação, numa tentativa de buscar uma nova visão de mundo, diferente desta oficial.
Poderíamos até, concluir que todas essas mudanças feitas pelo próprio autor representem uma metáfora da sua vontade maior, ou seja, a transformação de toda uma mentalidade do povo português. Como se a obra em questão fosse um microcosmos da sociedade portuguesa, e assim como Ricardo Reis adquiriu uma nova visão da realidade, o povo português também é capaz.
Saramago acredita que a “salvação” de Portugal só virá a partir de uma atitude, de uma transformação, de uma mudança. E reconhecendo que o papel da literatura é a transformação, propõe esta virada no pensamento português através de suas obras.
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Wagner 19/06/2018

CADA VEZ A PIOR ...

(...) Tudo está cumprido, o que Cristo disse foi, palavra de honra, qualquer pessoa popular sabe que é esta a verdade, Adeus, mundo, cada vez a pior. (...)

In: Saramago, José. O ano da Morte De Ricardo Reis. São Paulo: Planeta D’Agostini, 2003. Pp 56.
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Dani Ramos 10/05/2018

Ótimo!
Este foi mais um romance escrito por Saramago e seu jeito único de se expressar. Feito em 1984 e cujo protagonista é o semi-heterônimo, Ricardo Reis, de Fernando Pessoa. Embora seja mundialmente famoso, eu nunca li nada sobre o poeta português Fernando Pessoa e quando ?descobri? seu modo de escrita sendo inventada por trás de heterônimos, eu achei de fato incrível! Na verdade, não sabia que Pessoa possuía tantos heterônimos assim e partir de ?O Ano da Morte de Ricardo Reis?, que aprofundei mais em seu conhecimento e história.

O livro começa com Ricardo Reis desembarcando em Lisboa, no final de dezembro de 1935, após passar dezesseis anos residindo no Brasil, sobretudo depois de saber da morte de Fernando Pessoa ? decorrida um mês antes em Portugal. Pelo contrário de todos, Ricardo Reis não sabia de fato qual era sua intenção para voltar à Portugal: rever sua terra, começar uma vida nova ou retornar pela morte do amigo. E essa é uma incógnita que levamos ao longo do livro. Apesar dessa incerteza, Ricardo Reis decidi hospedar-se no Hotel Bragança, na rua do Alecrim em Lisboa. Lá, resolve passar alguns meses como um hóspede-inquilino, e ao decorrer do tempo, nasce uma amizade entre o Dr. Reis e os funcionários do local.

Com uma personalidade quieta e solitária, Ricardo Reis demonstra seus hábitos sendo uma pessoa observadora e imaginária, muito atenta as notícias do mundo e de Portugal e mesmo sendo contra a maioria das revoluções e acontecimentos históricos, Ricardo Reis singelamente nos dá um gostinho de seus pensamentos e opiniões quando discute sobre a política do país, o motivo de ter saído de Portugal há dezesseis anos e como gostaria que o governo fosse. E quando acontece a última noite do ano de 1935, Ricardo Reis decide visitar o túmulo de Fernando Pessoa no cemitério dos Prazeres. Com efeito, começaremos a ser apresentados as melhores conversas entre o autor e seu heterônimo.

Neste livro encontramos nitidamente o fascismo dando os seus primeiros passos na Europa e refletindo em Portugal. A base histórica está cheia de informações dos acontecimentos no mundo naquele momento, guerras em seus auges, movimentos revolucionários, um novo modelo de governo implantado no país, a ?mão de ferro, mas com luva de veludo? de Salazar e muitas outras notícias. Ao mesmo tempo, temos Pessoa indicando que seu ?tempo? na Terra estava a acabar: restava apenas oito meses até desaparecer de vez e explica que tal como estamos ao ventre de nossas mães ? não fomos vistos, mas elas sabem que estamos ali ? é o mesmo caso com os mortos, até passar o tempo e eles serem esquecidos. Logo depois, temos o destaque de duas personagens fundamentais no livro: Lídia e Marcenda. Ambas, distintas, determinadas e fortes (como todas as mulheres nos livros de Saramago), levará uma importância significativa para o desenvolvimento da história. Contudo, quando Ricardo Reis deixa o Hotel Bragança e aluga um apartamento aos arredores, é onde percebemos a vida e clima curioso de Lisboa. No inverno, descrito como chuvoso e triste. No verão, um calor infernal e desanimador. Pessoas de todas as classes e jeitos expondo seus ideias e modos. Intrigas contra o governo e revolucionários e como se não bastasse, Ricardo Reis ainda é observado pela ?polícia política? da época, querendo saber qual o motivo de seu retorno à pátria. Isso e muito mais encontramos em ?O Ano da Morte de Ricardo Reis?. Um livro completo e profundo. Digno tanto do escritor que o fez, como para o escritor que foi homenageado.
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