Hildeberto 29/12/2016Aspiro, mas do que esperoA Utopia, de Thomas More, é um livro que marca todo o pensamento da civilização Ocidental. Escrito em 1518 é extremamente inovador e sua forma, ao descrever uma ilha fictícia, um universo paralelo regido por regras criadas pelo autor. Isto pode parecer banal, mas não é. Sua influência é nítida até hoje, seja em sociologia, teoria política ou ficção. A distopias (como 1984) são um exemplo marcante desta influência.
Muito se comenta que esta possa ser uma obra de caráter proto-socialista. Não acho que essa seja melhor interpretação. "A Utopia" trata-se de um projeto de um mundo melhor, perfeito e de harmonia social. Mas esse universo é pensando contra uma realidade dura do século XVI, de um absolutismo opressor. Portanto, não vejo muito sentido considerar o texto de Thomas More como um flerte a concepções de um Estado totalitário. Vejo, pelo contrário, uma tentativa do autor de encontrar um sistema melhor adequado aos costumes e tradições sociais na qual estava inserido. Embora, obviamente, faltem aspectos que proclamem a supremacia do individuo sobre a sociedade, não podemos nos esquecer que as teses individualistas surgem com o Iluminismo, dois séculos após a publicação de Utopia. Procura-se sim uma harmonia entre a felicidade individual e os interesses coletivos, embora o coletivo se sobreponha o individuo.
De toda forma, tal tipo de pensamento é coerente com o pensamento escolástico medieval. Além disso, o autor inova a propor uma forma de regime altamente democrático, que respeita os interesses peculiares das pessoas. Uma sociedade baseada, antes de mais nada sobre a justiça. E, se de um lado defende essas ideias na figura de Rafael Hitlodeu, não é tolo e vê suas contradições quando se assume como Thomas More.
No contexto atual, acredito que a proposta de uma sociedade perfeita aos moldes deste livro não atende as aspirações do homem moderno. De toda forma, o livro é capaz de instigar o pensamento crítico e fazer nos questionarmos sobre o que pode ser melhorado em nossa sociedade, e de que forma. É um livro perene que merece se lido.
A edição da PubliFolha, da Coleção Livros que Mudaram o Mundo, é bastante simpática e com um papel de ótima qualidade.