otxjunior 08/01/2021A Queda, Albert CamusEm um momento de A Queda, de Albert Camus, seu segundo romance que leio, o autor existencialista se dirige através de seu protagonista indiretamente ao leitor nestas palavras: "Confesse, no entanto, que se sente hoje menos contente consigo mesmo do que há cinco dias". O diagnóstico foi preciso até no período de tempo, o que me fez esboçar um sorriso irônico e desejar um feliz ano novo ao filho da mãe francês.
Confesso também que um escritor com visão de mundo deprê não me atrai. Inclusive, lamentei pelo personagem do outro lado deste discurso retórico, que não é mais que um receptáculo do próprio leitor. A autocrítica proposta pelo narrador virou portanto autopiedade. O curto romance ainda arruinou Amsterdam para mim.
O interlocutor é um operador do direito (ainda por cima!) que prega sua nova concepção de mundo após um evento, que é uma das interpretações para o título, engatilhar uma tomada de consciência profunda, mas sem deixar de lado uma certa vaidade que marcava sua vida pregressa. Identifiquei-me em alguns trechos, em outros antipatizei imensamente com o protagonista. Umas passagens pareciam ser ininteligíveis numa primeira leitura, outras apresentavam verdades óbvias demais. Romance denso ou ensaio filosófico pueril?
Certamente gostaria de mais história, considerando o gênero textual. E por isso também não posso deixar de me apegar ao personagem mudo, o que não representa a voz filosófica que o livro quer divulgar. Esta pessimista, da escola do Existencialismo, que aliás me lembrou algumas obras modernistas que já li ("tenho até dificuldades com o estilo de minhas frases"). Não sei, portanto, se deu pra imaginar por que alguém se disporia do tempo de uma viagem ao estrangeiro para ouvir literalmente um papo de bêbado chato. Eu teria sumido entre os canais de Amsterdam rapidinho.