Otávio - @vendavaldelivros 01/08/2021
“Meu filho, não esqueças o que te vou dizer, tudo quanto interessa a Deus, interessa ao Diabo.”
Humanidade. Tornar deuses mortais, aproximá-los de nossas experiências, de nossas dúvidas e de nossas dores. Viver o que é a humanidade também é divino, no final das contas. A vida humana é tão preciosa que mesmo na história mais conhecida do mundo ocidental, lugar de sacrifício, milagres e divindade, é no aspecto mais humano que encontramos refúgio e identificação. E ampliar a humanidade foi um dos grandes feitos de Saramago nesse livro.
Publicado em 1991, “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” é considerado por muitos um dos livros mais controversos do português José Saramago. Não é à toa. Saramago, com toda sua genialidade, resolveu contar a história mais famosa do ocidente do ponto de vista de seu protagonista e, mais do que isso, mostrá-lo como o era: Um ser humano.
Ainda que o nome do livro indique um evangelho segundo Jesus, a história não é contada em primeira pessoa, mas com um narrador irônico e engraçado, no melhor estilo Saramago. Da concepção com José e Maria (sem uma concepção imaculada), passando pelo nascimento em uma caverna, o relacionamento com os irmãos mais novos, a relação com o pai, a morte trágica de José, até o encontro com Deus, com o diabo, a vida a dois com Maria Madalena, a realização dos milagres e a crucificação, Saramago pinta o cenário de uma Jerusalém do século I preenchida por seres humanos confusos e com medo, gente pobre e sob o jugo do poder romano.
Faltam palavras para descrever o tamanho dessa obra e o impacto que ela me causou, tantas foram as vezes que me peguei falando “caramba, que livro espetacular”. O capítulo que narra o encontro de Jesus, Deus e o Diabo em um barco no mar da Galileia, por exemplo, é, de longe, um dos trechos mais geniais que já li. Filosofia, humor, fé e, principalmente, humanidade, tudo ali, em um diálogo marcante e inesquecível.
Ler Saramago, até hoje, tem sido sempre uma experiência particular e única. Não me surpreendi em absolutamente nada ao encontrar um livro tão especial. É difícil indicar por onde começar a ler o autor, mas se existe uma indicação que gosto de fazer é: Algum dia leia Saramago.
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