gleicepcouto 23/09/2012Faltou Sazón. Passa o sal?http://murmuriospessoais.com/?p=4323
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Tudo Pode Mudar (Arqueiro) é o terceiro livro do escritor norte americano Jonathan Tropper, de um total de seis. Os outros são: Plano B, The Book of Joe, How to Talk to a Widower, This Is Where I Leave You e One Last Thing Before I Go. Três de suas obras tiveram seus direitos vendidos para estúdios, então, em breve, veremos adaptações para a tela grande.
Jonathan nos apresenta Zachary King, em Tudo Pode Mudar. Zack é um cara de 32 anos, bem sucedido: tem um emprego estável, mora num mega apartamento com o melhor amigo (que não quer nada com a vida, mas é milionário) e é noivo de Hope, uma mulher linda, inteligente e rica. Sua vida perfeita começa a mudar de rumo quando vê sangue em sua urina, o que o faz procurar, imediatamente, um médico. Aterrorizado com a possibilidade de ter uma doença mais grave, Zack revê suas escolhas. Será que realmente era feliz?
Seu casamento se aproxima da data, seu pai dá as caras após vinte anos desaparecido, e tudo o que Zack consegue pensar é em Tamara, a víuva de seu (ex)melhor amigo, Rael. Culpado por perceber sentimentos além de amizade por Tamara, Zack vê sua vida estável se transformar numa verdadeira bagunça. Como lidar?
Esse é o primeiro lad-lit que leio. E é interessante como mesmo sendo um “chick-lit masculino”, ele é escrito para mulheres. Zachary é um personagem bacana, bem humorado, mas… Parece uma mulher com pênis. Suas dúvidas, seus pensamentos, seus medos são femininos. É o famoso cara andrógino. Calma, não é que eu ache que não existam homens sensíveis e que usem a massa cefálica de vez em quando. Só acho que, bem, Zack é um exagero.
O protagonista é engraçado? É. (Se bem que seu pai, quando surge na história, atrai todos os holofotes). Tem dilemas coerentes para a idade? Tem. (Se bem que a condição em que ele mora é meio utópica, mas vá lá, é ficção.) Mas acredito que o foco da trama seria tratar das mudanças na vida do protagonista em meio a uma possível morte iminente, com destaque para sua relação de amizade/amor com a ex-mulher do seu melhor amigo, que morreu em um acidente de carro. O autor até consegue dar o devido tratamento à isso, mas… Tamara é sem graça, Zac idem, então os dois juntos é tipo uma comida sem tempero. Falta Sazón. Sinceramente, o mais interessante é a relação de Zack com o pai. Quando o “velho” entra na história, aí sim o livro ganha ritmo e até o amigo milionário, que às vezes é esquecido na história, mostra um motivo concreto de ser um personagem ali e não só mais um pra encher linguiça.
O livro é narrado em primeira pessoa, e Jonathan, nesse quesito, faz seu trabalho direitinho. Não é uma narrativa chata e a cabeça de Zack é interessante. Complexa e ambigua como a de qualquer ser humano. Só que, como disse, feminina. Então por que não trabalhar com uma protagonista? Mistério.
Os personagens tem seus altos e baixos. Alguns começam bem, mas aí se perdem na trama. Outros bons surgem em momentos aleatórios. E ainda tem os que saem do ponto A pro B em um segundo. Às vezes, isso dá certo, às vezes não. Acho que foi um risco que o autor correu (não sei se conscientemente).
Li algumas resenhas, e percebi que o livro foi bem recebido pela crítica e público. Isso me deixou um pouco tensa. Seria eu um ET? Uma pessoa fria que não consegue rir de todas as piadas, nem se encantar pelo romance do livro? Mas sabe que depois desencanei? Percebi que as pessoas gostaram do livro porque Jonathan escreveu algo que a grande maioria gosta de/quer ler: uma história bacaninha, que te arranca alguns sorrisos, com umas doideiras no meio, mas no fundo, no fundo, mais do mesmo. O livro é bom, mas a Gleice de hoje busca mais do que o apenas bom.
Por fim, Tudo Pode Mudar apesar do plot mega clichê, dá pra entreter. O que acho que faltou primordialmente, porém, foi equilíbrio na história. Há personagens ótimos, outros nem tanto. Cenas interessantes, outras que te dão sono. Como já mencionado, Jonathan devia ter usado o Sazón de modo uniforme para a comida toda ter o mesmo gosto. Mas tudo bem, tem quem não se importe em pôr sal na comida depois de pronta. Eu, particularmente, não gosto.