Teco3 02/05/2020
A falta de lógica em existir
Náusea é o primeiro grande romance de Jean Paul Sartre, escrito aos 26 anos e lançado nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, em 1938.
Roquetin, o protagonista, retrata a Náusea como sensação presente nele e em tudo mais que existe. Esta que tanto se fala se trata da contingência do existir, ausência de sentido, a ilógica da coisas, que vem do aleatório e é o próprio abismo.
Sartre usa a discrepância entre Roquetin e o Autoditada, os dois principais personagens, para defender seu ponto de vista. Um era um total existencialista (pessimista?), Já o outro um humanista, que estudava os escritos por ordem alfabética dos nomes dos autores e acreditava que o sentido da vida estava no desenvolvimento humano. A todo momento o segundo era retratado como um idiota ou um ingênuo, como preferirem, que não percebia a inutilidade de seus esforços, a inutilidade do todo e a falta de um sentido prévio. Basicamente, o livro quer lhe dizer que não há caminho, não há salvação, não há nada previamente estabelecido e lógico que leve a um fim já pensando como nas boas narrativas ficcionais que obedecem a um capricho autoral. Inicialmente era pretendido que fosse um tratado de filosofia, mas, graças ao Castor, nome carinhosamente dado por Sartre a sua companheira amorosa, Simone Beauvoir, foi transformado em um romance onde o bandido é a própria vida. As questões editoriais não param por aí, o livro se chamaria Melancolia, mas o editor de Sartre pediu a mudança para Náusea e foi acatado.
O livro, apesar de tratar do mais íntimo do indivíduo, não foge das circunstâncias do seu tempo. O mundo estava a beira da Guerra, com diversos conflitos entre países europeus, acensão de Hitler, Mussoline e Franco, guerras civis e conflitos localizados que dariam origem ao maior massacre da história. Se O Grito de Van Gogh precedeu e mostrou o espírito da época da Primeira grande Guerra, Sartre através do seu indivíduo personagem fez algo semelhante com a Segunda.
5/5