Dudu Menezes 09/01/2021
Narrativa envolvente e discussão de temas importantes sobre as relações familiares
Vi alguém comparando este livro com Senhor das Moscas, do William Golding (livro que considero o mais importante da minha vida), mas não concordo. A premissa de crianças (e/ou adolescentes), ficando sozinhas, e precisando dar conta de estabelecer regras e sobreviver, difere muito entre um cenário e outro.
Neste caso, as quatro crianças - Julie (17 anos) Jack (15 anos), Sue (13 anos) e Tom (6 anos) - pertencem a um mesmo núcleo familiar, foram criadas por pais tradicionais, à época, que não demonstram ter uma relação tão sóbria com seus filhos, o que faz com que eles acabem não sabendo como canalizar, de forma sadia, seus impulsos e desejos, sobretudo, sexuais.
A ausência física, dos pais, ao falecerem, logo no início da trama, só confirma o que se evidencia na relação entre os irmãos. Pai e mãe sempre foram distantes de seus filhos e não foram capazes de enxergá-los como indivíduos, com suas próprias necessidades e interesses. Os "tabus", nas conversas sobre sexualidade e gênero contribuem para que o desenvolvimento deles seja bastante prejudicado.
A escrita do autor é muito boa e prende mesmo o leitor. Li em praticamente um dia porque fiquei realmente interessado em saber o que iria acontecer com esses irmãos, após se defrontarem com essa experiência: uma vida sem regras, limites e responsabilidades.
Certamente lerei outros livros do Ian Mcewan. Para quem é fã de Stephen King, tem um trecho do livro que lembra muito a descrição feita em um dos contos do livro Escuridão Total Sem Estrelas. Outros trechos, na relação entre os irmãos mais velhos, me fizeram recordar de Lavoura Arcaica, do Raduan Nassar.
Quero destacar, para quem nunca leu nada do Mcewan (como era o meu caso), que a escrita dele é realmente envolvente e me surpreendeu muito positivamente!
Recomendo a leitura!