Aione 05/11/2016Sleeping arrangements foi o último livro que Madeleine Wickham publicou com seu nome, antes de assumir o pseudônimo Sophie Kinsella, adotado a partir do lançamento de Os delírios de consumo de Becky Bloom. No Brasil, foi o primeiro livro assinado pelo verdadeiro nome da autora que a editora Record publicou, traduzido para Quem vai dormir com quem.
Nele, temos a história de duas famílias que acabam se conhecendo ao serem convidadas a dividir uma casa na Espanha por uma semana durante as férias, já que o anfitrião aparentemente se confundiu ao convidar ambas para a mesma semana. No entanto, aos poucos, o erro parece ter sido intencional, já que dois dos convidados – Chloe e Hugh – foram namorados no passado, antes de terem construído suas atuais famílias.
Assim como os demais livros de Madeleine Wickham, Quem vai dormir com quem é narrado em terceira pessoa (diferentemente das obras assinadas por Kinsella), de acordo com as perspectivas das diferentes personagens presentes na trama. Ainda que haja essa alternância e o distanciamento característico da terceira pessoa, a narrativa é muito próxima de cada personagem, de forma a termos seus pensamentos e emoções trazidos até nós, dando uma maior sensação de proximidade – o que permite, também, maior compreensão de seus conflitos internos e atitudes.
Já havia visto muitas críticas negativas a esse livro, principalmente porque foi o primeiro de Madeleine lido pelos fãs de Sophie, e há inúmeras diferenças nos estilos das “duas” autoras, o que pode gerar frustrações quando se espera encontrar o mesmo tipo de história e escrita (isso aconteceu comigo quando li Louca para casar, minha primeira leitura de Wickham). Porém, por já estar ciente de seu estilo, pude aproveitar Quem vai dormir com quem em sua essência, sem expectativas divergentes a sua realidade. Assim, amei a leitura e me envolvi com ela desde as primeiras páginas.
Como nos demais livros de Madeleine, Quem vai dormir com quem traz temáticas mais amadurecidas, tanto por seu conteúdo quanto pela maneira de serem trabalhadas. As personagens vivem situações complexas, no sentido de seus conflitos internos afetarem diretamente seus relacionamentos a ponto de haver as diferenciações entre o eu, o outro e o nós. Também, elas se vêem questionando suas muitas escolhas de vida e as consequências de cada uma delas, o que gera ainda mais reflexões a elas e a nós. Contudo, tudo isso é trazido com a hábil leveza da escritora por trás das duas autoras, permitindo uma leitura rápida e envolvente, com momentos que variam de mais bem humorados a outros mais permeados de emoções, sem que haja exagero em nenhum deles: o livro é sutil, não podendo ser considerado nem como muito engraçado nem como muito tocante.
De modo geral, Quem vai dormir com quem me proporcionou horas deliciosas e envolventes de uma leitura leve e bem humorada, mas contendo também seus momentos mais reflexivos. Compreendi as personagens, mesmo tendo me deparado com situações que, normalmente, são difíceis de me agradar, e gostei de como a história foi desenvolvida, principalmente pelas questões terem sido trabalhadas com sensibilidade e sutileza. Não espere da obra o conteúdo das assinadas por Sophie Kinsella e aproveite o que Madeleine Wickham também tem a oferecer.
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