Artur.Sergio 24/01/2023
A montanha mágica ou da desconstrução do tempo
Jamais em toda a minha curta vida de leitor havia eu permanecido por tanto tempo em uma leitura. Meu casamento com essa obra densa durou seus longínquos sete meses.
Acredito que por desconhecer a estilística de Mann e pela sua forma descritiva de escrita, e a espessura do livro, eu tenha acabado por alimentar todo esse tempo de leitura.
A montanha mágica é uma obra que mudou e estimulou minha relação com a literatura. Primeiro, na maneira descritiva de tudo aquilo que nos parece quase insignificante, no entanto se visto por outros olhos recebe uma camada encantadora, uma cobertura imagética e literariamente bela. Ou seja, pode-se escrever sobre tudo, mas o beleza está nas mãos de quem cria e nos olhos de quem aprecia.
Outra lição aprendida é a sensatez de que o tempo literário, ou da leitura, não deve ser rígido; isto é, respeite o tempo da arte, do prazer e preocupe-se em saborear, mesmo que por pequenos pedaços, o que está a seu dispor. Entregar-se à leitura é mais importante do que o tempo que ela leva.
A montanha mágica é ousado na sua narrativa ? o seu ponto alto, a meu ver. O capítulo intitulado "Passeio pela praia", por exemplo, é, nesse sentido, o mais audacioso dentre todos. A metalinguagem é levada à experimentação.
Não considero esta uma leitura fácil ou convidativa para um primeiro contato com a obra de Thomas Mann, mas, como também fiz, lançar-se a partir dela não é um problema. A literatura não deve pôr medo em nenhum leitor que se preze.
É certo que farei uma releitura, daqui a sete anos, quem sabe, e espero ter uma experiência e um olhar ainda mais sólido e detido para as incontáveis belas nuances deste livro. Lê-lo é postergar o tempo ? não no sentido vulgar, como um Hans Castorp da vida, como um pensionista do Berghof ?, ao modo de um testemunho de um caótico século.