Felipe - @livrografando 06/10/2015
Cidade de Deus soa como um dos livros mais realistas de todos os tempos, no sentido de que ele mostra como é o cotidiano de quem vive na criminalidade. Sem poupar detalhes sórdidos e com linguagem crua e direta, esse livro talvez possa ser um dos maiores da literatura policial brasileira. Mas enfim vamos a crítica em si.
O livro nasceu de uma pesquisa sobre criminalidade entre os anos 60 e 90 e como esta se acentuou a partir dos anos 90. O título faz menção à favela a qual foi escolhida para a pesquisa, no entanto é um título que soa ironia (quem não souber dessa rápida informação).
Uma história que envolva criminalidade em seu torno geralmente os personagens não vivem por muito tempo, muitos não tem finais felizes. Por isso o livro soa até repetitivo, onde a história começa do mesma maneira e termina da mesma maneira (o personagem vira bandido e morre executado ou então é preso). Quem lê Cidade de Deus parece que está vendo um filme de ação. Nunca vou me esquecer de Miúdo, o qual o autor sempre descrevia sua risada como fina, estridente e rápida. Esse talvez seja o traço mais marcante de toda a narrativa.
O enredo trata de temas recorrentes à favela como violência, sexo e drogas. Tem um personagem que eu não me lembro qual que se converte, o que gera a ideia de que a religião salva, dentro da narrativa. A história, em suma, é meio sofrível porque o autor passa de núcleo para núcleo como se fosse uma novela de tv, o que não pode ocorrer dentro de uma narrativa tão sucinta, isto é, existem personagens muito desnecessários.
A estrutura da narrativa também peca, pois o autor cria histórias como de Busca-Pé e Barbantinho, com os quais começa a história, e ao longo da leitura não consegui identificar a função dos dois personagens na trama, além de histórias como de Ari, o irmão gay de Inferninho, que só piorou o clima do livro. No entanto, o autor é brilhante em sua descrição de cenas violentas, o que dá um ar de realidade às passagens, e o autor consegue fazer isso como ninguém.
Por fim a temática que soou muito bem ao fundo tenso e pesado da narrativa, sempre com brigas, crimes, tiros, rivalidades entre facções, enfim, todos esses temas ele conseguiu abordar, apesar da trama em si ser sofrível e ruim de desenvolvimento.
Apesar de todos os pormenores, uma coisa também me chamou atenção no livro: o clima histórico, a exemplo da questão da música e dos jeitos de vestir.
Recomendo esse livro para quem tem realmente interesse nessa área ou goste da temática da violência pesada.
Nota: 2,8