douglaseralldo 08/09/2018
SENTA O DEDO: 10 CONSIDERAÇÕES SOBRE CIDADE DE DEUS, DE PAULO LINS
1 - Baseado em histórias reais e parte do material utilizado extraído de entrevistas feitas para o projeto "crime e criminalidade nas classes populares", Cidade de Deus de Paulo Lins deveria ser leitura obrigatória no ensino médio brasileiro, em nossas universidades, por sua atroz, bruta e realista perspectiva de uma realidade alarmante do país, numa obra que sem dúvida alguma deve estar entre as mais importantes e relevantes da literatura recente do país, um clássico contemporâneo e amargo de uma nação que existe em paralelo ao Estado, um ambiente em que a existência dá-se ainda pelas regras primitivas da humanidade e abandonada pelo restante de uma sociedade que desconhece o inferno da existência marginal e marginalizada;
2 - Obviamente, é bem possível que quando falemos de Cidade de Deus pensemos imediatamente em sua adaptação para o cinema que rendeu-lhe quatro indicações ao Oscar e até hoje é provavelmente um dos principais títulos da sétima arte no país. A linguagem da violência e da degradação social é retratada no filme com bastante fidelidade, todavia em sua obra original isto está ainda mais tenso e palpável e nos coloca diante duma realidade impensável mas real àqueles que vivem às margens da sociedade onde imperam as leis dos mais fortes, dos brutos, da violência, com isso construindo um retrato de uma sociedade agonizantes cujo um de seus estratos encontra-se abandonado a própria sorte e cuja sobrevivência é mero acaso visto que a morte espreita a cada esquina;
3 - Para tanto, Paulo Lins estrutura sua narrativa em três partes distintas a acompanhar a vida e morte de três bandidos que servem como construção biográfica do espaço geográfico e social de Cidade de Deus, perpassando assim por duas décadas do nascimento da comunidade ao auge dos conflitos que levam terror, medo e morte a suas vielas. Assim, imersos nas vidas de Inferninho, Pardalzinho e Zé Miúdo observamos pela perspectiva do marginal e marginalizado, uma existência frenética, intensa e sem qualquer descanso pois não se é permitido a ninguém viver, tão somente sobreviver aos segundos, minutos e dias, sabendo contudo que a expectativa de viver não é longa;
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