spoiler visualizarivy do kaiser 17/05/2023
Eça de Queirós foi perspicaz ao retratar a hipocrisia e decadência dos valores morais da sociedade portugues, com um tom irônico e linguagem coloquial. Porém, em determinados trechos, a particularidade do narrador onisciente dificulta a compreensão da obra, acentuando a marca da informalidade.
Além disso, os atos de "blasfêmia" cometidos por Amélia e Amaro recortam não as personagens, mas uma classe tida como santificada e moral: o clero. Assim, utilizando-se de personagens alegóricas, Eça, ao abordar assuntos como quebra de celibato, aborto e adultério, desmistifica tal imagem do estrato social.
Vale pontuar, ainda, a presença implícita da predestinação e da hereditariedade na formação característica dos protagonistas. Amaro, por ter sido criado entre mulheres, sendo até vestido como uma, apresentou, desde a infância, uma inclinação ao sexo feminino. Amélia, como cresceu no meio de padres, era de se esperar que tivesse interesse por um. Ademais, por sua mãe ter desenvolvido um caso com o cônego Dias, Eça plantou a ideia de "transmissão" família, baseada nas ideias de Darwin e Lamarck. Sendo sua mãe uma adúltera que dorme com o pároco, Amélia haveria de ser igual.