Lucas.Oliveira 03/04/2019
Fast food humano!
O término da leitura vem com um misto de sentimentos. Alegria por ter terminado e me identificado com muitas coisas e ao mesmo tempo a tristeza por não o ter lido antes.
É muito verdadeiro as considerações que o padre faz sobre a diferença dos desejos e prazeres.
“O desejo é mais profundo que o prazer. Ele precisa de tempo para ser despertado e vivido. O prazer não. É produto rápido. É igual carboidrato de absorção rápida, que não leva tempo para ser assimilado pelo organismo. Desejo é alimento integral, demora para fazer digestão, e por isso alimenta por mais tempo. ”
Essa citação me leva a observar o que tem ocorrido no mundo e nas relações humanas, o quanto o ser humano tem se degradado em busca do prazer, apenas prazer. Não existe mais a filosofia do “consertar”, hoje em dia é mais fácil trocar, substituir. É tudo tão mais fácil, desde a troca de eletrodomésticos quanto a substituições de pessoas. Em nossa geração, quantos poderão dizer a frase: – sou casado há 20 anos. Ou: essa amizade dura desde a mais tenra infância. Levando em consideração que a paixão dura em torno de dois anos (comprovado cientificamente), esse é o tempo que saberemos se uma relação evoluirá para o amor ou morrerá quando a paixão se for.
Fica claro que muitas pessoas se deixam levar pela paixão, apenas pela paixão desenfreada e quando a mesma acaba, todo o encanto se esvai, todo o encanto se perde, e ai, é chegada a hora de substituir. A impressão que eu tenho é que é cada vez mais difícil de fato, conhecer o outro, ser vulnerável... Isso porque, só é possível de fato conhecer ao outro, entender e aceitar o outro em estado vulnerável quando se tem amor. Quantos de nós tem a dadiva de se sentir genuinamente amados?
“O grande equívoco dos nossos dias é estabelecer as relações humanas a partir das substituições. Queremos que o outro seja a concretização humana de nossas idealizações. Hoje nos satisfaz e amanhã não mais. Trocamos. Tentamos de novo. Voltamos a trocar. As paixões são avassaladoras, mas os desencantos também. E assim vamos colecionando relações e os seus consequentes estragos. ”
“O que podemos identificar nessas paixões é que as pessoas não são focos de desejo, mas se limitam a serem focos de prazer. O prazer é passageiro, mas o desejo não. Quando o outro cumpre o papel de ser o objeto do meu prazer, eu o reduzo à condição de coisa. Essa "objetificação" já se caracteriza como sequestro. Há uma subjetividade sendo desconsiderada, uma vez que o outro foi reduzido à matéria de minha satisfação temporária. ”
É o tempo do fast food humano...
Nada pode nos privar do prazer imediato. Sacrifícios não serão bem-vindos nos nossos tempos. As pessoas se esmeram por buscar os atalhos, porque não há disposição para trilhar a estrada mais longa, ainda que ela seja repleta de belezas e surpresas.
O prazer é mais raso, transitório, e por isso é tão pouco realizador.
Outro ponto interessante é sobre buscarmos no outro aquilo que nos falta. Há sempre o risco de querermos fazer o outro ser a medida de nosso desejo. Por uma insatisfação pessoal, projetamos no outro uma perfeição que gostaríamos de encontrar em nós mesmos.
No momento em que identificamos essa inadequação, no instante em que percebemos que o outro não é perfeito, desfaz-se o encanto.
“A Cinderela volta a ser gata borralheira, o príncipe volta a ser sapo, e o que antes dizíamos ser experiência de amor eterno transforma-se em amor que valeu enquanto durou.”
Ainda sobre o prazer e desejo, a diferença entre os dois se mostra claro a partir do momento em que percebemos que o prazer é poço sem fundo. É vicio. É criado uma dependência que nos faz procurar por ele o tempo todo. Já o desejo, ah, o desejo, é totalmente oposto. O desejo nos faz querer ficar, permanecer, lutar e de quebra ainda acalma. Calma que nos faz querer permanecer... Temos a segurança, sabemos onde encontrar. “É alimento integral, enquanto o prazer é alimento refinado.”
O que me levar a crer que a paixão é movimentada pelo prazer, já o amor, se alimenta do desejo. É a chaleira que começa morna e com o tempo vai aquecendo e se mantem aquecida.
“ Paixão só aprendeu a ficar por pouco tempo. O amor gosta é de permanecer a vida inteira. ”
Amar é o exercício de descobrir o que o outro tem de mais lindo, mas também de mais vergonhoso. Amores perfeitos só existem nas projeções. Ou seja, idealizar é um dos maiores erros que se pode cometer em qualquer tipo de relacionamento.
Para finalizar, concluo da seguinte maneira:
Um dos segredos para ser feliz é sabermos valorizar quem gosta da gente de verdade, estar junto sempre, estar com quem estará ali sempre com você, conversar com quem quer seu bem. Não substituir pessoas por momentos aleatórios, e principalmente por pessoas aleatórias. Digo isso, porque no fundo, os de verdade a gente sempre sabe quem são (ou deveríamos saber), e as vezes, cometemos o erro de não contarmos com essas pessoas (erro não, burrice).