JAeh.Pereira 24/03/2024
INCRÍVEL!!!
Serendipidade: esta palavra aparece no romance "um defeito de cor" de Ana Maria Gonçalves. Essa palavra incrível diz respeito ao fenômeno de encontrar coisas pelo caminho por mero acaso. Rubem Alves disse que tudo que deu certo na vida dele foi porque o planejado deu errado, ou seja, os caminhos desenhados vão nos levando para uma trilha desconhecida (em muitos dos casos, positiva).
Em relação à história, a personagem principal, Kehinde, é uma africana que veio ao Brasil em busca do seu filho perdido. Aliás, a personagem é baseada em Luisa Mahin, suposta mãe de Luis Gama, o qual foi responsável por libertar vários escravizados.
O mais interessante deste livro é a abordagem de várias divindades. Em grande parte da história, a narradora-personagem enaltece a dona do seu ori, Dandalunda, que é nkisi (inquice) de candomblé de nação Angola (às vezes, ela menciona Oxum, a qual é simétrica no candomblé de nação Ketu, apesar da peculiaridades de ambas).
É legal pontuar que Kehinde era uma àbikú, termo utilizado para crianças que nasceram, mas que possuem uma data limite para viver. Em outras palavras, crianças que morrem cedo.
A liamba, a maconha, aparece no romance. Em determinado momento, a protagonista menciona o momento que a planta foi traduzida para o Brasil, bem como pontua o significado cultural desse elemento de revigoramento e de diversão.
Há diversos momentos de ojeriza, de pavor e de raiva. Não consigo esquecer do momento em que o namorado de Kehinde é torturado. Lembro que, quando li, por causa da excelente descrição, comecei a me sentir mal.
A ancestralidade da protagonista e dos seus familiares é trabalhada nesse romance de quase mil páginas.
Recentemente, no carnaval, o livro foi usado como tema por uma escola de samba. Com isso, o livro ficou ainda mais conhecido.
Lerei mais vezes: este livro é um dos meus favoritos desde a leitura dele.