Caroline Gurgel 10/10/2013Ah, Nástienka, se te encontro pela rua, te mato...Novela publicada em 1848, Noites Brancas é considerada a maior aproximação de Dostoievski com o romantismo. Escrito em primeira pessoa por um personagem sem nome que sofre de uma solidão profunda, esse livro é tão singelo que passamos as páginas com delicadeza para não machucá-las.
A estória se passa em São Petersburgo, em noites brancas - no verão, durante alguns dias, o sol não chega a se pôr completamente, deixando as noites quase tão claras quanto o dia, as noites brancas. O narrador é um solitário sonhador que, vagando pela rua, se depara com uma moça chorando, a segue e por ela se encanta. Nástienka é uma ingênua menina que vive atada à saia da avó, que é cega, por um alfinete para que não fuja de casa e espera, apaixonada, pelo retorno prometido de seu amor.
Na primeira noite, Nástienka pede ao narrador que por ela não se apaixone. Na segunda, ele lhe conta sua história de isolamento, em um discurso tão elevado que Nástienka se maravilha, mas pede que fale de modo mais simples, pois não saberá falar à altura. Em outra noite, ela é quem lhe conta de sua vida, de sua espera e de seu amor que já deveria ter retornado. Sobre a última noite não lhes digo nada, para não tirar a surpresa, mas conto que entre esses dias, o narrador vai ajudar a moça por quem se apaixonou a reencontrar seu prometido, mesmo que aquilo lhe doa no peito, mesmo que não vá ter nunca o amor de Nástienka para ele.
É uma singela, pura e bonita história de amor, de desprendimento, de amar sem ser amado, de ser amado sem amar. É um amor genuíno, delicado, puro e, eu poderia dizer, sutil, mas não, não é sutil. É forte e extrapola, mesmo que apenas dentro do coração do solitário sonhador, que guarda para si o sentimento por temer que sua libertação afaste sua amada.
Leitura mais que recomendada, rápida e, vou ter que repetir,
singela. Um deleite!