Dôra, Doralina

Dôra, Doralina Rachel de Queiroz




Resenhas - Dôra, Doralina


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Ladyce 08/01/2022

Ao terminar Dôra, Doralina, de Rachel de Queiroz, eu me pergunto o motivo dela não ser mencionada entre os grandes da literatura brasileira, no mesmo altar de Machado, Graciliano e Guimarães Rosa, Clarice. Dela li três livros: O Quinze, Memorial de Maria Moura e agora, este, publicado em 1975. Rachel de Queiroz não deixa a desejar quando comparada com os grandes nomes da nossa literatura. E não listá-la entre os maiores é injustiça e um desserviço à tão maltratada cultura brasileira.

Dôra, Doralina conta mais do que a história de vida de Maria das Dores, mulher herdeira de uma fazenda no interior do Ceará, completamente dominada pela mãe, a quem chamava Senhora e que depois de viúva, foge deste lugar, encontra abrigo emocional como membro de um grupo de teatro mambembe, com eles viaja ao Rio de Janeiro, no período da ditadura Vargas e da Segunda Guerra Mundial.

Na capital do país amasia-se com um comandante que conheceu na viagem pelo Rio São Francisco a caminho do sul. Com ele, perdidamente apaixonada, vive em altos e baixos, tensa com gênio violento do companheiro e por seus ciúmes. Eventualmente se vê envolvida, a contragosto, na contravenção. Mas o flerte com a vida de segredos e transgressões não lhe era desconhecido, já deixara os rincões cearenses com tralha semelhante.

Narrativa rica em assuntos controversos, que cobre com vocabulário exemplar e de fácil compreensão, relata não só a descoberta do amor para Dôra, como também, por causa de suas limitadas experiências fora do local onde nasceu, seu próprio acordar para o mundo e para si mesma. E conselhos não lhe servem para nada, como diz: “Gente nova não adivinha nem quer adivinhar certas coisas; e mesmo quando tem um aviso, dez avisos, não acredita.”

Central na trama estão as relações familiares, e a ausência delas; amizades e a complexidade das emoções humanas. Há traição, abuso, arrogância, ciúmes pontuados esparsamente por lealdade e honestidade. É uma obra de realismo físico e emocional, refinada pela palavra certa, ritmo preciso e relato direto, sem bordados.

Recomendo a leitura. A obra de Rachel de Queiroz, a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de letras, deve fazer parte da lista de leitura de qualquer brasileiro curioso sobre a rica herança literária do país. Nota 10.
Maria Faria 09/01/2022minha estante
Rachel é maravilhosa, mas percebo seu apagamento. Acredito que são dois os motivos: o primeiro, por ela ser mulher. O segundo por ter apoiado a tomada do poder na ditadura de 1964. Por mais que ela tenha explicado posteriormente que desembarcou da ideia após perceber que havia se tornado uma ditadura, esse tema é sempre usado para colocá-la no esquecimento.


Ladyce 09/01/2022minha estante
Só a obra deveria importar. Pertenço a um grupo de cinema de um centro cultural judaico, aberto a todosm eu por exemplo, não sou judia. Lá acabamos de conversar sobre a obra Melancolia em comparação com o filme Não olhe para cima. Tudo normal, Contei a uma amiga isso, e ela me disse que não veria um filme do Lars von Trier porque ele fez comentários anti-semíticos. Lá no Midrash, ninguém, absolutamente ninguém falou sobre isso, foi a obra que foi comparada. Não é justo que a opinião de alguém apague para sempre o trabalho do criador. É o mesmo que dizer não posso apreciar uma obra de Picasso, porque ele era chauvinista. Não faz sentido. Cada um vive o seu tempo, como o percebe. Rachel de Queiroz também foi membro no início da carreira do Partido Comunista, que sempre apoia ditaduras. Nunca foi punida por isso, mesmo tendo saído do partido. Enfim, perdemos nós.


Maria Faria 09/01/2022minha estante
Concordo totalmente, Ladyce! E acrescento que percebo certas hipocrisias na sociedade em decidir qual erro do passado é tolerado ou não. Acredito que não existem pessoas perfeitas e que cancelar o autor por suas escolhas, perdemos nós. Na sociedade superficial que vivemos, observe que o apagamento também é seletivo e hipócrita.


Ladyce 09/01/2022minha estante
É isso. Obrigada pelos comentários.


Ladyce 09/01/2022minha estante
Agora vou procurar "os podres" de alguns outros autores que deram sumiço... vou ver o que acho. Beijinhos.


Maria Fernanda 21/07/2022minha estante
Talvez essa falta de menção se deva ao regionalismo, porque eu sou paraibana e aprendi sobre Rachel de Queiroz na escola junto de todos esses outros autores que você citou. Tenho irmãs mais novas e sempre vejo seus professores de português e de literatura passando trabalhos sobre ela, além de ser conteúdo de prova. Pra gente daqui, Rachel sempre é colocada entre os grandes.


Erick233 20/10/2023minha estante
Amo as obras de Rachel de Queiróz. Considero "O Quinze", o melhor dentre eles. Mas, do ponto de vista técnico, Machado de Assis ainda é insuperável. Depois dele, colocaria José de Alencar, e depois, Lima Barreto e Aluísio Azevedo, que na minha opinião, estes últimos, são dificeis classificar qual são melhores. Não é por serem homens, mas pela qualidade da escrita e a inteligencia da trama, que me parecem muito acima da média nacional.




Natália 14/03/2024

Um livro incrível
Finalizei a leitura de "Dôra, Doralina", o meu primeiro contato com a escrita de Rachel de Queiroz e a experiência não poderia ter sido melhor. Gostei muito e recomendo a leitura. Adorei a protagonista Dôra.

Resenha:
"Dôra, Doralina" é um romance escrito pela brasileira Rachel de Queiroz. Publicado em 1975, esse livro narra a história de Maria das Dores, conhecida por todos como Dôra, uma nordestina criada em uma fazenda, a Fazenda Soledade, no sertão do Ceará. Órfã de pai desde a infância, Dôra foi criada por sua mãe, Senhora, uma mulher controladora. Dôra casou-se com Laurindo, um primo distante, e viveram um casamento de conveniência. Viúva, Dôra resolve declarar sua independência, sair da sombra da mãe e viajar para a capital, Fortaleza. Em Fortaleza, Dôra passa a morar na pensão de Dona Loura, uma parente. Nessa pensão, Dôra conhece o Sr Brandini e sua esposa, Estrela, atores e diretores de uma Companhia de Teatro Mambembe. Dôra se encanta com o universo dos atores e aceita a proposta de Sr Brandini de ingressar como atriz da Companhia, viajando pelo país representando papéis teatrais. Um dia, conhece o Comandante, por quem irá nutrir um verdadeiro amor.

"Dôra, Doralina" traz uma protagonista forte e bem construída. É uma história interessante, que mostra a emancipação feminina através da protagonista, que sai da submissão em busca de seu próprio caminho, de poder ser o que ela quiser.
Apesar da busca pelo próprio caminho, Dôra ama um homem e aceita o homem amado do jeito que ele é: violento quando bebe, machista, ciumento, contraventor... Mas a autora deixa muito claro que Dôra não é cega, não romantiza essa relação, ela sabe exatamente como ele é.
@juliosanttana 14/03/2024minha estante
A escrita dela é impecável ! Li um dos livros dela semana passada e amei !


Natália 14/03/2024minha estante
@juliosanttana ela é maravilhosa. Quero ler outros dela. Qual você leu?


@juliosanttana 14/03/2024minha estante
Eu li ?O quinze? foi meu primeiro contato com a escrita dela e foi maravilhoso? Super indico, primeiro livro que ela lançou.


Natália 14/03/2024minha estante
@juliosantana Quero ler O Quinze e Memorial de Maria Moura




bih 01/10/2022

belíssimo
isto aqui não pode ser um livro qualquer. Devo confessar que me partiu o coração ver dora tão entregue ao comandante, em uma paixão que a faz esquecer de si, mas mesmo assim acompanhei sua trajetória com um carinho tão avassalador que me fazia em lágrimas. Desde o começo da leitura já o estava tendo como uma das obras que se tornariam uma das minhas preferidas.
E devo confessar que a parte do comandante torna-se meio parada e monótona mas logo depois volta a seu fluxo natural.
uma leitura que te faz sentir na pele a paixão. na arte no amor na vida
Katia Rodrigues 01/10/2022minha estante
Fiquei com vontade de reler... Faz tantos anos q li, não lembro quase nada ? ficou apenas a lembrança de uma boa leitura.


bih 02/10/2022minha estante
siim katia, desde as primeiras páginas já sabia que ia se tornar um querido, e a dor de deixar o livro? fiquei até chateada kkkj Acho que uma reeleitura valeria a pena hein




Daniel 06/06/2016

Dôra, Doralina
Resenha no link abaixo!

site: http://blogliteraturaeeu.blogspot.com.br/2016/01/dora-doralina-de-rachel-de-queiroz.html


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Margô 11/06/2023minha estante
Vim contemplar os seus comentários, são sempre críticos e autênticos...??




escrivadocaos 01/10/2022

"Doer, dói sempre. Só não dói depois de morto, porque a vida toda é um doer"
Este livro era tudo que eu precisava ler no momento e mais um pouco. Dôra nos abre espaço para acompanhar sua vida desde de um inicio complicado nas terras da fazenda onde sua mãe reina, até o término de um ciclo, depois de tantas voltas pelo Brasil.

Cansada da tirania de sua mãe, Dôra, em terras sertanejas se vê casada e apaziguada pela monotonia da vida. Fofocas vem e vão em um cenário que mesmo incômodo em alguns aspectos é cheio da sensação de tranquilidade e pertencimento. Mas, essa vida plácida tem data de validade e uma revelação MUITO CHOCANTE (sim, se arrepiar os pelos da nuca) muda o curso da história, e lá se vai nossa Maria das Dores junto com uma companhia de teatro, abandonando tudo inclusive suas heranças, para viver itinerante, nômade pelo país.

E quantas aventuras por este país? Este mundão de Deus? Tantas e tantas voltas, tantos caminhos tomados, para regressar a casa muitos e muitos anos depois, com o coração vazio e despedaçado.

Esse livro é espetacular não somente pelas reviravoltas mas, pelas incríveis reflexões que Rachel lança entre os percursos da história. Aqui vivemos o luto de várias formas. Não da morte morrida do ser humano, como também de sonhos, inocências e de corações que perdem a doçura.

Há uma sobriedade extremamente necessária sobre o que é a vida após se perder tudo, e ter que começar do zero. A sem gracisse dolorosa que é se reerguer e toda a força extraordinária que é necessária para isso.
Gleison Marques 01/10/2022minha estante
Eu já tinha interesse nesse livro e essa resenha me ganhou! Perfeita ?




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DIRCE 26/06/2014

A “má” filha a casa volta.
Dôra Doralina é o terceiro romance de Raquel de Queiroz que leio , leituras que serviram para corroborar uma “tese” minha: grandes escritores(as) sempre constroem seus romances de forma que eles sejam mais do que mera distração – suas narrativas são permeadas de ficção e realidade.
Uma temática recorrente nos romances da Raquel de Queiróz é a LIBERDADE, a necessidade das mulheres de 20,30 e 40 que se sentiam vítimas da sociedade patriarcal, se verem livres da opressão, e essa temática também se faz presente no romance Dora Doralina.
Por meio dos três livros que compões o romance - I Senhora, II Companhia e III Comandante-, acompanhamos a trajetória traçada por Dora ou Maria das Dores,a jovem que traz a dor imbuída em seu nome , em busca da sua identidade.
No livro I (Senhora) Dora, que é a narradora dos 3 livros, por meio do fio condutor da sua memória, narra a relação conflituosa com sua mãe – a Senhora -, o seu ressentimento diante da sua frieza e distanciamento e a dor que tomou conta do seu peito diante da esmagadora traição da Senhora e Laurindo. A viuvez e traição foram a gota d’água. Nada mais a prendia a Fazenda Soledade. Dora sente a necessidade de deixar para traz suas lembranças, inclusive as da sua infância, e o presente que lhe era tão doloroso. Ela sente a necessidade de buscar uma nova vida.
Em sua busca, Dora vai parar na Companhia de Teatro- livro II -, ocasião em que conhece Estrela e o Seu Brandini, pessoas com a quais ela cria um forte vínculo de amizade e que, a despeito da sua timidez e falta de talento, a transformam em uma atriz do teatro mambembe. Tentando romper definitivamente com seu passado, ela assume uma nova identidade – se torna na atriz Nely Sorel. De bilheteria em bilheteria Dora vai realizando seu sonho – o sonho de liberdade, até que, ao se dirigirem ao Rio de Janeiro por meio da travessia do velho Xico (o Rio São Francisco) ela conhece o Comandante e se torna prisioneira de um grande amor.
No Rio de Janeiro Dora se vê obrigada a escolher entre o amor e a profissão. Sem grande conflito ela escolhe o amor, afinal se tornar uma atriz não estava nos seus planos. E é no livro III ( Comandante) que ela narra sua permanência no Rio e a convivência com o Comandante. O curioso nessa relação é que Dora, uma jovem tão rebelde, se transformou em uma mulher submissa, mas foi uma relação que serviu para fortalecê-la.
Observa-se no romance citações de acontecimentos históricos no Brasil como a Coluna Prestes e a II Guerra Mundial. Observa-se ainda a discrepância entre a vida urbana e a rural e a força da sociedade patriarcal, embora no romance essa força tenha sido representada inicialmente pela figura da Senhora, e no final pela figura da nova Senhora : Dora- a mulher que retorna ao seu ponto de partida atendendo ao apelo das suas raízes, pois afinal, Soledade era sua referencia para um recomeço, o que ratifica o ditado: o bom filho, ou melhor, a “má” filha a casa volta.
Dora Doralina seria merecedor de 5 estrelas não fosse eu ter me sentido um pouco entediada no livro II – Companhia, e por esse motivo dou 4 estrelas.

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daiane 12/06/2015

o livro conta a historia de dora, uma menina que e criada só pela sua mãe pois o pai morreu quando ela ainda era pequena, mas a mãe dela era uma mulher que não gostava da menina ela era uma mulher dominadora e que sempre tratava a filha com indiferença sem amor dora e uma menina que mora com a mãe mas ela parece mas uma hospede do que filha dela ela não dividia nada com a filha nunca falava do pai dela , tanto dora como a mãe dela era dona da fazenda por isso que a mãe nunca deixava ela fazer o que queria pois sempre ficava ameaçado a filha de fica com toda a fazenda, aos vinte ano de idade dora nunca tinha namorado pois ninguém da cidade queria ela por ser uma menina não muito bonita, então Laurindo interessado na riqueza da menina resolve casar se com ela pois ele era um homem ambicioso mas ela só resolveu casar se com ele para mostra a mãe que tinha alguém interessado nela mas alem de casar com dora Laurindo ainda tinha um relacionamento com a mãe dela, mas dora sabia que aquele casamento feria uma decepção para ela pois estava se casando sem amor , alguns meses depois dora engravida mas perde, ela agora era uma mulher que queria a sua independência então entrar no teatro pois o teatro era um lugar de liberdade e aprendizagem se torna atriz, como ela ia para o teatro sempre conheceu um comandante que logo se apaixonou por ele mas o homem era machista e violento, então ela deixou o teatro para satisfazer a vontade do novo companheiro, agora ele tinha que escolher entre o novo companheiro ou a fazenda então ela deixou o amor da vida dela para assumir o lugar que sempre lhe pertenceu a fazenda e passou a ter passando assim a posição que a mãe tinha na fazenda
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neia 17/09/2017

Lembranças
Muito bom, primeiro livro que leio da Raquel e se tornou uma das preferidas!!!
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Núbia Esther 30/07/2018

Esta é mais uma daquelas leituras que foram fomentadas por um desafio literário, no caso o Desafio Lendo Mais Mulheres 2018. Nele há a categoria ler um livro de uma autora sul-americana e eu não pude deixar passar a oportunidade de colocar o único livro da Rachel de Queiroz que tenho na minha estante. Não é que eu nunca tenha ouvido falar da Rachel de Queiroz, mas ela não fulgurava entre os autores que li no ensino médio. Não comecei pelo O Quinze nem Memorial de Maria Moura (duas de suas obras mais emblemáticas), mas Dôra, Doralina cumpriu seu papel de me apresentar uma escritora de narrativa afiada, muito ligada às suas raízes nordestinas e sempre preocupada com a situação política do país.

Dôra, Doralina foi publicado originalmente em 1975 e traz a história de uma protagonista que vive em uma fazenda no agreste nordestino sob o jugo da mãe, passando por seu grito de liberdade, seu envolvimento com uma trupe de teatro mambembe, seu desembarque no Rio de Janeiro em tempos de guerra e a descoberta do amor. Apesar de não acompanharmos Dôra desde sua infância, este é essencialmente um romance de formação e para refletir as diferentes fases pelas quais Dôra transita, Rachel estruturou a obra em três livros.

O primeiro é O Livro da Senhora. Nele encontramos Maria das Dores, a Dôra, na Fazenda Soledade, na qual ela mora sob o domínio da mãe, uma viúva que faz por merecer a alcunha de Senhora que lhe é atribuída. Muitos personagens são apresentados nesta parte, muitas reminiscências de Dôra são intercaladas de forma não linear na narrativa principal, mas a importância disso tudo é evidenciar o poderio de Senhora sobre toda a gente da Soledade, a relação estremecida entre mãe e filha, praticamente inexistente, e o quanto Dôra ainda se encontra maleável aos desígnios da mãe. Não é à toa que aos 22 anos se viu casada com Laurindo, morando sob o teto materno, ainda que metade dele lhe pertença por herança, e presa em um casamento que nada lhe traz de felicidade. Mas, eis que a tragédia essa amiga indesejada acaba com o casamento de Dôra, que então, decida se livrar do jugo da mãe e partir de Soledade.

“Pois agora eu me considerava assim como a raposa: se deixei minha carne sangrando na Soledade, também me livrei. Queria não pensar em nada, nada daquilo passado, nunca mais. Doía ainda, como doía de noite! Eu chegava quase a meter os pés da cama e sair gritando – doía, mas tinha que sarar. E ia sarando aos bocadinhos, às vezes eu já passava um dia inteiro sem me lembrar de nada. ” (Página 110)

Em Fortaleza, inicia-se o Livro da Companhia. Livre, Dôra se permitiu vivenciar experiências (como bailes e teatros) que Senhora sempre lhe negou. Ali, ela entra para uma companhia de teatro mambembe, ganha um nome de palco e cai na estrada em uma turnê com destino final no Rio de Janeiro. Essa viagem não é só literal, é também uma jornada de autoconhecimento para Dôra. Sua declaração de independência, sua mudança de visão de mundo que agora lhe permite se sentir dona de si mesma e a descoberta do amor.

“Bem, nisso tudo o que eu quero dizer é que antes de eu entrar na Companhia, tinha o meu corpo como se fosse uma coisa alheia que eu guardasse depositada, e só podia dar ao legítimo dono, e depois de dar a esse dono era só dele, não adiantava eu querer ou não, porque o meu corpo eu não tinha o direito de governar, eu vivia dentro dele mas o corpo não era meu.

Já agora o corpo era meu, pra guardar ou pra dar, se eu quisesse ia, se não quisesse não ia, acabou-se. Era uma grande diferença, para mim enorme. ” (Página 161)

Em uma sociedade muito machista, esse sopro de feminismo em Dôra é alentador, ainda que por amor ao Comandante ela tenha se anulado também. Sim, é no Livro do Comandante que Dôra, agora no Rio de Janeiro, vivencia a união pelo amor e não pelo interesse de outrem, mas nem por isso mais repleto de felicidades. Queiroz não entrega um romance romântico. Dôra e o Comandante se amam e isso fica claro, mas o amor não faz desaparecer as pendengas diárias, os ciúmes exacerbados e o sentimento de posse de que Dôra há muito foge. A conclusão dessa história é esperada, de um jeito ou de outro o ciclo precisava se fechar. Dôra saiu de Soledade, mas Soledade nunca saiu dela e ela nunca esqueceu de sua gente. A viagem da partida, todas as suas andanças, o regresso e tudo o que Dôra aprendeu em suas peregrinações, são o que darão o tom dos anos vindouros.

A leitura de Dôra, Doralina é cativante. Fornece um bom retrato da vida no interior e nas capitais no período entreguerras, dá uma boa pincelada na cultura nordestina, nas mazelas sociais e na situação política do país. Tudo isso em uma narrativa aconchegante, um tête-à-tête com Dôra que nos enleia do início ao fim. Definitivamente, ler outros livros da Rachel de Queiroz já se tornou mais uma das minhas metas literárias da vida.

[Blablabla Aleatório]

site: https://blablablaaleatorio.com/2018/06/06/dora-doralina-rachel-de-queiroz/
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kiki.marino 25/05/2020

"Doralina minha flor"
"Doer, dói sempre. Só não dói depois de morto. Porque a vida toda é um doer.?
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Fernando 30/07/2020

Romance
Nesse romance dividido em três partes, Rachel aborda aspectos do feminismo, aborda a limitado independência da mulher, o fatalismo de nossas histórias e outros aspectos sociais.
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Alan (@coracaodeleitor) 30/12/2020

Olá literárioooos!!!

Hoje iremos conversar sobre um clássico da literatura nacional "Dôra Doralina".
.
Aqui conhecemos nossa protagonista Dôra que mora no interior do Ceará e tem uma relação muito difícil com sua mãe. Diante do distanciamento da mãe e dos conflitos que as cercam, Dôra decide que precisa de uma nova vida.

Dôra então conhece uma companhia de teatro e lá ela faz amizades e começa a mudar como pessoa. Até se tornar uma atriz e mudar seu nome.

Aos poucos ela vai conhecendo o gosto da liberdade e certo dia sua companhia vai para o Rio de Janeiro. E nessa pequena aventura ela da de cara com um grande amor. Porém ao chegar no Rio ela precisa tomar uma decisão sobre seu futuro e isso pode colocar em risco tudo pelo que ela se dedicou até agora.

Adorei a narrativa do livro, que na verdade é dividido em três. A primeira parte fala mais sobre seu relacionamento com sua mãe, na segunda sobre sua saída de casa e auto descobertas e na terceira sobre sua vida no Rio.

É muito interessante ver como a autora coloca essa mulher que viveu em tempos passados já em uma luta por se descobrir e colocar seus posicionamentos.

Acho que é muito enriquecedor pelo contexto histórico que temos aqui. E por ver como temos personagens tão ricos que agregam tanto a história.

Não é uma história corrida, aqui a autora toma seu tempo para contar os causos. Então as vezes exige um pouco de paciência. Porém é realmente marcante e vale muito a pena a leitura.
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