Ruan Ricardo Bernardo Teodoro 22/02/2024
Na obra "Os Quatro Amores", o escritor irlandês C. S. Lewis disserta sobre os 4 amores que perspassam a nossa vida: o Afeto, a Amizade, o Eros e a Caridade.
Em primeiro lugar, o autor aponta que o Afeto se refere àquele aconchego caloroso e satisfação de estar junto que se dá entre pais e filhos, vizinhos, donos e seus mascotes e pessoas com quem se tem familiaridade. "De todos os amores naturais, esse é o mais universal" (p. 58), que inclui o círculo de pessoas que temos que conviver na família, na faculdade, no refeitório, na igreja, etc.
Em segundo lugar, a amizade é o menos natural dos amores, eis que podemos viver (afeto) e procriar (eros) sem ela. Nessa ótica, a "Amizade brota do mero companheirismo quando dois ou mais dos companheiros descobrem ter em comum alguma perspectiva ou interesse [...] que os outros não compartilham" (p. 92). Isto é, a amizade surge quando dois indivíduos percebem que se importam com a mesma verdade, possuem o mesmo hobby, religião, profissão ou estudos.
Em terceiro lugar, o Eros não se refere apenas à sexualidade, mas ao "estar apaixonado", ou seja, ocupar-se pensando em uma pessoa. "O Eros faz um homem realmente desejar, não uma mulher, mas uma mulher em particular [...] o amante deseja a mulher Amada, ela mesma, não o prazer que ela pode dar" (p. 129). Para o Eros, é preferível sofrer com a pessoa amada do que estar sem ela. Lembro, ainda, como Bento XVI apontou, que até mesmo o amor de Deus por nós é demonstrado pelo Eros: a Igreja é Noiva de Cristo, e como Cristo morreu pela sua Esposa, sua Esposa procura obedecer em tudo seu Esposo.
Em quarto lugar, a Caridade diz respeito ao amor que nos "habilita a amar aquilo que não é naturalmente amável: os leprosos, os criminosos, os inimigos, os tolos, os retraídos, os superiores e os arrogantes" (p. 172). A Caridade é o amor divino, pois o homem não pode dar a Deus nada do que tem, já que tudo o que tem recebeu d'Ele. Assim, os amores naturais são convocados para se tornarem Caridade e amores naturais mais perfeitos.
Por fim, Lewis indica o amor à pátria e o amor à natureza como amores direcionados aos sub-humanos. Ainda, salienta-se que o amor torna-se um demônio quando se torna um deus, isto é, há sempre o perigo de idolatrar um amor natural, prejudicando a ordem na qual os amores naturais devem se apoiar no amor divino e crescer com ele.