Acervo do Leitor 31/07/2018
Portões de Fogo de Steven Pressfield | Resenha | Acervo do Leitor
RESENHA – PORTÕES DE FOGO
Pelo que morrer? Pelo que lutar? Quando se sabe que o único caminho a frente é a morte, até o mais experiente guerreiro treme e fraqueja, mas os espartanos já se encontram muito além de tais sentimentos. O homem que vai de encontro ao inimigo é o mais vil e sanguinário que o seu coração permite. Quando chega a hora da batalha seu treinamento de uma vida se faz necessário, só há espaço para a carnificina.
“- Em seiscentos anos, assim disse o poeta, nenhuma, mulher espartana viu a fumaça do fogo inimigo. Leônidas levantou os braços e sua face aos deuses. – Por Zeus e Eros, pela Protetora Atenas e pela honra de Artêmis, pelas musas e todos os deuses e heróis que defendem a Lacedemônia, e pelo sangue de minha carne, juro que nossas esposas e filhas, nossas irmãs e mães não o verão agora.“
Após a queda dos 300 de esparta, isso mesmo, após, a narrativa começa quando Xeonis um dos raros sobreviventes da batalha épica nas Termópilas é feito cativo. O Rei Xerxes, indignado após presenciar seu poderoso exército de mais de 20.000 homens serem devastados e contidos por 3 dias, não poupa esforços para salvar a vida do cativo Heleno, em sua sede para saber o que levou os 300 espartanos a marcharem para a morte e resistirem até o último homem cair. Para dar precisamente oque Xerxes quer, Xeonis começa sua narrativa a partir de sua infância, e os principais eventos que levaram seu caminho a cruzar com a vida entre o exercito espartano. A história está muito mais além de transmitir a Xerxes as manobras estratégicas e treinamento do exército espartano, os eventos que se desenrolam são narrados ao rei no intuito de mostrar pelo que os 300 vivem e morrem, quais são suas paixões, seus medos. Mostrar qual o verdadeiro poder de um rei, relatar que não só os 300 sofreram o pior mal, mas também suas mulheres, que tiveram uma grande parcela desse sacrifício.
“Leônidas simplesmente apanhou uma pedra grande e caminhou até um determinado lugar. Ali, pôs a pedra. Ergueu uma segunda e a pôs do lado da primeira. Os homens observavam atônitos seu comandante-em-chefe, que já passara dos sessenta, curvar-se para pegar uma terceira pedra. Alguém berrou:
— Quanto tempo pretendem, imbecis, ficar olhando boquiabertos? Vão esperar a noite toda enquanto o rei constrói o muro sozinho?”
Um ponto a ser ressaltado e essencial para a construção da história, foi que o autor não se prendeu muito a politicagem como em muitos livros sobre guerra, aqui a construção se faz totalmente a partir da filosofia de guerra e o modo de viver dos espartanos que são usados durante todo o livro para nós causar uma sede de conhecimento sobre a cultura da Grécia antiga, mais especificamente de esparta. Quando pensamos em protagonista, percebemos que o autor não se prende a um personagem apenas, já que a história só pode ser contada a partir da coletividade de todos os demais. Steven Pressfield tem uma das mais bonitas escritas que já tive o prazer de ler, é praticamente impossível encontrar um diálogo desperdiçado ou um personagem fraco, aqui a história ganha vida em cada parágrafo. Tudo é dosado de maneira precisa, não há uma só pagina escrita apenas para “encher linguiça”, a famosa gordura de muitos livros cansativos. O Autor é incisivo e vai direto ao ponto sem deixar a desejar em nenhum quesito, dando inúmeras brechas para reflexões, dando resposta a cada pergunta no momento perfeito.
“As trombetas do inimigo ressoaram de além do Estreito. Via-se agora, nitidamente, a vanguarda dos persas, as bigas e o séquito do seu rei.
— Comam um bom desjejum, homens — Leônidas sorriu largo —, pois estaremos todos partilhando o jantar no inferno.
“
SENTENÇA
O que temos aqui é simplesmente um tesouro para todos os amantes de Ficção histórica, filosofia, cultura e muito mais. Com um conteúdo extremamente enriquecedor, com páginas e mais páginas de tirar o folego Pressfield da vida a uma obra prima, digo com toda a certeza que até o momento esse é o melhor livro disparado de Ficção histórica que eu já li, e um dos melhores que li na vida. O maior defeito reside em sua última página, quando acaba!
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