Vitória 09/01/2023
Desafiador... De ler e de comentar
Geralmente faço minhas resenhas logo após concluir a leitura. Dessa vez, refleti e esperei um pouco para fazer justiça a obra, pois a primeira impressão que tive ao ler a última frase do livro foi: "é isso? Esperava mais" ou "acho que perdi algo". Com certeza é um clássico e merece ser lido, sem maiores discussões quanto a isso. Entretanto, não esperava que a leitura fosse tão difícil e enfadonha. As páginas pareceriam multiplicar-se. Como o próprio autor já comentou, o leitor se sente numa penitência ou iniciação, dada a exigência que demanda para que o interesse na resolução do mistério continue viva depois de imensas digressões sobre filosofia, teologia e outros saberes. Acho válido e necessário um bom contexto histórico e boas reflexões, entretanto, acredito que como estava mais interessada no mistério e na autoria dos crimes propriamente ditos, perdi a paciência em vários momentos. Outro aspecto que me incomodou bastante foram as várias passagens em latim, alemão e outras línguas sem uma tradução (uma simples nota de rodapé não custava nada). Acabei lendo com o tradutor do lado e até passei por cima de vários trechos pois não estava mais interessada na tradução. Dito isso, não tiro o brilhantismo da obra. Se foi difícil lê-lo, imagino como deve ter sido complexo escrevê-lo. As descrições e mapas da abadia e da biblioteca são verdadeiras obras de arte. A questão do riso, a problemática da biblioteca, e consequentemente do conhecimento, guardada por labirintos e enigmas e destinados somente para aqueles considerados doutos e merecedores, é surpreendente. E, lógico, o motivo pelo qual coloquei o livro como uma das minhas metas de leitura e como uma boa fã de Sherlock Holmes, frei Guilherme de Baskerville e Adson formam uma ótima dupla em busca da resolução do mistério que ronda a abadia. O final foi angustiante e frenético, achei condizente com a narrativa como um todo. Recomendo, mas não é uma leitura fácil e para todas as horas. É o tipo de livro que requer uma preparação anterior e reflexão posterior.
~ Citações favoritas ~
Há momentos mágicos de grande cansaço físico e intensa excitação motora, em que surgem visões de pessoas conhecidas no passado [...] dão-se igualmente visões de livros ainda não escritos. (Pos. 505)
?In omnibus requiem quaesivi, et nusquam inveni nisi in angulo cum libro.? (Pos. 552)
Os homens de outrora eram grandes e belos (agora são crianças e anões), mas esse fato é apenas um dos muitos que testemunham a desventura de um mundo que vai envelhecendo. A juventude não quer aprender mais nada, a ciência está em decadência, o mundo inteiro caminha de cabeça para baixo, cegos conduzem outros cegos e os fazem precipitar-se nos abismos, os pássaros se lançam antes de alçar vôo, o asno toca lira, os bois dançam. Maria não ama mais a vida contemplativa e Marta não ama mais a vida ativa, Lia é estéril, Raquel tem olhos lúbricos, Catão freqüenta os lupanares, Lucrécio vira mulher. Tudo está desviado do próprio caminho. (Pos. 507)
Os homens de outrora eram grandes e belos (agora são crianças e anões), mas esse fato é apenas um dos muitos que testemunham a desventura de um mundo que vai envelhecendo. A juventude não quer aprender mais nada, a ciência está em decadência, o mundo inteiro caminha de cabeça para baixo, cegos conduzem outros cegos e os fazem precipitar-se nos abismos, os pássaros se lançam antes de alçar vôo, o asno toca lira, os bois dançam. Maria não ama mais a vida contemplativa e Marta não ama mais a vida ativa, Lia é estéril, Raquel tem olhos lúbricos, Catão freqüenta os lupanares, Lucrécio vira mulher. Tudo está desviado do próprio caminho. (Pos. 657)
A juventude não quer aprender mais nada, a ciência está em decadência, o mundo inteiro caminha de cabeça para baixo, cegos conduzem outros cegos e os fazem precipitar-se nos abismos, os pássaros se lançam antes de alçar vôo, o asno toca lira, os bois dançam. Maria não ama mais a vida contemplativa e Marta não ama mais a vida ativa, Lia é estéril, Raquel tem olhos lúbricos, Catão freqüenta os lupanares, Lucrécio vira mulher. Tudo está desviado do próprio caminho. (Pos. 658)
Assim era meu mestre. Sabia ler não apenas no grande livro da natureza, mas também no modo como os monges liam os livros da escritura, e pensavam através deles. (Pos. 788)
Pois a arquitetura é dentre todas as artes a que mais ousadamente busca reproduzir em seu ritmo a ordem do universo, que os antigos chamavam de kosmos, isto é, ornado, enquanto parece um grande animal sobre o qual refulgem a perfeição e a proporção de todos os seus membros. E seja louvado o Nosso Criador que, como diz Agostinho, estabeleceu todas as coisas em número, peso e medida. (Pos. 820)
?Porque raciocinar sobre as causas e os efeitos é coisa bastante difícil, da qual acho que o único juiz possível é Deus. (Pos. 882)
E este é o mal que a heresia faz ao povo cristão, tornando obscuras as idéias e levando todos a se tornarem inquisidores em benefício próprio. Tudo o que vi na abadia depois (que relatarei mais tarde) me fez pensar que freqüentemente são os inquisidores a criar os hereges. E não apenas no sentido que eles os imaginam quando não existem, mas no sentido que reprimem com tanta veemência a praga herética a ponto de impelir muitos a se tornarem partícipes, por ódio a eles. (Pos. 1227)
?Somos anões?, admitiu Guilherme, ?mas anões que estão nos ombros daqueles gigantes, e em nossa pequenez conseguimos enxergar mais longe que eles no horizonte.? (Pos. 1842)
?Porém existem duas formas de magia. Há uma magia que é obra do diabo e que visa a ruína do homem através de artifícios de que não é lícito falar. Mas há uma magia que é obra divina, lá onde a ciência de Deus se manifesta através da ciência do homem, que serve para transformar a natureza, e um de cujos fins é prolongar a vida humana. E esta é magia santa, a que os sábios deveriam se dedicar sempre, não só para descobrir coisas novas, mas para redescobrir muitos segredos da natureza que a sabedoria divina revelara aos hebreus, aos gregos, a outros povos antigos e hoje até aos infiéis (e nem te conto quantas coisas maravilhosas de ótica e ciência da visão há nos livros dos infiéis!). E de todos esses conhecimentos uma ciência cristã deverá se apossar, e retomá-la aos pagãos e aos infiéis tamquam ab iniustis possessoribus.? (Pos. 1861)
Aristóteles diz no livro dos segredos que, ao comunicar muitos arcanos da natureza e da arte, infringe-se um sigilo celeste e que muitos males poderiam seguir-se. O que não significa que os segredos não devam ser revelados, mas que compete aos sábios decidir quando e como.? (Pos. 1891)
Enquanto me deitava cheguei à conclusão de que meu pai não deveria ter-me mandado pelo mundo, que era mais complicado do que pensava. Estava aprendendo coisas demais. ?Salva me ab ore leonis?, rezei, adormecendo. (Pos. 2936)
Sentia-me entorpecido pelo sono, porque o sono diurno é como o pecado da carne: quanto mais se tem mais se quer, contudo nos deixa infelizes, satisfeitos e insatisfeitos ao mesmo tempo. (Pos. 2941)
Assim devotamente adormeci, e por muito tempo, porque parece que nós jovens temos mais necessidade de sono que os velhos, que muito já dormiram e se preparam para dormir durante a eternidade. (Pos. 3332)
Acho que quando se reúne tanta gente seguindo uma promessa e pedindo logo algo, não se sabe nunca quem está falando dentre eles. (Pos. 3491)
Não se muda o povo de Deus se não se reintegram em seu corpo os marginalizados.? (Pos. 3642)
?Assim Deus conhece o mundo, porque o concebeu em sua mente, como se estivesse de fora, antes que fosse criado, enquanto nós não conhecemos a regra, porque vivemos dentro dele encontrando-o já pronto.? (Pos. 3952)
?O que é o amor? Não existe nada no mundo, nem homem, nem diabo, nem qualquer coisa, que eu considere tão suspeito como o amor, pois este penetra mais a alma que outra coisa qualquer. Não há nada que ocupe tanto e amarre o coração como o amor. Por isso, a menos que não tenha as almas que a governam, a alma cai, pelo amor, numa imensa ruína. (Pos. 4159)
Temia a cada instante defrontar-me com outro espelho, porque tamanha é a magia dos espelhos, que mesmo que saibas que são espelhos eles não param de inquietar-te. (Pos. 4328)
Como era belo o espetáculo da natureza não tocada ainda pela sabedoria, freqüentemente perversa, do homem! (Pos. 4995)
Porque em todo crime cometido para possuir um objeto, a natureza do objeto deveria nos fornecer uma idéia, ainda que pálida, da natureza do assassino. (Pos. 5055)
Freqüentemente os livros falam de outros livros. Freqüentemente um livro inócuo é como uma semente, que florescerá num livro perigoso, ou, ao contrário, é o fruto doce de uma raiz amarga. (Pos. 5070)
?Os livros não são feitos para acreditarmos neles, mas para serem submetidos a investigações. Diante de um livro não devemos nos perguntar o que diz mas o que quer dizer, idéia que os velhos comentadores dos livros sagrados tiveram claríssima. (Pos. 5556)
Mais velho me torno e mais me abandono à vontade de Deus, e aprecio sempre menos a inteligência que quer saber e a vontade que quer fazer: e reconheço a fé como único elemento de salvação, que sabe esperar paciente sem questionar demasiado. (Pos. 6842)
Não existe apenas a luxúria da carne. É luxúria a de Bernardo Gui, distorcida luxúria de justiça, que se identifica com luxúria de poder. É luxúria de riqueza a do nosso santo e não mais romano pontífice. Era luxúria de testemunho e transformação e penitência e morte a do celeireiro quando jovem. E é luxúria de livros a de Bêncio. Como todas as luxúrias, como aquela de Onan que espargia o próprio sêmen por terra, é luxúria estéril, e não tem nada a ver com o amor, nem mesmo com o carnal...? (Pos. 6863)
?O amor verdadeiro deseja o bem do amado.? (Pos. 6868)
?O bem de um livro está em ser lido. Um livro é feito de signos que falam de outros signos, os quais por sua vez falam das coisas. Sem um olho que o leia, um livro traz signos que não produzem conceitos, e portanto é mudo. Esta biblioteca talvez tenha nascido para salvar os livros que contém, mas agora vive para sepultá-los. Por isso tornou-se fonte de impiedade. (Pos. 6871)
Percebia agora que se pode sonhar mesmo sobre livros, e por isso se pode sonhar até sonhos. (Pos. 7494)
?É tarde?, disse Guilherme, ?e quando se tem pouco tempo, ai de quem perder a calma. Devemos agir como se tivéssemos a eternidade diante de nós. (Pos. 7736)
A biblioteca fora condenada por sua própria impenetrabilidade, pelo mistério que a protegia, pela exigüidade de seus acessos. (Pos. 8314)
Está fazendo frio no scriptorium, dói-me o polegar; deixo esta escritura, não sei para quem, não sei mais sobre o quê: stat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemus. (Pos. 8464)