O Nome da Rosa

O Nome da Rosa Umberto Eco




Resenhas - O Nome da Rosa


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Vitória 09/01/2023

Desafiador... De ler e de comentar
Geralmente faço minhas resenhas logo após concluir a leitura. Dessa vez, refleti e esperei um pouco para fazer justiça a obra, pois a primeira impressão que tive ao ler a última frase do livro foi: "é isso? Esperava mais" ou "acho que perdi algo". Com certeza é um clássico e merece ser lido, sem maiores discussões quanto a isso. Entretanto, não esperava que a leitura fosse tão difícil e enfadonha. As páginas pareceriam multiplicar-se. Como o próprio autor já comentou, o leitor se sente numa penitência ou iniciação, dada a exigência que demanda para que o interesse na resolução do mistério continue viva depois de imensas digressões sobre filosofia, teologia e outros saberes. Acho válido e necessário um bom contexto histórico e boas reflexões, entretanto, acredito que como estava mais interessada no mistério e na autoria dos crimes propriamente ditos, perdi a paciência em vários momentos. Outro aspecto que me incomodou bastante foram as várias passagens em latim, alemão e outras línguas sem uma tradução (uma simples nota de rodapé não custava nada). Acabei lendo com o tradutor do lado e até passei por cima de vários trechos pois não estava mais interessada na tradução. Dito isso, não tiro o brilhantismo da obra. Se foi difícil lê-lo, imagino como deve ter sido complexo escrevê-lo. As descrições e mapas da abadia e da biblioteca são verdadeiras obras de arte. A questão do riso, a problemática da biblioteca, e consequentemente do conhecimento, guardada por labirintos e enigmas e destinados somente para aqueles considerados doutos e merecedores, é surpreendente. E, lógico, o motivo pelo qual coloquei o livro como uma das minhas metas de leitura e como uma boa fã de Sherlock Holmes, frei Guilherme de Baskerville e Adson formam uma ótima dupla em busca da resolução do mistério que ronda a abadia. O final foi angustiante e frenético, achei condizente com a narrativa como um todo. Recomendo, mas não é uma leitura fácil e para todas as horas. É o tipo de livro que requer uma preparação anterior e reflexão posterior.

~ Citações favoritas ~

Há momentos mágicos de grande cansaço físico e intensa excitação motora, em que surgem visões de pessoas conhecidas no passado [...] dão-se igualmente visões de livros ainda não escritos. (Pos. 505)

?In omnibus requiem quaesivi, et nusquam inveni nisi in angulo cum libro.? (Pos. 552)

Os homens de outrora eram grandes e belos (agora são crianças e anões), mas esse fato é apenas um dos muitos que testemunham a desventura de um mundo que vai envelhecendo. A juventude não quer aprender mais nada, a ciência está em decadência, o mundo inteiro caminha de cabeça para baixo, cegos conduzem outros cegos e os fazem precipitar-se nos abismos, os pássaros se lançam antes de alçar vôo, o asno toca lira, os bois dançam. Maria não ama mais a vida contemplativa e Marta não ama mais a vida ativa, Lia é estéril, Raquel tem olhos lúbricos, Catão freqüenta os lupanares, Lucrécio vira mulher. Tudo está desviado do próprio caminho. (Pos. 507)

Os homens de outrora eram grandes e belos (agora são crianças e anões), mas esse fato é apenas um dos muitos que testemunham a desventura de um mundo que vai envelhecendo. A juventude não quer aprender mais nada, a ciência está em decadência, o mundo inteiro caminha de cabeça para baixo, cegos conduzem outros cegos e os fazem precipitar-se nos abismos, os pássaros se lançam antes de alçar vôo, o asno toca lira, os bois dançam. Maria não ama mais a vida contemplativa e Marta não ama mais a vida ativa, Lia é estéril, Raquel tem olhos lúbricos, Catão freqüenta os lupanares, Lucrécio vira mulher. Tudo está desviado do próprio caminho. (Pos. 657)
A juventude não quer aprender mais nada, a ciência está em decadência, o mundo inteiro caminha de cabeça para baixo, cegos conduzem outros cegos e os fazem precipitar-se nos abismos, os pássaros se lançam antes de alçar vôo, o asno toca lira, os bois dançam. Maria não ama mais a vida contemplativa e Marta não ama mais a vida ativa, Lia é estéril, Raquel tem olhos lúbricos, Catão freqüenta os lupanares, Lucrécio vira mulher. Tudo está desviado do próprio caminho. (Pos. 658)

Assim era meu mestre. Sabia ler não apenas no grande livro da natureza, mas também no modo como os monges liam os livros da escritura, e pensavam através deles. (Pos. 788)

Pois a arquitetura é dentre todas as artes a que mais ousadamente busca reproduzir em seu ritmo a ordem do universo, que os antigos chamavam de kosmos, isto é, ornado, enquanto parece um grande animal sobre o qual refulgem a perfeição e a proporção de todos os seus membros. E seja louvado o Nosso Criador que, como diz Agostinho, estabeleceu todas as coisas em número, peso e medida. (Pos. 820)

?Porque raciocinar sobre as causas e os efeitos é coisa bastante difícil, da qual acho que o único juiz possível é Deus. (Pos. 882)

E este é o mal que a heresia faz ao povo cristão, tornando obscuras as idéias e levando todos a se tornarem inquisidores em benefício próprio. Tudo o que vi na abadia depois (que relatarei mais tarde) me fez pensar que freqüentemente são os inquisidores a criar os hereges. E não apenas no sentido que eles os imaginam quando não existem, mas no sentido que reprimem com tanta veemência a praga herética a ponto de impelir muitos a se tornarem partícipes, por ódio a eles. (Pos. 1227)

?Somos anões?, admitiu Guilherme, ?mas anões que estão nos ombros daqueles gigantes, e em nossa pequenez conseguimos enxergar mais longe que eles no horizonte.? (Pos. 1842)

?Porém existem duas formas de magia. Há uma magia que é obra do diabo e que visa a ruína do homem através de artifícios de que não é lícito falar. Mas há uma magia que é obra divina, lá onde a ciência de Deus se manifesta através da ciência do homem, que serve para transformar a natureza, e um de cujos fins é prolongar a vida humana. E esta é magia santa, a que os sábios deveriam se dedicar sempre, não só para descobrir coisas novas, mas para redescobrir muitos segredos da natureza que a sabedoria divina revelara aos hebreus, aos gregos, a outros povos antigos e hoje até aos infiéis (e nem te conto quantas coisas maravilhosas de ótica e ciência da visão há nos livros dos infiéis!). E de todos esses conhecimentos uma ciência cristã deverá se apossar, e retomá-la aos pagãos e aos infiéis tamquam ab iniustis possessoribus.? (Pos. 1861)

Aristóteles diz no livro dos segredos que, ao comunicar muitos arcanos da natureza e da arte, infringe-se um sigilo celeste e que muitos males poderiam seguir-se. O que não significa que os segredos não devam ser revelados, mas que compete aos sábios decidir quando e como.? (Pos. 1891)

Enquanto me deitava cheguei à conclusão de que meu pai não deveria ter-me mandado pelo mundo, que era mais complicado do que pensava. Estava aprendendo coisas demais. ?Salva me ab ore leonis?, rezei, adormecendo. (Pos. 2936)
Sentia-me entorpecido pelo sono, porque o sono diurno é como o pecado da carne: quanto mais se tem mais se quer, contudo nos deixa infelizes, satisfeitos e insatisfeitos ao mesmo tempo. (Pos. 2941)

Assim devotamente adormeci, e por muito tempo, porque parece que nós jovens temos mais necessidade de sono que os velhos, que muito já dormiram e se preparam para dormir durante a eternidade. (Pos. 3332)

Acho que quando se reúne tanta gente seguindo uma promessa e pedindo logo algo, não se sabe nunca quem está falando dentre eles. (Pos. 3491)

Não se muda o povo de Deus se não se reintegram em seu corpo os marginalizados.? (Pos. 3642)

?Assim Deus conhece o mundo, porque o concebeu em sua mente, como se estivesse de fora, antes que fosse criado, enquanto nós não conhecemos a regra, porque vivemos dentro dele encontrando-o já pronto.? (Pos. 3952)

?O que é o amor? Não existe nada no mundo, nem homem, nem diabo, nem qualquer coisa, que eu considere tão suspeito como o amor, pois este penetra mais a alma que outra coisa qualquer. Não há nada que ocupe tanto e amarre o coração como o amor. Por isso, a menos que não tenha as almas que a governam, a alma cai, pelo amor, numa imensa ruína. (Pos. 4159)

Temia a cada instante defrontar-me com outro espelho, porque tamanha é a magia dos espelhos, que mesmo que saibas que são espelhos eles não param de inquietar-te. (Pos. 4328)

Como era belo o espetáculo da natureza não tocada ainda pela sabedoria, freqüentemente perversa, do homem! (Pos. 4995)

Porque em todo crime cometido para possuir um objeto, a natureza do objeto deveria nos fornecer uma idéia, ainda que pálida, da natureza do assassino. (Pos. 5055)

Freqüentemente os livros falam de outros livros. Freqüentemente um livro inócuo é como uma semente, que florescerá num livro perigoso, ou, ao contrário, é o fruto doce de uma raiz amarga. (Pos. 5070)
?Os livros não são feitos para acreditarmos neles, mas para serem submetidos a investigações. Diante de um livro não devemos nos perguntar o que diz mas o que quer dizer, idéia que os velhos comentadores dos livros sagrados tiveram claríssima. (Pos. 5556)

Mais velho me torno e mais me abandono à vontade de Deus, e aprecio sempre menos a inteligência que quer saber e a vontade que quer fazer: e reconheço a fé como único elemento de salvação, que sabe esperar paciente sem questionar demasiado. (Pos. 6842)

Não existe apenas a luxúria da carne. É luxúria a de Bernardo Gui, distorcida luxúria de justiça, que se identifica com luxúria de poder. É luxúria de riqueza a do nosso santo e não mais romano pontífice. Era luxúria de testemunho e transformação e penitência e morte a do celeireiro quando jovem. E é luxúria de livros a de Bêncio. Como todas as luxúrias, como aquela de Onan que espargia o próprio sêmen por terra, é luxúria estéril, e não tem nada a ver com o amor, nem mesmo com o carnal...? (Pos. 6863)

?O amor verdadeiro deseja o bem do amado.? (Pos. 6868)

?O bem de um livro está em ser lido. Um livro é feito de signos que falam de outros signos, os quais por sua vez falam das coisas. Sem um olho que o leia, um livro traz signos que não produzem conceitos, e portanto é mudo. Esta biblioteca talvez tenha nascido para salvar os livros que contém, mas agora vive para sepultá-los. Por isso tornou-se fonte de impiedade. (Pos. 6871)

Percebia agora que se pode sonhar mesmo sobre livros, e por isso se pode sonhar até sonhos. (Pos. 7494)

?É tarde?, disse Guilherme, ?e quando se tem pouco tempo, ai de quem perder a calma. Devemos agir como se tivéssemos a eternidade diante de nós. (Pos. 7736)

A biblioteca fora condenada por sua própria impenetrabilidade, pelo mistério que a protegia, pela exigüidade de seus acessos. (Pos. 8314)

Está fazendo frio no scriptorium, dói-me o polegar; deixo esta escritura, não sei para quem, não sei mais sobre o quê: stat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemus. (Pos. 8464)
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Mateus 14/02/2019

Mistérios envolventes no século XIV
Primeiro livro de Umberto Eco, “O Nome da Rosa” é uma obra de múltiplas camadas que surpreende pela riqueza de detalhes e pela construção narrativa impecável. Travestido de história investigativa, o livro, ambientado no século XIV, a princípio aborda a ida de um ex-inquisidor inglês, Guilherme de Baskerville, e o noviço Adso para uma famosa abadia italiana em que um monge acaba de morrer sob condições misteriosas.

No papel de detetive, Guilherme começa a investigar o ocorrido e se vê em uma trama muito mais turbulenta do que o esperado, já que novas mortes passam a acontecer ao longo dos sete dias em que ele permanece na abadia. Aparentemente uma história digna de Agatha Christie e Conan Doyle, certo? Muito pelo contrário, uma vez que os personagens se veem envoltos em uma narrativa que vai se aprofundando cada vez mais no decorrer dos capítulos.

Isso se deve às inúmeras subtramas presentes na obra, sendo a principal delas a discussão sobre a legitimidade do caráter de pobreza dos franciscanos e de outras ordens inspiradas em Francisco de Assis, que pregavam a pobreza e a isenção de bens acima de tudo. Questões políticas envolvendo o papa e o imperador italiano, práticas heréticas e os seguidores de Frei Dulcino (personagem histórico morto pela Inquisição, após ser considerado herege pela Igreja) são outros temas que ganham destaque na obra.

Todos esses assuntos são apresentados por Adso, o narrador do livro, em um ritmo muitas vezes lento, mas extremamente provocante e envolvente. Aliás, a personalidade de Adson e Guilherme são um dos principais pontos altos de “O Nome da Rosa” – em primeiro lugar, o narrador escreve suas memórias de forma reflexiva e longe da pieguice, sendo um dos grandes trunfos do livro. Em segundo, Guilherme é um personagem extremamente inteligente e comparável à Sherlock Holmes em sua genialidade (seria o sobrenome Baskerville uma coincidência?), apresentando inúmeras falhas e questionamentos divinos, mas sem deixar sua fé de lado.

“O Nome da Rosa” não é um livro de fácil leitura, pois além de ser um tanto longo e complexo, são necessárias consultas constantes ao dicionário para entender o significado de diversas palavras (algo cansativo no início, mas que se tornou maravilhoso por desafiar minha alma de leitor acostumado a palavras simples). No entanto, é impossível não se surpreender e não se apaixonar pelas múltiplas abordagens da obra e pela escrita de Umberto Eco, que se consolidou como um dos maiores escritores de sua época em seu lançamento literário.
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Laura 05/11/2021

Gostei!
Li por indicação da professora de literatura e me surpreendi. Os capítulos finais são os melhores (e mais chocantes), já não sei mais o que é dormir...
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Mih 24/11/2021

Cuidado, leitor! A próxima página pode ser fatal...
Esse livro é um romance medieval misturado com um Q policial e suspense. A história se passa em mosteiro na Europa, no qual os monges estão morrendo misteriosamente e se faz necessário uma investigação minuciosa. Dotado de política, filosofia e religião, Umberto Eco nos dá a curiosidade de saber mais a cada página. Vale a pena cada página, tirando o latim não traduzido nessa edição, o livro é perfeito!
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Renata Rezende 14/11/2021

Um livro muito bonito
Mas cansativo e lento. A história principal é muito interessante, mas a paralela não me fisgou e achei muito cansativo os sermões e debates.
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Erudito Principiante 28/07/2019

Obra primorosa, edição... nem tanto
O esmero de Umberto Eco neste livro impressionante não se limita apenas à escrita. Ele certamente se debruçou sobre estudos da Idade Média e da vida monástica nesse período. Ler O Nome da Rosa é mergulhar na história, é ter um vislumbre de como era a vida num mosteiro católico do fim da Idade Média. Infelizmente essa edição não traz notas com a tradução dos trechos em latim, o que compromete um pouco o entendimento da história, apenas um pouco. Mas essa falha da edição felizmente não suprime o prazer de ler essa importante obra da literatura mundial.
Márcio 29/07/2019minha estante
O filme também é excelente




Leila de Carvalho e Gonçalves 05/09/2019

?Stat Rosa Pristina Nomine, Nomina Nuda Tenemus "
?O Nome da Rosa", primeiro romance do italiano Umberto Eco, foi lançado na Itália em 1980 e logo se transformou num prodígio editorial, a ponto de no mesmo ano ser publicado em nosso país. Foi nessa ocasião que eu o li pela primeira vez e trinta e nove anos depois, com o mesmo prazer, acabo de reler.

Seu tema central aborda a liberdade de estudo e ensino, tendo como cenário uma abadia medieval cujo dia-a-dia é minuciosamente retratado. Mergulhada no obscurantismo durante séculos, essa instituição assemelha-se a uma fortaleza e sua biblioteca é protegida pelo dogmatismo religioso que considera a circulação do conhecimento potencialmente perigosa à Igreja.

Sede de um conclave, enquanto dominicanos e franciscanos travam um duelo ideológico, uma série de assassinatos misteriosos roubam a atenção do lugar. Durante a investigação, Eco coloca em discussão o paradoxo entre velhos valores, fechados e místicos, e novas ideias, mais abertas e racionais. A própria conduta escolhida para elucidar as mortes aponta para esse aspecto, a princípio consideradas sobrenaturais, no final, sob uma cuidadosa análise, acabam oferecendo uma explicação demasiadamente humana.

O autor é um erudito e sua obra ficcional, rica em conhecimento histórico, é tanto apreciada por seus admiradores como menosprezada pelos detratores. Consequentemente, a leitura é inimiga da pressa e requer atenção, pois a imaginação labiríntica de Eco, às vezes, faz o leitor perder o fio da meada, porém esse é um desafio que merece ser enfrentado.

"O Nome da Rosa", no meu entender, é seu melhor romance e o mais acessível. Uma boa oportunidade para refletir sobre o bem e o mal, o certo e o errado, a medida que a moral cristã é colocada em xeque, comprovando que o que há por trás dos conceitos e crenças atuais, nada mais é do que uma sucessão de indagações que repercutem há séculos no seio da Igreja.

Concluo com a última frase do romance: ?Stat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemus", isto é, "A rosa só permanece no nome, nada temos além dele". Trata-se de um louvor ao poder da palavra, que é capaz de expressar até o desconhecido e o inexistente, ideia que permeia e nomeia o livro. De acordo com Eco, uma escolha adequada, à medida que o título não antecipa qualquer interpretação prévia do leitor.

Nota: Meu comentário refere-se a décima segunda edição da Editora Record. Em capa dura, ele foi impresso em papel off-white de alta gramatura e boa opacidade. A fonte escolhida foi a Minion Pro Regular com tamanho um pouco menor do que o habitual, mas essa opção não chegou a incomodar a leitura. Infelizmente, não encontrei nenhuma referência às ilustrações e ao design gráfico, informações que a Editora Record ficou devendo.
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Leila de Carvalho e Gonçalves 05/09/2019

?Stat Rosa Pristina Nomine, Nomina Nuda Tenemus "
?O Nome da Rosa", primeiro romance do italiano Umberto Eco, foi lançado na Itália em 1980 e logo se transformou num prodígio editorial, a ponto de no mesmo ano ser publicado em nosso país. Foi nessa ocasião que eu o li pela primeira vez e trinta e nove anos depois, com o mesmo prazer, acabo de reler.

Seu tema central aborda a liberdade de estudo e ensino, tendo como cenário uma abadia medieval cujo dia-a-dia é minuciosamente retratado. Mergulhada no obscurantismo durante séculos, essa instituição assemelha-se a uma fortaleza e sua biblioteca é protegida pelo dogmatismo religioso que considera a circulação do conhecimento potencialmente perigosa à Igreja.

Sede de um conclave, enquanto dominicanos e franciscanos travam um duelo ideológico, uma série de assassinatos misteriosos roubam a atenção do lugar. Durante a investigação, Eco coloca em discussão o paradoxo entre velhos valores, fechados e místicos, e novas ideias, mais abertas e racionais. A própria conduta escolhida para elucidar as mortes aponta para esse aspecto, a princípio consideradas sobrenaturais, no final, sob uma cuidadosa análise, acabam oferecendo uma explicação demasiadamente humana.

O autor é um erudito e sua obra ficcional, rica em conhecimento histórico, é tanto apreciada por seus admiradores como menosprezada pelos detratores. Consequentemente, a leitura é inimiga da pressa e requer atenção, pois a imaginação labiríntica de Eco, às vezes, faz o leitor perder o fio da meada, porém esse é um desafio que merece ser enfrentado.

"O Nome da Rosa", no meu entender, é seu melhor romance e o mais acessível. Uma boa oportunidade para refletir sobre o bem e o mal, o certo e o errado, a medida que a moral cristã é colocada em xeque, comprovando que o que há por trás dos conceitos e crenças atuais, nada mais é do que uma sucessão de indagações que repercutem há séculos no seio da Igreja.

Concluo com a última frase do romance: ?Stat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemus", isto é, "A rosa só permanece no nome, nada temos além dele". Trata-se de um louvor ao poder da palavra, que é capaz de expressar até o desconhecido e o inexistente, ideia que permeia e nomeia o livro. De acordo com Eco, uma escolha adequada, à medida que o título não antecipa qualquer interpretação prévia do leitor.
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Ana Paula 20/01/2020

Monges, livros, idade média, assassinatos. O que poderia ser melhor?
O Nome da Rosa
Umberto Eco - 1980

Esse livro foi incrível, apesar de não ter me surpreendido: eu já esperava isso dele. Essa é uma história famosa, que até mesmo teve uma adaptação em filme (de 1986). E foi esse filme que me instigou a ler, na verdade. Não, eu nunca vi o filme, mas minha mãe sim. Um dia cheguei em casa e comentei com ela: "Mãe, achei um livro na biblioteca, O Nome da Rosa, parece ser legal", e ela já veio com um "Ei, eu já vi esse filme, eu lembro como que os monges eram mortos. Quer saber ou vai ler?". Respondi que ia ler, pra ela não me contar, mas acabei demorando mais de um ano até realmente pegar o livro para ler depois dessa ocasião (sempre com ela me implicando se eu queria saber como morriam).
Eis que a hora de ler finalmente chegou, e eu fui animada para começar. A leitura não foi fácil: trechos em latim, sem tradução no próprio livro e essenciais para o entendimento completo da trama (o que me levava a ler com a aba do Google Tradutor aberta sempre); discussões sobre teologia, religião e filosofia entremeadas; teorias e conhecimentos sobre a igreja e as ordens religiosas do século XIV. Demorei um bom tempo para conseguir concluir, mas valeu a pena cada página - embora aqui tenha de admitir, na verdade, que pulei alguns parágrafos em algumas ocasiões, principalmente quando estavam discutindo as diferentes ordens dos monges da igreja, porque honestamente, foram interessantes nas primeiras vezes, mas depois eu não conseguia mais, infelizmente.
Fiquei muito orgulhosa de mim mesma por ter conseguido deduzir como ocorriam os crimes antes que elucidassem no texto. A cada hipótese que eu fazia e a cada nova descoberta, eu ia correndo e falava com a minha mãe. Ela só me confirmou quando faltava 10% do livro a ser lido e eu tinha acertado tim-tim por tim-tim como os monges morriam. Então, sim, o autor consegue deixar pistas que tornam possível você deduzir junto com Adso e Guilherme (nossos personagens principais) o mistério entorno da situação.
Falando dos protagonistas, eu gostei bastante da dinâmica entre Adso e Guilherme. O fato de Adso aprender e crescer ao longo do livro, permitindo que a gente também faça isso, instigando que nós desenvolvamos nossas hipóteses, a certo ponto, é incrível. O modo como Guilherme fica frustado, em certo ponto da narrativa, por não ter sido mais veloz nas suas descobertas, também.
Ademais, o retrato das inquisições e de como funcionavam a "Caça às Bruxas" e a Igreja em plena Idade Média foi fiel e angustiante. Um dos aspectos mais intrigantes pra mim, contudo, foi o título do livro. Passei toda a narrativa procurando encaixá-lo na história que estava lendo e simplesmente não encaixava! E eis que revelam o motivo, e eu simplesmente adorei.
Pela narração de mamãe com sua memória já um pouco falha pelo tempo que faz desde que assistiu o filme, aparentemente trocaram alguns aspectos - como o motivo do título. Mas não sei, ainda não vi, então não posso confirmar nada.
Um ótimo livro para começar as leituras de 2020, se todos seguirem esse nível, estarei mais que satisfeita com as oportunidades desse ano.

PS - Se você ainda não leu, atente-se ao recado: deixe para ler o texto "Introdução" após a conclusão da leitura ou pare na página indicada pela editora. Tem um baita spoiler nele!
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Iago 23/03/2020

Uma narrativa que vai além do livro.
Os livros geralmente buscam conquistar os leitores de imediato. N'O nome da rosa isso não acontece; o que temos é um desafio, uma iniciação e, caso não se passe por ela, não se terminará a leitura do livro, e isso quem diz é o próprio autor. A intertextualidade é fortíssima, seja nos nomes dos personagens ou nas obras citadas, e é maravilhosa. Espero que todos possam entrar na abadia e viver os sete dias desse mistério ao lado de monges do século XIV, os quais apresentam um paralelo sobre as relações de domínio que podem ser vistas até hoje, onde a verdade e o que é certo e santo depende de quem detém o poder e, portanto, a verdade.
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Paulinha.18 20/01/2022

O 1° livro que eu li do Umberto Eco
Eu conclui essa leitura em novembro de 2021, e até hoje eu fico perdida para falar sobre ela.
É um livro impecável, em todo e qualquer aspecto, e por isso é tão difícil de falar.
Eu sou um tipo de pessoa que eu adoro criticar as coisas, mad quando eu acabo pegando algo tão lindo e tão maravilhoso assim, me faltam diversas palavras para criticar kkkkkkkk

O Umberto ele constrói o mistério como ninguém, e mesmo assim ele consegue fazer com que ele fique do lado de alguns momentos para que os outros assunto eles venham à tona. A atmosfera ela é maravilhosa, mesmo estando em calor de 30 graus.
As críticas do Umberto traz aqui, mesmo elas tendo sido escritas há mais de 40 anos, elas me surpreenderam por serem tão atuais. Eu acabei perdendo as contas de quanto eu escrevi no meu bloco, o quanto fiquei chocada com algumas coisas. Eu amo de paixão quando o livro me chama bastante a minha atenção como esse me chamou.

Esse foi o meu primeiro livro que li do Umberto, e eu não vejo a hora de ler mais e mais outras coisas desse autor.
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Carolina CM 27/04/2020

Genial
Ser transportado para a idade média é inusitado. Ter que pensar com uma cabeça muito diferente onde óculos e bússolas são artefatos muito modernos, beirando a bruxaria, ao passo que unicórnios e sereias são seres absolutamente reais. Entender a política, os valores daquele tempo...só isso já é muito interessante nesse livro, mas esse é só o pano de fundo. Acompanhando a visita de um monge franciscano a uma abadia beneditina, temos reflexões e discussões muito profundas sobre o conhecimento, o acesso ao conhecimento, poder do conhecimento, ao poder que entender várias línguas pode dar, as questões políticas da época entre povo, igreja, império, justiças, injustiças, medo, amor, livros, biblioteca, laberintos...a razão de casa um, suas verdades, obediência, fé, fanatismo...até do poder do cânone literário...fala de tudo isso e ainda tem um mistério à la Sherlock Holmes a ser desvendado. Personagens densos, bem construídos, que refletem bem o seu tempo. Eu não tenho muito o que dizer sobre esse livro além de que é espetacular e gera muitas reflexões. Um livro inteligente, do tipo que seria muito lamentado se fosse queimado, extinguido, censurado ou se você, por alguma razão, não tivesse acesso à ele.
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luisasfreitas 13/05/2020

Um livro de muitas camadas
?O nome da rosa? vai tratar do frei Guilherme que é chamado a um mosteiro e leva consigo o seu aprendiz, Adso de Melk, para solucionar o assassinato (que posteriormente se transformará em uma série destes) de um monge.
Ao primeiro olhar do leitor esse livro pode parecer com um romance policial, mas é muito mais que isso. As discussões, dentre muitas, que ele traz acerca de heresia, das facções dentro da religião católica, conhecimento, livros e até mesmo sobre o riso são extremamente interessantes e enriquecedoras. O pano de fundo da Europa medieval que o autor, especialista no estudo medievalista, imerge o leitor de uma forma espetacular.
No final ficarão ainda perguntas sem respostas, e essa com certeza foi a intenção do autor, deixando para a interpretação do leitor muitas coisas, inclusive o próprio título do livro.
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Júlia 25/05/2020

Nomina nuda tenemus
A premissa de Eco, que Guilherme de Baskerville fosse um precursor medieval de Sherlock Holmes, encontra-se infinitamente ultrapassada em grandeza e completude na figura do frei. Guilherme representa para nós o amor ao saber, e suas lágrimas no sétimo dia nos convidam a pensar sobre o valor do livro enquanto objeto do qual se obtém conhecimento dos mais variados tipos, um objeto que precisa ser protegido - coisa que o frei fez até esgotar-se sua capacidade para tal. Que obra espetacular. Umberto Eco deixa transparecer nas páginas de sua deslumbrante obra literária as marcas de um semioticista e crítico literário que marcou para sempre a história das Letras. Eu, como estudante de Letras, encontrei nessa obra novos significados e novos convites a reflexões sobre o valor dos signos, a arbitrariedade das línguas e o saber científico. Mais que uma obra ficcional, O nome da Rosa é um tratado de Eco, que remonta em si tudo que a genialidade do autor foi capaz de conter. Sem palavras (rsrsrs).
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rizzoka 21/09/2023

"Muitas vezes os livros falam de outros livros"
Em tempos em que todos querem discutir temas profundos de forma sempre muito rasa, eis um livro essencial.

Muito mais que um "Sherlock Holmes medieval"! Nunca antes tinha lido algo tão rico. Desde a primeira página me deparei com uma mistura de cultura, arte, história, filosofia, teologia, tudo isso regado com o mistério de uma narrativa muito cativante.

Inicialmente, tive dificuldade para acompanhar a leitura mas tenha em mente que, com o decorrer do livro, você vai entendendo aos poucos todas as questões políticas e as facções dentro da abadia. Depois me adaptei muito, me vi preso do início ao fim e rezava para a chegada dos trechos em latim em que eu deveria "investigar" seu significado em nosso idioma. Inclusive, grande parte dos trechos em latim não tem muita relevância e servem mais pra você se sentir imerso no ambiente clerical.

A filosofia é inserida no livro de maneira brilhante e simples de entender. É discutida a importância da arte, do conhecimento, do que é ou não pecado e heresia, a corrupção e a hipocrisia dentro da igreja católica do século XIII (talvez... provavelmente, até os dias de hoje), amor, sexualidade e inúmeros outros temas debatidos de maneira profunda, sem ser cansativo ou difícil de ler.

A arte é descrita de forma que você fica admirado com a arquitetura, esculturas das figuras santas e outros diversos detalhes sem nem mesmo vê-los. O autor faz um trabalho descritivo genial onde você consegue se imaginar dentro do mosteiro.

Uma obra que te faz refletir sobre os perigos da limitação do conhecimento e de como a fé pode ser usada como combustível para o mal



[SPOILERS ABAIXO]

A destruição da abadia traz consigo muito simbolismo. Seu primeiro significado mostra o fogo, como símbolo de "purificação" pregado pelo Clero, queimando um lugar com um mal interior grotesco (ex: mistérios religiosos, intrigas políticas, escândalos sexuais) como se numa tentativa de "lavar" seus pecados.

Além disso, vi um paralelo muito grande do Finis Africae com a Biblioteca de Alexandria (que existiu de verdade, no século III A.C). A Biblioteca de Alexandria foi um dos maiores acervos de escritos do mundo antigo. Entretanto, apesar de uma riqueza intelectual imensurável, quase ninguém podia acessá-la. Ironicamente, quando o Império Romano invadiu a cidade, a biblioteca foi incendiada, causando uma perda irreversível ao conhecimento humano. Afinal, já que ninguém podia acessar a biblioteca, quem iria defendê-la num momento de crise?

Talvez, mesmo sendo uma ficção, se na abadia houvesse mais que apenas um bibliotecário e seu ajudante podendo acessar o labirinto, poderíamos ver a obra perdida de Aristóteles
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