Jacques.Bourlegat 18/10/2020
O Nome da Rosa
Umberto Eco tece, além da trama policial com fundo medieval, um enredo complexo e erudito, se desenrolando no ritmo das horas litúrgicas que cadenceiava a vida monástica da época, no qual os personagens Guilherme de Baskerville e Adso, são levados a investigar a verdade sobre crimes ocorridos na abadia no decorrer de 7 dias (se a criação fez-se nesse tempo...por que não essa história?) em que algumas verdades serão descobertas mas nem todas divulgadas.
Uma homenagem clara ao gênero policial e a Sherlock Holmes já se percebe só pelo sobrenome do principal personagem: Baskerville. Suas deduções lógicas e um certo espírito científico, assim como a história sendo narrada por seu assistente Adso completa o quadro.
Muitos já conhecem o personagem pelo filme com Sean Connery dirigido por Jean-Jacques Annaud em 1986. Apesar de ser uma obra-prima do cinema, o livro é bem diferente e vai muito além das questões abordadas no filme, o que muitas vezes acontece com as adaptações.
A leitura da obra nos leva para uma viagem pelos extensos temas da teologia, da filosofia, da história, da psicologia, da semiologia entre outros, em busca dos rastros da verdade. Verdade sobre o crime cometido, sobre a natureza humana, sobre a natureza divina.
Como semiólogo, Eco aproveita para nos instruir sobre a questão da verdade:
"Só então soube, realmente, que meu raciocínio anterior conduzira-me para perto da verdade. De modo que as ideias, que eu usava antes para figurar-me um cavalo que ainda não vira, eram puros signos, como eram signos da ideia de cavalo as pegadas sobre a neve: e usam-se signos e signos de signos apenas quando nos fazem falta as coisas."
Como bibliófilo, Eco nos revela que o mistério da verdade deve ser encontrado entre os livros de uma biblioteca. E nesse caso em particular, ela se torna personagem importante da trama, grande e assustadora, contendo os pensamentos e os segredos de milhares de pessoas.
Os livros e os pergaminhos falam entre si, sussurram uma força que alguns querem ocultar. Essa força é muito bem resumida em uma frase de Baskerville : "O bem de um livro está em ser lido. Um livro é feito de signos que falam de outros signos, os quais por sua vez falam das coisas. Sem um olho que o leia, um livro traz signos que não produzem conceitos, e portanto é mudo".
Assim estamos todos em busca dessa verdade intangível e para demonstrá-la utilizamô-nos dos signos. Esses signos revelam-se principalmente nos livros. Mas se esses livros forem perdidos ou ocultados, de nada valem.
Portanto, o Nome da Rosa é um livro sobre investigação, mas não somente aquela que se mostra no primeiro plano: um crime no mosteiro. E sim sobre uma busca mais profunda do ser humano na qual deveríamos perceber o quão intangível certos signos são para se alcançar certas verdades. Assim como deveríamos perceber o valor efêmero da vida que temos. Pois o tempo passa e, muitas vezes, quase sempre, nada mais resta além de lembranças, palavras, nomes...e tudo mais é levado pela insignificância de sermos pedaços de uma verdade intangível que fenece tal a rosa.