JPHoppe 05/05/2013
As espirais imortais
"O Gene Egoísta" não é um dos livros clássicos e mais conhecidos das Ciências Biológicas por nada. Com uma primeira edição na década de 70, o "livro do jovem autor", para usar as palavras de uma de suas mais famosas resenhas, causou uma revolução no pensamento do processo de evolução das espécies, fazendo perguntas que até hoje são motivo de debate.
"Qual é o alvo da Evolução?". Segundo Dawkins, a resposta não pode ser outra que não o gene. O raciocínio é desenvolvido em várias etapas, mas pode ser decomposto em duas pricipais.
Primeiro, apenas o gene tem permanência suficiente para ser selecionado por meio da Seleção Natural. Seus portadores, os quais Dawkins chama de "veículos", são por demais diáfanos. Os genes (ou "replicadores") carregados por eles, no entanto, são potencialmente imortais, ao realizarem cópias fiéis que são transmitidas para as próximas gerações.
Segundo, precisa ser o gene, e não o conjunto dos genes que compõe o organismo, uma vez que essa associação também é muito breve, um instante imperceptível na escala evolutiva.
"Qual a explicação, baseada na genética, para o altruísmo?". Pondo de lado as explicações teleológicas para o altruísmo (e outros comportamentos), Dawkins sugere com a teoria do gene egoísta explicações suficientes e plausíveis para a ocorrência dos mesmos, usando a "Seleção de Parentesco" como base.
A edição que li também inclui dois capítulos a mais que da primeira edição, sobre o alcance dos genes (não limitados a seus veículos), e a proposta da memética.
Tudo muito bom, mas sou obrigado a distanciar-me um pouco do autor. Aqui e ali há algumas ressalvas de qual é o alvo da seleção, e que não necessariamente é o gene, E SOMENTE o gene, mas também outros níveis na hierarquia, como o organismo e o grupo, mas não é esse o tom adotado em grande parte do livro.
Ainda que seja o genótipo o "manual de instruções" do organismo, e o gene a unidade estrutural que dita a mudança do fenótipo, compartilho a opinião de Stephen Jay Gould de que, por mais que dependa do gene (e suas mudanças), o mesmo é invisível aos olhos da Seleção Natural, que vê apenas o fenótipo. Estabelecer o gene como unidade fundamental é, para mim, uma visão muito reducionista do processo. Outros autores, como Ernst Mayr, foram mais rígidos, ao ponto de classificarem a Teoria do Gene Egoísta como "não-Darwiniana". Não é pra tanto...
Fora este tom, o livro é excelente em todos os demais aspectos, conseguindo explicar de forma suficiente, em nível introdutório, teorias carregadas de matemática que explicam alguns processos evolutivos, como as Estratégias Evolutivamente Estáveis, Teoria dos Jogos e demais.
Merece ser lido!