Ulisses

Ulisses James Joyce




Resenhas - Ulisses


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Fabio Shiva 27/09/2012

só para loucos
1) Hoje é um dia especial: terminei de ler “Ulisses”!!! Viva viva!!! Que dizer desse livro que eu achei chatíssimo até a metade (por volta da página 400), para então começar a gostar mais e mais e terminar achando uma obra linda, genial e muuuito louca???
2) Para escapar de fazer uma resenha interminável, me proponho o desafio de escrever somente dezoito tópicos, um para cada capítulo do livro, cada qual correspondendo a um episódio da “Odisseia” de Homero (Ulisses é o nome latino para Odisseu, originado na palavra grega para “guardar ressentimento”).
3) Nessa obra Joyce se propõe a atingir o mais alto anseio da literatura, que é expressar no romance a totalidade da vida. Mas a complexidade cada vez maior da vida moderna (início do século XX) só pode ser retratada de fato caso o romance se reinvente, extrapole os limites, transcenda as barreiras. E é bem isso o que “Ulisses” faz.
4) A história toda acontece em um único dia, que traz Leopold Bloom (Ulisses) em suas peregrinações pela cidade de Dublin. Stephen Dedalus, o jovem artista, é Telêmaco, e Molly Bloom, a esposa adúltera, é Penélope.
5) Cada um dos dezoito capítulos é escrito em um estilo único e totalmente diferente dos demais. São quase dezoito obras diferentes aglutinadas no mesmo livro.
6) Coisa surpreendente: “Ulisses” tem algumas partes muito engraçadas! Rachei o bico de dar risada em várias cenas, com destaque para o invento da obramaravilha, uma espécie de apito (que deve ser introduzido pela ponta redonda) para descongestionar os gases intestinais de cavalheiros e damas constipados. A suprema invenção do século XX!
7) Outra constatação surpreendente: a obra é realmente revolucionária e genial, mas creio que alcançou tamanha repercussão mesmo foi pelo tanto de putaria: como tem sacanagem nesse Ulisses! Não causa surpresa o livro ter ficado proibido durante 11 anos nos Estados Unidos.
8) E aí é que está a fórmula explosiva: uma linguagem inovadora, uma estrutura intelectualmente desafiadora e, de quebra, a transgressão dos valores morais vigentes, nas muitas referências explícitas e até grosseiras ao sexo.
9) O que leva à reflexão: a literatura parece ter perdido a capacidade de chocar. Não dá para imaginar um livro hoje sendo proibido por ofender “a moral e os bons costumes”. Vitória da liberdade de expressão ou sinal de decadência da civilização? Você decide.
10) O que leva ao questionamento: por que hoje em dia não temos escritores como James Joyce? Corajosos, inventivos, audaciosamente indo onde a literatura jamais esteve? Os escritores do século XX parecem muito mais “avançados” que os atuais. Será que tudo já foi inventado e nada mais resta por inovar? O futuro dirá.
11) Dizem que por conta de suas invenções linguísticas “Ulisses” é mais fácil de ler no original que traduzido. A edição que li foi com a tradução pioneira de Antonio Houaiss. Bem, só posso dizer que não concebo o texto em inglês sendo mais difícil de ler que essa tradução abençoada do Houaiss!!! Parece que o tradutor quis dar conta de todas as possibilidades semânticas, e o resultado foi que o texto em português ficou bem mais erudito e intelectualizado que o original (é o que comentam pela internet). Sorte de quem for ler o livro agora, que já estão disponíveis duas outras traduções em português, e mais focadas na linguagem cotidiana.
12) Uma das partes que mais gostei é o capítulo que corresponde ao palácio de Circe, quando Bloom e o jovem Dedalus visitam um bordel pra lá de animado. O estilo da narrativa é o de uma peça de teatro onde o autor e todos os personagens ingeriram doses maciças de LSD. Lisergia pura!
13) Outro trecho marcante é o capítulo final, com o monólogo da senhora Bloom. São 50 páginas sem uma única vírgula ou ponto, na mais contundente expressão literária do “fluxo de consciência”, com a representação do fluir incessante dos pensamentos do personagem. Podemos dizer que Saramago, em comparação, foi até bem conservador ao inventar o seu estilo próprio de escrever... E Joyce, de brinde, ainda criou uma das mais marcantes figuras femininas da literatura: Molly Bloom.
14) Tudo considerado, apesar de “Ulisses” ser considerada uma obra de estrutura matematicamente perfeita, penso que o livro seria mais gostoso de ler se tivesse a metade das páginas, ou mesmo um terço.
15) Mais fácil de ler, sim, mas não necessariamente melhor. Entendo a proposta do livro, que exige tantas páginas de elucubrações sem fim. No mundo atual, que prioriza a velocidade e multiplicidade de informações, é provável que cada vez menos pessoas se interessem em ler “Ulisses”.
16) Desde o capítulo do bordel, uma ideia louca ficou martelando minha mente: imagine como seria esse livro transformado em filme! Impensável! Impossível! Ainda assim, creio que o David Lynch estivesse à altura da tarefa.
17) Comecei a ler “Ulisses” pela primeira vez há mais de dez anos, e acabei desistindo por volta da página 100. Mas fucei o “Roteiro-chave” que vem no final do livro, e hoje percebo o tamanho dessa influência em minha própria criação literária. Essa estrutura foi um eco distante na composição das letras da ópera-rock VIDA (gravada pela banda Imago Mortis), e teve uma força maior, ainda que mais distante ainda, na estrutura de meu romance “O Sincronicídio”. Que bom perceber isso hoje!
18) Não é fácil ler “Ulisses”, mas o esforço vale a pena – dependendo da motivação do leitor. Para mim, foi como galgar um Everest literário: veni vidi vici!!!


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diário de bordo

Resolvi fazer essa resenha aos poucos, ao longo do caminho, como um diário de bordo. Pois a viagem é longa e cheia de aventuras.

Amostra grátis

Para quem nunca leu e nem pretende ler o “Ulisses” de James Joyce, separo esse trecho para dar um gostinho da leitura. É justamente o parágrafo que acabo de ler agora:

“Inelutável modalidade do visível: pelo menos isso se não mais, pensado através dos meus olhos. Assinaturas de todas as coisas estou aqui para ler, marissêmen e maribodelha, a maré montante, estas botinas carcomidas. Verdemuco, azulargênteo, carcoma: signos coloridos. Limites do diáfano. Mas ele acrescenta: nos corpos. Então ele se compenetrava deles corpos antes deles coloridos. Como? Batendo com sua cachola contra eles, com os diabos. Devagar. Calvo ele era e milionário, maestro di color che sanno. Limite do diáfano em. Por quê em? Diáfano, adiáfano. Se se pode pôr os cinco dedos através, é porque é uma grade, se não uma porta. Fecha os olhos e vê.”

A tradução é de Antonio Houaiss.

Estou na página 42. Faltam só 811.

(22.02.11)

Comecei a ler esse livro há mais de um ano. Até o mês passado, devagar e quase nunca fui chegando até a página 50 e poucos. Agora em menos de um mês li umas duzentas páginas!

Primeiro ponto: demorei mais para ler não pela leitura em si, mas por minha disposição interna. Sempre colocava outra leitura na frente. Mas o fato do livro ser grande e pesado soma-se ao desafio intelectual proporcionado pelo texto, enfim, não resta dúvida de que ninguém mentiu ao afirmar que essa não era uma leitura fácil.

Mas em meados de junho resolvi tomar vergonha na cara e ler o Ulisses de verdade. O tempo todo é uma leitura tensa e intensa. A ideia do fluxo da consciência, de registrar na minúcia cada pensamento dos personagens, de forma fragmentária como são os pensamentos... dificilmente alguém poderá mergulhar tão fundo de novo. Embora Virginia Woolf com sua Mrs Dalloway tenha ao menos a vantagem de ter usado muito menos papel.

Joyce é magistral e exasperador. Fui conferir agora: estou exatamente na página 273.

Uma coisa dá para dizer: é uma leitura muito pessoal. Então vou falar de mim.

Entendo agora um pouco melhor o porquê do estudioso Edwin Muir ter chamado o Ulisses de um fracasso genial, e também entendo mais a admiração de Anthony Burgess (autor de Laranja Mecânica entre outros igualmente bons e totalmente diferentes).

Em algumas partes consegui surfar melhor na onda de Joyce, especialmente ao acompanhar as divagações, suspeitas, julgamentos, repressões e hábitos secretos do senhor Bloom. Uma experiência muito interessante, realmente.

Mas tem outros momentos, camaradas! que dá vontade de atirar o livro pela janela. A imagem mais próxima que encontro para descrever essa sensação é ficar o tempo todo tentando enxergar por cima do ombro dos outros algo que só se mostra de relance, é uma maçaroca de informação tão doida que até faz sentido agora que estou escrevendo essa resenha parcial, mas que na hora de ler foi penoso...

Por isso é que eu mesmo me espanto comigo ao pensar que ainda desejo ardentemente ler Retrato do Artista Quando Jovem, que tenho na versão original, depois que terminar Ulisses!

Adiante!

(12/07/12)

Aproveito para convidar você a conhecer o meu livro, O SINCRONICÍDIO:

Booktrailler:
http://youtu.be/Umq25bFP1HI

Blog:
http://sincronicidio.blogspot.com/

Venha conhecer também a comunidade Resenhas Literárias, um espaço agradável para troca de ideias e experiências sobre livros:
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http://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com.br/
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http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=36063717
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Joao 20/03/2011minha estante
Colocando uma parte do monólogo do Stephen (uma das partes mais complexas, pra mim), você assusta até quem já leu o livro...hehehe.


Fabio Shiva 20/03/2011minha estante
rarara! Valeu pelas palavras amigo João! Na verdade eu mesmo fiquei assustado rarara!!! Espero prosseguir com a leitura e selecionar trechos mais inspiradores!!!


Marta Skoober 16/06/2012minha estante
Fabio, já venceu o Ulisses?


Fabio Shiva 16/06/2012minha estante
Marta valeu pela lembrança hem!!!
Ainda estou na página 60 e pouco!
Na verdade relendo até aqui, comecei a ler mais de 10 anos atrás e parei, agora volto a ler em ritmo de tartaruga baiana na hora da sesta rararara!
Mas estou gostando da leitura, sério!
A parte do Stephen preparando o rim frito é muito vívida! E antes disso, uma insólita masturbação na praia! "Antes da queda, Adão trepava mas não gozava." Vou voltar a ler hoje mesmo! Valeu!!!


Celsol 05/08/2012minha estante
Shiva, nome de mestre hindu, estou na página 100 do Ulisses, depois do enterro no Jornal...Preciso aprender como é que se publica uma resenha neste site aqui, estou tateando e não encontro. Mestre Shiva, me revele o segredo!O máximo que consegui foi comentar a resenha alheia...Gracias, Celsol.


Fabio Shiva 05/08/2012minha estante
Olá caro Celsol! Que alegria encontrar aqui outro aventureiro do Ulisses! Vamos lá, amigo, para postar resenhas é bem simples, mas primeiro você precisa adicionar o livro à sua estante, escolhendo uma das opções (lido, lendo, relendo etc), depois que adicionar o livro, tem um ícone que é "ver o livro em minha estante", daí aparece a capa do livro à esquerda e à direita tem o link para fazer a resenha, ok! Qualquer dúvida é só falar!!! abração


Janaina 01/08/2017minha estante
Já li 80% do livro e acredito que estou trilhando um caminho parecido com o seu. No início achei bem cansativo e confuso, mas de repente as coisas começam a fazer sentido e você entende o porquê da obra ser tão exaltada em todo o mundo. Que livro fantástico!


Fabio Shiva 02/08/2017minha estante
Oi Janaína! Valeu por seu comentário, tive a oportunidade de lembrar um pouco dessa fabulosa obra! E também de perceber que o tempo passou e ainda não li o Retrato de um Artista quando jovem... vamos a ele!!!


Regina 04/10/2017minha estante
Fabio Shiva, resenha estimulante para quem resolve, de uma vez por todas, empreender a viagem atrás do Ulysses.Desta feita leio a tradução do Caetano Galindo. E sigo decidida, que já estou atrasada. Agradeço e vou guardar suas conclusões. Espero um dia trazer as minhas, se não conclusões, pelo menos indagações...




Douglas Finger 03/10/2021

Gigante mór
Uma leitura de tirar o fôlego do início ao fim! Ulysses traz a história de um dia na vida de Leopold Bloom. Naquele fatídico 16 de Junho de 1904, uma quinta-feira qualquer, aconteceram 1112 coisas diferentes na vida deste homem que, basicamente, passou o dia na cidade, fez coisas que uma quinta feira em Dublin possibilita e tarde da noite voltou pra casa. Nada de mais.
Quando soube que o livro era sobre isso, quis ler imediatamente. Não acreditei que seria possível enrolar um leitor com tantas paginas para contar algo tão trivial.
Ler este livro foi a realização de um objetivo pessoal muito ousado. Foi o maior desafio literário e acho impossível alguma outra obra superar, sem nenhum exagero ao dizer. Para mim ainda é inacreditável ter conseguido terminar, não apenas por ser um catatau gigantesco de 1112 páginas, mas pela densidade de cada uma dessas páginas.
Ulysses é uma obra imensa, poderosa e potente. O livro mais impressionante que já li. Pretendo reler daqui alguns anos novamente com toda certeza! Mas digo com convicção: não é um livro que eu recomendo. é muito difícil a leitura. Precisa gostar muitíssimo de todos os artifícios e técnicas de escrita, totalmente impopulares. Tem paginas e mais paginas ilegíveis; Em trocentos mil momentos você não faz ideia do que está acontecendo; Ha mistura contínua entre pensamento-fala-acontecimento-memoria-desejo, tudo dentro de um mesmo parágrafo; Mistura entre o mundo subjetivo e o mundo objetivo e uma infinidade de muitas outras coisas. Trata-se de uma aula literária a cada palavra, muito impressionante. A tradução do Galindo merecia por si só o Nobel de literatura. é absolutamente insano o feito desse tradutor que demorou 10 anos para concluir.
Depois desse livro não tenho medo de ler mais nada. Nada impressiona mais. Essa foi a maior conquista adquirida e com certeza me fez um melhor leitor hoje. Notadamente depois desse livro passei a ler muito mais também.
Estou á procura de pessoas que tenham lido Ulysses também, porque sobre esta obra de arte não falta assunto.
re.aforiori 05/10/2021minha estante
Parabéns Douglas! ??

Se considere mesmo vitorioso! ???
Pois este livro é ?pedrada?! ?

?Ulisses? é um livro que tenho há anos e sempre postergo a leitura. Pois penso esperar chegar o momento de estar preparado... haha! ?

As poucas pessoas que conheço que o leram, falam que o acharam chato, ou que não entenderam, praticamente, nada... haha! ?

E me faltou também mais interesse, confesso. Mas eis aí um livro que precisa ser livro, certamente!

E sua resenha me encoraja a tal empreitada! Muito bem, meu caro! ??

Em contrapartida, dizem que esta tradução de Galindo, deixou ?Ulisses? mais acessível; e há até cursos deste tradutor sobre esta obra...

Porém, eu ainda tenho de ler ?O retrato do artista quando jovem?... para eu chegar até ?Ulisses?, há um caminho a se percorrer...

??


Douglas Finger 05/10/2021minha estante
Renato, fico muito feliz com o seu comentario! Recomendo que leia Ulysses com muita coragem! O retrato do artista da uma base muito boa para compreender Ulysses. Realmente é um bom inicio, pena que eu soube isso tarde!


Michela Wakami 05/10/2021minha estante
Se eu já estava com medo, depois do que você me escreveu, imagina agora. ?????


re.aforiori 06/10/2021minha estante
Douglas,

Imagino que tenho mesmo de ter coragem, e fôlego, muito fôlego ? também. Pois tenho ideia do que me espera! Haha! ?

Eu penso em ler, na verdade, ainda antes de o ?Retrato do Artista Quando Jovem?, o ?Dublinenses? ? que dizem ser a melhor porta de entrada para obra de Joyce ? para conhecer o estilo do autor.

Mas, me diz uma coisa, meu caro...

O que lhe foi mais difícil nesta obra: a tão temida linguagem; o uso de fluxo de consciência empregado; ou o fato de ter de buscar textos de apoio? (é que já ouvi falar que é preciso, até mesmo, conhecer a história da Irlanda, para se compreender ?Ulisses?, e ter lido a ?Odisseia? ? isto é verdade?)

E tudo isso junto em um só livro, o que virá? Kkk...

E outra curiosidade que me surge, naturalmente, sobre ?Ulisses?: houve deleite com a leitura, ou o prazer foi mesmo o de dever cumprido? É que, penso que, existem livros que são para nos aprazer, enquanto há outros que parecem que são mais para nos desafiar... ??

E claro que eu não poderia deixar de lhe perguntar: você já se sente pronto para enfrentar o ?Finnegans Wake?? ?? ? ? que este, sim, seria considerado o livro mais difícil de Joyce, né, chegando ser um livro praticamente intraduzível. Eu cheguei a ler uma única página do mesmo uma vez junto com uma amiga, e pensei: ?meu Deus, o que é isso?? E perguntei para ela: ?você entendeu alguma coisa?? E ela: ?nada...? E eu disse: ?nem eu... haha! ?? Então só nos contentamos a rir e nos sentir demasiadamente humanos para tal coisa. Este é um livro que eu, quiçá, nem queira ler... kkk... francamente... haha! ?


Douglas Finger 08/10/2021minha estante
Otimos questionamentos Renato! Vou começar pelo final: Finnegans Wake é sem sombra de dúvidas o livro mais dificil do Joyce e não esta na minha lista, nem vai entrar! Kkk teria que ler ele em ingles mas, mesmo assim, mto complexo e dificil, acho que nao vale a pena? muito diferente de Ulisses que, apesar das inumeras partes dificeis, da para ler!

Sobre Ulisses oq me fez ler foi,sem duvida, essa odisseia da vida cotidiana, e tambem a questao da linguagem e suas inumeras mutações ao longo do livro? eu sou apaixonado por linguas estrangeiras de uma maneira geral, entao eu curti muito a traduçao do Galindo, mto impressionante mesmo! Foi um prazer que ora vinha do enredo ora do texto propriamente dito?
Sinceramente eu não achei q fosse acabar o livro, entao essa foi apenas uma consequencia agradavel da leitura. Eu separava no maximo umas 20 paginas por dia pra ler.. nada alem disso. O livro não tem capitulos entao você meio q tem q fazer seu esquema de leitura.. cara, um desafio MESMO!

Sobre a questao de textos para apoiar a leitura, te digo q não usei nenhum? mas isso foi totalmente deliberado da minha parte: queria ter a experiencia da leitura, sem mta informacao adicional.. queria ter a minha propria impressao sobre o livro. Uma experiencia surreal e ao mesmo tempo dadaísta haha mas que eu gostei bastante! Eu li os textos de apoio e explicacoes do paralelo entre a Odisseia e Ulisses depois de ter encerrado a leitura? e, sinceramente, achei interessante mas não é isso q faz a obra ser imensa! Cada ?capitulo? do livro tem a ligacao com um orgao do corpo, uma cor, etc.. tem uma tabela dessa no livro explicando, mas é algo mto dificil de entender? oq eu tenho pra dizer é o seguinte: acho q somente em uma releitura de Ulisses passarei a enxergar essas inumeras particularidades da obra.. essas informacoes iriam apenas aprisionar a minha experiencia, ao invez de enriquece-la.. digo isso pq se você não conseguir achar aquilo q tanto dizem sobre uma determinada parte no corpo do texto, você passa a ficar desanimado pq realmente é dificil e complexo.. nao recomendo textos de apoio antes da leitura, nem mesmo ler nada do autor antes de Ulisses. Pq você logo vai perceber q uma vez só não vai ser o suficiente?
Espero ter respondido algumas coisas e lhe desejo muita força e coragem! Abraçao


re.aforiori 08/10/2021minha estante
Definitivamente, obrigado Douglas por compartilhar suas preciosas experiências de leitura com esta grande obra de Joyce, de forma enriquecida de conteúdo e erudição; de modo que demonstra que você de fato compreendeu ?Ulisses? ? e não apenas o leu, como muitos...

E suas apreciáveis abordagens sobre esta obra, me fizeram trazer o ?Ulisses? para mais perto de mim, por assim dIzer. É que me parecia ser um daqueles livros dos que pensamos ler em ?algum dia?, mas que este ?tal dia? sempre nos parece estar distante...

Agora, já estou pensando em ler ?Ulisses?, daqui uns dois anos. ?? Ainda parece muito, né? Mas antes não tinha a menor ideia de quanto o faria.

Sobre o ?Finnegans Wake?, achei que já estava em sua meta, meu caro... haha! ? Brincadeira! Este aí, sim, creio que seja um livro mais para desafiar o leitor mesmo... kkk...
Até os anglófonos temem ao ?Ulisses? e fogem de ?Finnegans Wake? ? imaginaria eu, então: ?para onde iria com tal livro?? Haha! ?

Abraço, meu caro!

??


Paulo Henrique 13/10/2021minha estante
Eu tinha medo de Guerra e Paz que li esse ano e achei perfeito. Foi uma conquista e tanto e quem sabe mais para frente encaro Ulisses. O Ulisses que encarei foi o da Odisseia, que no caso deram o nome de Odisseu.


Carolina.Gomes 14/10/2021minha estante
Douglas, eu confesso: abandonei essa obra. Me acovardei. Mas ainda vou retomar.


Michela Wakami 14/10/2021minha estante
Carolina!!! Medo!!!!!?????




jota 24/08/2020

Avaliação do livro: 5,0/5,0 (obra-prima da literatura universal); avaliação da leitura: 3,0/5,0 (difícil, densa, complexa etc.)
Vale a pena ler Ulysses? Depende. Vale pela experiência da leitura, por saciar a curiosidade de se ter em mãos um livro sem igual na história da literatura universal. Mas aproveitar completamente seu texto, como fizemos com, por exemplo, Os Irmãos Karamazov, de Dostoievski ou José e Seus Irmãos, de Thomas Mann, obras também bastante volumosas, é outra história. No início, a Nota do Tradutor, Caetano Galindo, até que deixa o leitor um tanto animado diante das dificuldades que virão, sabendo ainda que para auxiliá-lo pode contar com outro volume, escrito pelo próprio Galindo, Sim, eu Digo Sim: Uma Visita Guiada ao Ulysses de James Joyce, o único que temos em português até o momento. Mas depois, ao ler a longa e erudita Introdução do professor irlandês Declan Kiberd nosso entusiasmo (pelo menos o meu) arrefece um tanto e ficamos com aquela sensação de que Ulysses será uma leitura não exatamente prazerosa, mas bastante árdua (o que já sabíamos há tempos, convenhamos). É hora de prosseguir ou desistir, ficar com outras obras de Joyce, menos difíceis, como os contos de Dublinenses ou o romance Retrato do Artista Quando Jovem. Mas prosseguimos...

A história narrada em Ulysses é a de um dia, uma quinta-feira, 16 de junho de 1904, na vida de Leopold Bloom. Um irlandês comum, “filho, pai, amante, amigo, trabalhador e cidadão”, ao mesmo tempo um dos personagens mais conhecidos e estudados da literatura universal. Um homem comum: assim também é como Anthony Burgess, o autor de Laranja Mecânica, vê Ulysses e os demais personagens criados por James Joyce (1882-1941), cuja obra ele analisou em Homem Comum Enfim (Companhia das Letras, 1994). Um homem comum que tem, no entanto, seu dia contado através de uma narrativa mutante, complexa, incomum. Extremamente incomum não apenas para a época em que o livro foi escrito (entre 1914 e 1921) mas ainda em nossos dias. Tanto que desde que foi lançado em 1922 inúmeros estudos sobre ele têm sido publicados mundo afora.

Em Ulysses não se encontra (quase) nada daquela escrita tradicional a que estamos acostumados, das histórias com começo, meio e fim tudo certinho, mas uma torre de Babel narrativa, uma montanha-russa de informações e dados com inúmeras alusões à literatura grega, à Bíblia, a Shakespeare e outras fontes, muitas fontes, diversas delas citadas em francês, italiano, alemão, gaélico, hebraico, latim etc. Predominam como formas de expressão dos personagens principais o fluxo de consciência, o monólogo interior, não há distinção precisa entre o que seja descrição, narrativa ou ação: é tudo junto e misturado. Portanto, ler Ulysses não é fácil, entendê-lo completamente (para mim) parece impossível. Mesmo assim, ou talvez por isso mesmo, muitos críticos elegeram o livro de Joyce como a obra literária mais importante do século XX. Por sua modernidade, por ser inovadora, revolucionária e plena de palavras (algumas inventadas, outras juntadas etc.), expressões e frases de duplo sentido, majoritariamente sexual, muitos palavrões cabeludos e um tanto de escatologia. Um exemplo apenas: o escritor (fictício) favorito da personagem Molly Bloom, é um tal Paul de Kock (“Nome bonito que ele tem.”, diz ela ao marido). Entendeu? Falando ainda em Molly, seu monólogo interior, a parte final de Ulysses, é a melhor de todo o livro, a afirmação da figura feminina, que até esse ponto não tinha papel central na história.

À altura do personagem-título de Joyce estariam, para alguns críticos, apenas os sete volumes de Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust (1871-1922), publicados entre 1913 e 1927. Em listas dos melhores livros de todos os tempos, não apenas do século passado, Joyce e Proust costumam perder para Miguel de Cervantes e seu Dom Quixote. Todavia, para o tradutor Ulysses talvez seja mesmo o maior de todos os romances publicados até hoje. Galindo não está falando do número de páginas, evidentemente, que é extenso, apenas deseja que os leitores não vejam em Ulysses somente um quebra-cabeças exemplar, mas um romance de fato. Porém, são tantas as charadas, as dificuldades de entender certas passagens (ou a maioria delas) que o leitor comum encontra em sua leitura, que o romance fica parecido, sim, com um grande jogo montado para divertimento do próprio Joyce e de algumas pessoas de seu círculo em Dublin, capazes de decifrar todos os enigmas que o livro apresenta ou a maioria deles. Claro que não é isso, mas...

Em Doutor Pasavento (Cosac Naify, 2009), Enrique Vila-Matas escreve que “A literatura consiste em dar à trama da vida uma lógica que ela não tem.” Parece uma frase bastante apropriada para quase todos os livros comuns que lemos, mas parece também que em Ulysses Joyce fez exatamente o contrário: o que havia de lógico (ou ilógico, contraditório, curioso etc.) na vida de Bloom, Molly ou Dedalus, pessoas comuns vivendo histórias comuns que poderiam acontecer com qualquer um, torna-se aqui um quebra-cabeças denso e complicado em que o leitor tem de se esforçar muito para juntar as peças e entender alguma coisa do que é contado. Não apenas o leitor, especialistas e críticos também. Senão não haveria tantos livros, teses e artigos tentando explicar um livro que parodia a Odisseia homérica, que “reconstrói” o clássico grego. É a história em cíclica repetição, como se fosse um ”eterno retorno” nietzschiano, mas com várias diferenças agora: Leopold Bloom aparece como um moderno Odisseu (em grego; Ulisses em latim), sua mulher Molly (Marion Tweedy, na verdade) seria Penélope e o amigo Stephen Dedalus (o alter ego de Joyce) pode ser visto como Telêmaco. E assim por diante com os demais personagens. Tudo mais ou menos assim, não exatamente semelhante conforme se passou com a narrativa homérica, transportada por Joyce para a Dublin do início do século XX.

Se Odisseu levou dez anos para voltar a Ítaca após a guerra de Troia (mesmo tempo que Galindo levou para traduzir o livro), Leopold Bloom gasta cerca de dezesseis horas perambulando por Dublin antes de voltar para o número 7 da Eccles Street, sua residência. Naquela quinta-feira, 16, Molly, a moderna Penélope, esperava não exatamente a volta do marido para casa, mas a visita do amante à tarde. Stephen Dedalus não sai à procura de Bloom como Telêmaco saiu à procura do pai, eles se encontram pela cidade. Ao contrário da história original, é Bloom (Poldy, para a mulher, diminutivo de Leopold) que busca encontrar no jovem escritor o filho que morreu logo após o nascimento. E se Molly Bloom, esposa, mãe e cantora lírica, também não é um modelo de fidelidade e virtudes, como foi Penélope, que ficou esperando o herói Odisseu tanto tempo, o marido tampouco tem algo de grande herói, é um homem comum como já foi dito (mas com alguns hábitos estranhos; segundo um acusador, Bloom guardava para contemplação um pedaço nojento de papel higiênico usado por uma prostituta). Ele é apenas um agenciador de anúncios em Dublin, filho de pai judeu e mãe católica: isso importava muito para alguém vivendo num mundo católico, o irlandês.

Joyce pretendia que Leopold Bloom, com todas as suas fraquezas e qualidades, representasse os múltiplos aspectos de cada ser humano, quer dizer, da humanidade. Por isso é que seu personagem não é um homem exatamente viril (tolerava as corneadas que Molly lhe dava, entre outras fraquezas), porque Joyce acreditava, conforme o professor Kiberd, que ele, Leopold, poderia ser o homem andrógino do futuro, com comportamento masculino e feminino perfeito. Mas enquanto isso não ocorre, Bloom, o andrógino imperfeito, inicia seu dia joycianamente. Perambula pela cidade, vai a diversos lugares, a um enterro, mais tarde a uma maternidade, depois a um prostíbulo, relembra ou imagina coisas, conversa com diversas pessoas, observa outras, caminha com Stephen Dedalus pelas ruas etc. Não quer voltar cedo para casa, daí que seu dia é uma verdadeira odisséia por Dublin. E a razão disso tudo, de não querer regressar cedo, é que ele espera que Molly esteja dormindo quando chegar. O motivo? A relação entre os dois não vai bem: Bloom sabe que a mulher, que é bela e admirada por muitos homens, o está traindo com seu empresário (dela, que é soprano, como foi dito antes). Nisso Molly é o oposto da fiel Penélope de Homero: é assim que Joyce nos apresenta a mulher de Bloom. E isso é um jogo, uma brincadeira do autor para com o leitor, entre tantas outras que o livro traz. Joyce faz isso com todos os seus personagens, apronta para o leitor brincadeiras, charadas, enigmas. Dessas coisas o livro está cheio e nem sempre (quase nunca, na verdade) é fácil decifrá-las sem ajuda.

Então é preciso ter em mente que sem algum (ou muito, depende) conhecimento prévio a leitura de Ulysses não irá muito longe, ficará extremamente difícil, complicada, aborrecida. Há gente que recomenda ler não apenas a Odisseia, de Homero, Hamlet, de Shakespeare, Dublinenses e Retrato do Artista Quando Jovem, do próprio Joyce, mas também uma introdução à literatura joyciana como o livro de Anthony Burgess, Homem Comum Enfim, ou o guia do próprio tradutor, Sim, eu Digo Sim, já citado. Foi o que usei: antes de ler cada episódio de Ulysses lia o capítulo correspondente no guia de Galindo. Ajudou um tanto, deu para entender o significado geral da obra e alguma outra coisa, mas o guia não traz explicação para tudo, como o próprio autor reconhece:

“Este livro não é um tratado acadêmico sobre o Ulysses. Ele também não é a chave de todos os enigmas nem a fonte de todos os dados. Foi inteiro pensado para o “leitor comum” e prefere partir do princípio de que o Ulysses — complexo, denso etc. — de certa forma ainda padece por causa dessas reputações. Elas são todas verdadeiras, reconheçamos, mas talvez tenham obscurecido outros méritos e outros atrativos. A ideia básica aqui é a de que todo leitor interessado em literatura de qualidade tem a capacidade e o direito de passar pela experiência profundamente transformadora que é a leitura do romance de Joyce. E não apenas os especialistas. E não somente os obcecados por charadas e estruturas.”

Para finalizar, falando em textos complexos, charadas, enigmas e quetais, há pouco me lembrei de um conto de David Foster Wallace (de quem Galindo traduziu Graça Infinita em 2014) do livro Breves Entrevistas com Homens Hediondos, Datum centurio, que me pareceu mais a descrição de um disco rígido, um DVD, uma listagem de um programa de computação, ou coisa parecida, não me recordo bem (li faz alguns anos), do que propriamente uma peça literária. Ainda que não longo, foi o texto de leitura mais desagradável do volume, o mais difícil de chegar ao final, o mais hediondo. Perto dele Ulysses até que é um tanto palatável, e além de tudo tem aqui e ali pitadas de humor, zombaria e diversas curiosidades e esquisitices que amenizam nossa leitura, sem o que ela poderia ser encarada como algo parecido com um pé no saco do leitor. Do leitor comum, eu.

Lido entre 31/07 e 24/08/2020.
AleixoItalo 24/08/2020minha estante
To me preparando a alguns anos pra ler esse livro hahaha


jota 25/08/2020minha estante
É bom mesmo ir se preparando. Só fui até o fim na terceira tentativa...


Andre 28/08/2020minha estante
Maravilhosa resenha, um dia ainda lerei esse bonitão! hahah


jota 28/08/2020minha estante
Grato. Com muita paciência e alguma ajuda dá para ler sim! Já apreciar (entender) tudo é uma outra história. Mas vá em frente.


Paulo Sousa 31/08/2020minha estante
Estupenda análise, seu moço! E eu li Dublinenses e, sinceramente, posso viver sem o Joyce...hehehe...


jota 01/09/2020minha estante
Grato! Todos nós podemos se temos um Grande Sertão: Veredas.


Karamaru 01/09/2020minha estante
Adorei sua resenha e o critério utilizado para a avaliação do livro. Parabéns!


jota 01/09/2020minha estante
Grato!


Karamaru 02/09/2020minha estante
?




Luiz C. Amorim 12/03/2010

O LIVRO ILEGÍVEL
Por Luiz Carlos Amorim (escritor e editor http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br - Http://luizcarlosamorim.blogspot.com )

Li recentemente Sambaqui, romance de Urda Alice Klueger, livro que recomendo, e depois acabei de ler 1808, livro do jornalista Laurentino Gomes, que tem o curioso subtítulo Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil. O livro é resultado de dez anos de pesquisa investigativa e resgata um pouco da história da corte portuguesa no Brasil, da verdadeira história, não aquilo que lemos nos livros didáticos, superficiais e vagos. Vale a pena ler o livro com suas 414 páginas, para saber como e porque a família real portuguesa fugiu para o Brasil e como foi o reinado de D. João VI, um rei gordo e comilão, ainda que bonachão, que tinha medo de tomar decisões, mas que se manteve no poder. E as transformações que o Brasil sofreu com a invasão dos portugueses, que culminaram com a nossa independência. É curioso, interessante e divertido. O autor conseguiu fazer com que uma narrativa histórica tomasse ares de romance, com um tom leve e agradável.
Antes de ler esses dois bons livros, já tinha começado a ler Ulysses, de James Joyce, mas como o livro havia se revelado hermético desde o início eu havia conseguido ler as primeiras cento e cinqüenta páginas, com muito custo resolvi me dar uma folga. Como prometi a mim mesmo que iria ler aquele livro até o fim, tentei retomar a leitura.
Tenho o livro há anos, mas como ele tem oitocentos e cinqüenta e duas páginas, só há pouco tempo resolvi lê-lo, porque afinal de contas, ele é um clássico. E me decepcionei. Já li outros tantos clássicos da literatura universal, como Germinal, de Zola, O Sol Também se Levanta, de Hemingway, As Vinhas da Ira, de Steinbeck, A Idade da Razão, de Sastre, A Peste, de Camus, O Precesso, de Kafka, e outros, mas nenhum foi tão difícil, tão ruim como Ulysses.
Depois de umas quantas páginas, ao perceber que não havia uma história, apenas um amontoado de trechos de conversas sem muito sentido e um emaranhado de descrições e narrativas enfadonhas feitas por narradores diferentes, sem linearidade, que mudam de repente e não se sabe quem está contando a história (história?), além de invenção de palavras, palavras valise, erros de composição, ausência de pontuação em muitos trechos, repetição à exaustão do termo no que, que poderia ser substituído por então, ao mesmo tempo e tantas outras expressões e muito uso de citações em línguas diferentes, resolvi pesquisar para saber o que diziam da obra.
Fiquei sabendo que o livro carrega, desde que foi publicado a primeira vez, a fama de não ter sido lido até o fim por ninguém. Antonio Houaiss tinha uma nova versão revisada da tradução de Ulysses, antes de morrer, sinal de que para ele fora muito difícil o trabalho de verter para o português um texto onde proliferam aglutinações de palavras (valises) e uso de outros idiomas, mais de vinte deles, além do inglês. Soube que há, ainda, outras traduções para o português, mas desconfio que parte da má qualidade do texto se deve às tentativas de verter tão complicado livro para a nossa língua. Como traduzir um texto tão grande, coalhado de palavras aglutinadas, outras inventadas, além de citações em outras línguas, sem cometer equívocos? Sem contar que o vocabulário era o do começo do século passado. Era uma obra diferente, difícil, sem qualquer possibilidade de prender o leitor, que revolucionou os meios literários da época justamente por quebrar todos os padrões literários então vigentes.
Fui ler a apresentação do romance no volume que tenho, publicado em 1983, para tentar descobrir porque ele é tido como um clássico literário. Lá encontrei que A ação de Ulysses transcorre em Dublin num único dia, 16 de julho de 1904. A divisão ternária, em perfeita simetria, evoca as significações cabalísticas do três. Estudos de lingüística, com auxílio de computador, dão Ulysses como a obra de estrutura matematicamente mais perfeita de toda a literatura. (Então por isso é um clássico? Como nós, leitores comuns, pobres mortais, poderíamos saber disso? E o que interessa isso para o leitor? Mas tem mais.)
A linguagem utilizada por Joyce, que vai do poema à ópera, do sermão à farsa, contém não apenas termos usuais da prosa clássica a mais grosseira gíria (de 1921?) mas também elementos criados pelo escritor com base em seus conhecimentos de latim, grego, sânscrito e mais dezenas de outros idiomas.
Apesar disso, acho mesmo que Ulysses é um clássico e continua sendo publicado porque Joyce pretendeu fazer um paralelo com a Odisséia de Homero, segundo consta da mesma apresentação, cuja parte transcrevi acima. As personagens centrais de Ulysses teriam correspondência com os protagonistas da epopéia grega.
Não pude comprovar isso, pois o texto é desinteressante, disperso, cansativo, o tipo da leitura que não desperta curiosidade nenhuma, não faz com que se tenha vontade de continuar lendo. A gente lê um parágrafo e quando começa o seguinte já esqueceu totalmente o que havia no anterior. O romance (?) não prende o leitor e estou fadado a não contrariar a fama do livro de não haver quem o tenha lido até o final. Tento ler mais, mas o progresso é lento e a esperança de que o texto melhore se revela vã. Serei mais um a engrossar as fileiras dos que não conseguiram terminar a leitura do calhamaço entupido de estilos e de pretensões diversos. Por falar nisso, o autor confessa que imita, neste livro, estilos de dezenas de grandes escritores da sua época e de antes dele.
Então leio mais algumas páginas e leio O Caçador de Pipas, A Menina que Roubava Livros e Crime e Castigo para compensar. Talvez ainda volte a ler mais algumas páginas de Ulysses. Nada me atrai para lá, mas quem sabe?

LMG 21/10/2011minha estante
Ainda bem que ninguém aqui é profissional.


Dave 17/01/2012minha estante
Não li o livro ainda, mas tenho de expressar minha opinião pelo que li sobre o livro desde que o descobri. Acredito que o nosso resenhista não tenha compreendido a grande riqueza deste livro. Pelo que percebi ele(o resenhista) gosta de livros que contenham um enredo, uma narrativa. Acontece que o que Joyce (e todos daquela época, isto é, início do século) queria era mandar a narrativa convencional (perdão pela baixaria) pra PQP. Ele queria mostrar o lado simples e rotineio, muitas vezes sujo e libidinoso, do homem moderno, que em nada se assemelha com o Ulisses de Homero, guerreiro, forte e digno.


LMG 26/02/2012minha estante
\/ Eh... Por aí, mas a comparação é mais com a estrutura da Odisseia do que com o herói em si. Da uma olhada no texto original do Homero e no esquema de Linati.


Luiz C. Amorim 26/02/2012minha estante
Meu caro Dave, você precisa ler o livro primeiro, para depois dar opinião. Aceito a sua opinião, desde que você tenha lido o livro. Todo. E eu falo, na resenha, mais da maneira de escrever, na misturança de estilos que ele faz, que não são nada simples nem rotineiros. Não falo da história em si.Lanço um desafio: leia o livro. Mas leia todo. Abraço do Amorim


Geovane 27/07/2012minha estante
Luiz, parabéns pela sua resenha sincera e corajosa!

Estou na segunda tentativa de ler o livro, acho que talvez consiga passar das primeiras 200 páginas dessa vez. Isso simplesmente porque minha determinação agora é maior, não porque a leitura seja de alguma forma prazerosa.

Pretendo compartilhar minha experiência depois de avançar mais um pouco, veremos como será.

abs


Renata 21/01/2013minha estante
Não li o livro e nem tenho a pretensão de fazê-lo. Pelo menos não por enquanto. No entanto, gostei muito da sua resenha e devo dizer que estou ainda mais convencida de que não me trará qualquer prazer aceitar o desafio de realizar esta leitura. Digo isso porque tentei ler Virginia Woolf (ao que me consta sofreu grande influência de Joyce em seu estilo)e tive as mesmas impressões e sensações no que diz respeito ao estilo fragmentado. Enfadonho é a palavra que melhor descreve. Abraço.


Flávia 06/10/2014minha estante
Oi Amorin! Tenho o livro e tb a leve impressão de que dentro em breve estarei endossando a sua resenha!! Acho que todo leitor deve tentar ler Ulisses e fazer como vc: falar mal (ou bem?, vá saber!) com propriedade. Abs e boas leituras!


Igor Almeida 19/03/2017minha estante
Eu li o livro até o fim e concordo com você, demorei mais de um ano e nesse entremeio li vários outros livros. Tem partes interessantes, mas mesmo essas partes são difíceis de ler. Eu só conseguia ler com atenção 10 a 15 páginas por vez e o ambiente ao redor precisava estar bem silencioso.
Várias cenas fazem referência a Dublin, aos Irlandeses e a cultura vigente, inclusive tem um capítulo inteiro que é simplesmente uma discussão de amigos sobre as obras de Shakespeare, que eu não li, e por isso também achei enfadonho. Acredito que o livro era tragável em inglês para contemporâneos dele e que compartilhavam sua cultura, mas para a gente não.
Particularmente achei os capítulos finais mais interessantes, principalmente o último. Os primeiros também são relativamente bons de ler. Mas o meio é muito maçante.
Só aconselho a leitura a quem queira se desafiar, de conseguir ler um livro extremamente lento e longo etc. mas pela história não, tem outros livros que discutem os desafios do cotidiano melhor.




Luísa Coquemala 02/06/2017

Sejamos francos: o caminho até Ulysses não é simples. Enquanto eu lia o livro, apreciando toda aquela acrobacia estilística, eu me sentia grata por ter certa carga de leitura (e paciência!) para conseguir atravessar tanta informação.

E não é só o caminho até o Ulysses que não é algo imediato. O caminho no Ulysses também pode se mostrar árduo. Talvez seja um daqueles tipos de percurso no qual a gente aprecia toda grandeza no fim, recapitulando o que conseguimos absorver.

Mas eu não quero ser enfadonha. Não vou ficar aqui tecendo loas ao estilo e à complexidade da escrita de Joyce. Isso eu deixo pra algo mais acadêmicos ou para os que querem colocar o livro no pedestal da impossibilidade. Até porque, acima de qualquer coisa, o Ulysses é um livro que, à sua maneira, consegue mexer com as dores e os sentimentos mais comuns. Por baixo de tudo, lá estamos nós. O livro nos lê.

Agora, para vocês terem um vislumbre. Bloom é o grande protagonista do livro. Ao longo do dia 16 de junho de 1904 (e um pedaço da madrugada do 17), acompanhamos as perambulações de Bloom por Dublin. Entramos na cabeça dele, conhecemos seus pensamentos, criamos até um certo afeto por ele (e, claro, ficamos cientes do que as más línguas dizem).

Bloom não quer voltar pra casa. Ele acorda, faz café, vai ao banheiro fazer suas necessidades, encontra alguns conhecidos no enterro do falecido Paddy Dignam, passa no trabalho e, por fim, resolve que não vai voltar tão cedo. Isso tudo porque às 16 horas daquele dia sua mulher, Molly, terá uma visita no mínimo suspeita. Sim: Bloom é o famoso "corno manso". Eu, um pouco romanticamente, tendo a ver uma certa resiliência aí.

Mas a questão é que o casamento de Bloom e Molly está aos frangalhos. Acomodaram. Não transam. E antes fosse só isso! Mas tem mais: Bloom já perdeu um filho, seu pai se suicidou, sua filha está prestes a perder a virgindade e Bloom, no fundo, sabe que fracassou. Ao lado de Bloom, também temos Stephen, jovem que acabou de perder a mãe, testemunha da bebedeira do pai e do abandono dos irmãos.

Nem tudo são flores em Ulysses. E eu diria que, essencialmente, o Ulysses é um livro sobre a dor. Há muitos outros personagens, muitos outros problemas. O monólogo final de Molly, deitada em sua cama, no silêncio da noite, é o contraponto perfeito, um desfecho de tirar o fôlego e marejar os olhos.

E isso ainda não é tudo.

Ulysses não é só mais um livro sobre o sofrimento e as dificuldades da vida moderna. No meio de tanta dor há o cômico, o baixo-corporal, breves momentos de extrema beleza. É preciso ter olhos para ver essas nuanças.

Eis o motivo pelo qual a história do Ulysses é incrível: é uma história essencialmente humana. Foi isso o que pensei ao terminar o livro e me deixou embasbacada. Ulysses dói porque as dores dele são, de certo maneira, as nossas próprias. Não estamos em um mundo de grandes feitos, de guerras e valentia heroica. Pelo contrário: estamos falando de casamentos falidos (muitas vezes sustentados pelas aparências), de família destruídas pela bebida, de filhos que não se dão bem com os pais, de mulheres reprimidas ou tratadas como objeto, de insegurança, do peso do mundo sobre o ombro de simples mortais (e talvez aguentá-lo seja o verdadeiro heroísmo).

A viagem de Bloom, então, é também um pouco das nossas. É o olhar para os nossos defeitos e a atenção aos problemas tão comuns que fazem do Ulysses um livro tocante. Porque, no fim das contas, a vida gira mesmo em torno disso: lágrimas, reflexões, perambulações, traumas. Ou então, como no fim, a lembrança reconfortante dos momentos de verdadeira ternura.

E quando terminamos Ulysses, a única certeza é de que o dia 17 acontecerá (apesar de não sabermos exatamente o que acontecerá). Mas a vida continua, os problemas e as dúvidas estarão por lá. Os nossos problemas também continuam por aqui - e, como no livro, continuamos vivendo apesar dos percalços e dizendo para a vida um sim como o de Molly. E eis o tema digno de narração: porque olhar para nossas questões com mais atenção é o que faz com que entendamos melhor a odisseia que é nossa própria existência.
Lucas 02/06/2017minha estante
Bela resenha. Parabéns!


Juliana 03/06/2017minha estante
Amei a resenha!


Sílvia 07/06/2017minha estante
Você me deu forças para continuar a leitura. Estava com uma tradução horrível. Comentei com uma colega de trabalho que me indicou outra versão. Está é mais tragável por assim dizer é mesmo assim está difícil


Luísa Coquemala 07/06/2017minha estante
Oi, Sílvia. Obrigada pelo seu comentário. Eu também gosto mais da tradução do Galindo! Sabe o que eu acho que pode te ajudar? O Galindo também escreveu um livro chamado "Sim, eu digo sim" - é uma espécie de comentário dele sobre o Ulysses, e é dividido pelos capítulos. Me ajudou muito! Eu lia um capítulo do Ulysses, o correspondente no Galindo, e aí voltava para o Ulysses. Eu recomendo. Espero ter ajudado!


Lau B. 16/07/2017minha estante
Muito boa sua resenha. Acessível, verdadeira e bem escrita. Seu texto conversou bastante comigo e com minha experiência de leitura. Realmente me fez sentir numa conversa, ideias fluindo, felicidade de ter com quem falar do livro!


Sílvia 16/07/2017minha estante
Ajudou sim, Luísa. Vou procurar


Lucas 08/09/2017minha estante
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Mirzão 06/03/2019minha estante
Adorei sua resenha, parabéns!




Jpg 31/03/2011

Quero ler de novo o livro antes de fazer uma resenha decente. Mas meus dedos coçam e minha mente não se conforma em esperar. Por isso só vou deixar uma nota à quem interessar.

Não posso dizer que sou um literato nem tenho nenhum tipo de formação em literatura e, com certeza, a tradução de Antonio Houaiss não é muito tragável, mas considero essa obra como uma "peneira modernista" - um filtro - que separa os amantes da linguagem e da escrita, dos simples amantes de historinhas. E é exatamente por isso que muitas pessoas não gostam dele, que o consideram ruim; e normalmente esses leitores são os mesmos que acreditam em vampiros que brilham, ou em algum tipo de mago da auto-ajuda.
Renan 25/07/2011minha estante
pô! depois dessa deu vontade de ler!!!!


Mika 26/11/2011minha estante
gostei principalmente das últimas referências, apesar de ter lido e gostar no tempo que li desses vampiros, também sei admirar obras de verdade.


Lena 23/07/2012minha estante
Leio muito historinhas assim, Me dizem que não tenho idade p/ estas leituras... Mas quer saber?! Cou ler e ponto! kkkkk


Lena 23/07/2012minha estante
Leio muito historinhas assim, Me dizem que não tenho idade p/ estas leituras... Mas quer saber?! Cou ler e ponto! kkkkk


Márcia 31/07/2012minha estante
Também não tenho nenhuma formação em literatura, o que tenho é muita Paixão! Já tentei ler Ulysses 2 vezes mas com tradução do Antonio Houaiss, agora ganhei de presente com a tradução Caetano W. Calindo,sempre tive muita vontade de ler esse livro, sinto que agora vou conseguir.


Regina 04/10/2017minha estante
Deve ser a quarta vez que recomeço a leitura... Desta feita tenho esperança de chegar mais longe, porque também faço acompanhar a leitura da bússola do tradutor, Caetano W. Galindo - "Uma Visita Guiada ao Ulysses de James Joyce", e, de quebra, me delicio com as observações de Noga Sklar em "O Gozo de Ulysses". Torna-se mais longo o percurso, mas não me perco tanto com tais cicerones... Talvez eu morra tentando... Ou, quem sabe, venha fazer uma resenha antes de partir para o céu dos livros, sonhado por Borges. Foi Borges, eu acho, que sonhou um paraíso povoado de livros...




Dan 28/03/2021

Difícil
Fez eu me sentir bem burro mas só lê, confia na call
Lala 28/03/2021minha estante
vida de leitores de clássicos resumida em uma frase


Dan 28/03/2021minha estante
KKKKKKK olha esse ano eu tirei pra ler vários clássicos e é isso mesmo


Ninguem 13/02/2023minha estante
Melhor resenha kkkkk




Gley 30/11/2009

Uma experiência de leitura.
Muito já foi dito e escrito sobre "Ulisses", e provavelmente é impossível acrescentar hoje alguma informação nova à discussão. Desta forma, o mais sensato é colocar aqui minha experiência pessoal.

Enquanto era estudante universitário, costumava freqüentar a livraria do Campus olhando tudo sem comprar nada, para me atualizar do mercado literário de novidades a que eu não tinha acesso e nem muito interesse (levando em conta que toda a minha leitura provinha da biblioteca do meu irmão, do meu pai e da universidade, e todas eram lotadas de clássicos).

Um dia, entretanto, folheando um lançamento comemorativo dos 80 anos de "Ulisses", resolvi ler as primeiras páginas. E não parei mais. Na própria livraria, neste mesmo dia, terminei a primeira parte (página 70) em pé. Alguma coisa ali continha que me cativou. Como não existia na biblioteca, e eu não tinha dinheiro para comprar o romance, retornei todos os dias à livraria até que comecei a ser mal visto. Mudei de loja e continuei nesse procedimento até o final da segunda parte (página 725). Infelizmente, por falta de tempo, tive de encerrar a empreitada sem ter terminado a história.

Anos depois, logicamente comprei a edição e o terminei, e desde então já adquiri outras traduções e li o original em inglês. O mais impressionante de tudo é que há tanta informação e subtexto que parece nunca esgotar o furor de abrir o livro novamente. O manejo das palavras e o estilo inconfundível de Joyce até hoje são considerados únicos por diversos críticos, e com certeza poucos são capazes de compreender a imensidão e variedade de "Ulisses".

Leia, depois pesquise, e volte a ler. Repito essa seqüência há anos, e um dia quem sabe eu consiga ler "Finnegans Wake", a obra definitiva do autor, uma verdadeiro "Ulisses extreme".
Quelemem 28/08/2010minha estante
Também corro atrás do Wake...


Menezes 04/09/2010minha estante
Adoro Ulisses mas o Finnegans me quebrou, ainda preciso comer arroz e feijão


formasfixas 26/04/2011minha estante
Ler de forma entendível o Finnegans Wake é impossível. O máximo que se pode fazer é estudá-lo. Leiam-no, riam de seus trocadilhos, de suas piadas. Sintam sua musicalidade. "É pura música", dizia Joyce.




Quelemem 15/09/2011

Certa vez...
... ouvi falar de um livro e da dificuldade de lê-lo. Aceitei isso como um desafio. Li - pensei, sofri, senti, amei, busquei, perdi, fui. No fim, olhei para o mundo e para o ser humano, e os vi mais vastos e nítidos.
Rafael 07/09/2012minha estante
Curiosidade sobre o autor:
http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/6-escritores-consagrados-que-nao-enxergavam-direito/?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super


RegularJhon 03/04/2023minha estante
Caralho


JosA225 28/12/2023minha estante
Obra complicadíssima, sem as notas não consegue-se entender nada.




Mateus com h 25/03/2020

Eu decidi ler Ulysses
Meu vigésimo quinto livro do ano.
Venho de Cortazar e Cervantes antes deste.

bom, olhei o livro na prateleira e senti que devia lê-lo. mas precisei de certo modo, "conhecer o inimigo". Não consegui sair desenfreado folheando as páginas, busquei informações de gente que se especializou na obra, assisti diversos videos, etc. respeitei ele aqui fechado por cerca de um mês. e mesmo assim não senti em nenhum instante estar preparado. fui no sentir e teimosia talvez.

o Ulysses é um livro pesado? é

deixou de suprir as expectativas? muito pelo contrário.

eu acho que esse livro é como
um caos
que não pede licença.
(to sendo cuidadoso pra não dar spoiler)
caos de ordem humana
cheio de coisas comuns
que podem (e devem)
e conseguem
tocar a alma
de quem se atreve
a ir além
do convencional

falando em atrevimento
(mas que porra de livro bom)
eu acho que pelo menos
uma vez na vida
(ainda mais agora onde lêem "sou foda" e saem do livro se achando)
vocês deveriam se atrever a ler
e mais do que isso
se atrever a mergulhar

porque 1100 páginas não é leitura esquecível

muito pelo contrário
ela crava
visceras
entranhas
sangue
tripas

para chegar ao coração
para não sermos mais os mesmos
Ulysses é um livro pra se contemplar lendo e se ler contemplando

não procure balões em cactos.

"feche os olhos, tome ar, é hora do mergulho..."
doc leão 17/05/2020minha estante
Você descreveu com exatidão o que é a experiência ou a Odisseia ao ler Ulisses


Raphael 19/05/2020minha estante
Ótima resenha!


Mateus com h 12/09/2020minha estante
Obrigado povo!




Leila de Carvalho e Gonçalves 12/07/2018

Excelente Tradução
A primeira vez que comprei o livro, foi uma tradução de Houaiss, a pioneira no país, e confesso que o famoso dia 16 de junho de 1904 levou anos para passar....

Aqui em casa, "Ulysses" rodou de um cômodo para outro, frequentou minha cabeceira e, inacabado, acabou na minha estante, entregue a um sono profundo, livre de qualquer admoestação.

Ora ou outra, o dorminhoco vinha a pauta e eu, desanimada, adiava a leitura. O que me animou relê-lo, foi justamente essa edição, traduzida por Galindo, extenuadamente elogiada. Resolvi arriscar e hoje, dou por concluída minha peregrinação literária.

Eis um romance genial, porém, complexo, difícil vencer suas páginas com atenção e o devido entendimento. Traduzir Joyce não é uma tarefa fácil e conseguir capturar "sua imensa gama de cores, registros, estilos, recursos e efeitos? trata-se de uma homérica odisseia com o perdão do trocadilho. Porém, sou imensamente grata ao tradutor pelo percurso mais suave, menos pedregoso, que ele soube preparar.

Indico a leitura não só do livro, como também recomendo a dupla Joyce e Galindo.

Para finalizar, caso assuma o risco dessa aventura, fica meu apoio e desejo-lhe boa sorte!
Orochi Fábio 29/11/2019minha estante
Li a edição antiga: desejo ler esta!


Leila de Carvalho e Gonçalves 30/11/2019minha estante
Recomendo. Boa leitura!


Angelica75 14/05/2020minha estante
Depois de sua resenha e indicação dessa edição, estou tomando coragem!




Adnildo 17/01/2015

"Este é o livro ao qual todos somos devedores, e do qual nenhum de nós pode escapar." T. S. Eliot
E es que depois de mês e meio dou por encerrada minha leitura de Ulisses. Digo isso com muita satisfação já que o final foi feliz. Depois desta experiência literária, não há mortos nem feridos, não há ressentimentos nem remorsos. Há somente leveza de espírito, sentimento de dever cumprido, e endorfina por todo o corpo, começando pelo cérebro e irradiando para as extremidades. Mas, deixando a poesia de lado, caminhar por Dublin do começo do século XX conduzido por Joyce sempre será um prazer.
Ulisses é comumente apresentado pela crítica como uma paródia da Odisseia de Homero, e é considerado pela mesma como um daqueles livros que amedronta o imaginário dos leitores, seja pelo número de páginas ou pela linguagem e estilo próprios. Mas confesso, que apesar de sua imprevisibilidade, me diverti muito lendo seus 18 capítulos, procurando as referências de localidades no mapa no apêndice do livro, tentando encontrar o ritmo adequado para cada trecho e procurando sempre uma ponte que o ligasse a Homero.
Escrita entre 1914 à 1921, Ulisses é simplesmente a trajetória de um dia, 16 de junho de 1904, de dois cidadãos dublinenses. Um, Stephen Dedalus, jovem de 22 anos, professor, é inteligente e sagaz. O outro, Leopold Bloom, um jovem senhor de 38 anos, publicitário, é gentil e cordial. Tudo acontece nesse único dia. A impressão que nos dá é que Joyce queria, quando na construção de sua obra, que os leitores, ao lerem Ulisses, sobrepusessem sua própria rotina com a dos seus heróis. Há o ritual do café da manhã; as observações mais rotineiras, como a de uma gatinha e seu ronronar ao se esfregar em uma cadeira; a ida ao banheiro; e a saída as ruas da cidade, além de eventos como enterro de um conhecido de Bloom e o nascimento de uma criança na maternidade.
E onde reside a dificuldade da obra? Esta obra Joyceana representa, antes de mais nada, uma ruptura com os modelos de escrita anteriores. Ele, como uma criança travessa e rebelde, não se rende aos modelos vigentes e cria novas formas, experimenta, traciona e comprime a língua escrita. Testa até o limite da plasticidade a linguagem. Cria personagens inesquecíveis e nos permite mergulhar em suas psiques, ainda que muitas vezes, quase que incompreensíveis. O monólogo interior é algo deslumbrante e assustador. Os pensamentos se cruzando, sem ordem; essa é a cabeça de um homem comum, meio maluca, quase ilógico. As inúmeras referências também complicam um pouco, já que você, muitas das vezes é obrigado a consultar o rodapé, atrapalhando desta forma a fluidez da leitura.
A comparação com o original grego, para uma primeira leitura, quase não tem fundamento. Ulisses é para mim é uma leitura única, e se eu não soubesse de que se trata de uma paródia, em nada atrapalharia a beleza da obra ou seu entendimento. Até porque, elas diferem em muitos pontos, e em certos capítulos chegam até a ser antagônicas. Temas como sexualidade e antissemitismo estão sempre retornando. Além da referencia persistente à Hamlet de Shakespeare dissolvida em toda a obra.
Por favor, não se intimidem com a chatice de Buck Mulligan no primeiro episódio; não se percam nos labirintos de mentes do décimo episódio; não desistam das loucuras do décimo quinto episódio; e guardem fôlego para o último episódio. No mais, boa sorte e boa leitura!!
Gláucia 20/01/2015minha estante
Sua resenha está excelente, apesar de instigante não me sinto preparada. E nem sei se estarei algum dia pois leitura pra mim é entretenimento, leio por prazer e diversão.


Adnildo 26/01/2015minha estante
Obrigado pelo comentário, Gláucia. Existe o momento certo para cada livro.


Jardel 12/12/2018minha estante
Bela resenha amigo Adnildo!
Acabo de adquirir essa importante obra, logo iniciarei a leitura.
Forte abraço!




Francisco240 30/06/2021

"Taxidermia literaria"; aplicada ao psicológico
Mano... esses foram os 121 dias mais longos do ano! Esse livro é difícil, divertido, complicado...????
O Joyce tem uma peculiaridade ao escrever, ele mistura as palavras, com por exemplo palavras que tem hífen acabam por perder ou mesmo mistura uma frase inteira como isso aqui: contransmagnifiquebraicabruntancialidade. Que lindo, né?
E não posso deixar a melhor passagem do livro de fora: T.N.C.! (TOMA NO ???)
O livro da mesma forma está banhado em um certo lirismo, que pode ir ao cômico em questão de duas frases.
Sem sombra de dúvida é um livro de grande renome de grande peso e que só pode fluir com uma releitura.
Marcinhow 30/06/2021minha estante
Tá de parabéns só por ter enfrentado pela primeira vez, já vejo os trinta anos se aproximando e ainda não desenvolvi coragem pra enfrentar esse calhamaço.


Francisco240 01/07/2021minha estante
Hahahahahahahahahah


Francisco240 01/07/2021minha estante
Não tenha medo! Apenas enfrente ele é vc vai rir muito... kkkkkk




haroeira 18/10/2016

Ulisses!
Não dei conta. Sofria todo dia ao saber que à noite eu me encontraria com aquele livro de narrativa fragmentada. Eu não entendia nada, me desentendia, mas fui dando espaço para que ele resolvesse acontecer. E nada. Aí comecei a sofrer ante a possibilidade de abandoná-lo. (conto nos dedos os livros que larguei, não passam de cinco) Dei mais chance ainda a Joyce, mas na página 262 eu desisti. Pra me conformar, peguei pra ler Dublinenses, de contos. Gostei. E anteriormente tinha lido Ulisses (Odisseu) de Homero, uma antessala de 20 anos para entrar num quarto de uma dia. Não dei conta. Confesso.
Hélio Rosa 11/01/2017minha estante
Há pelo menos vinte anos atrás, eu também desisti do Ulisses, do Joyce. Culpei à época o tradutor pelo meu fracasso. Ledo engano, meu problema é Joyce, o autor. Não lastimo, mas sinto a lacuna.


Lili 14/09/2017minha estante
"uma antessala de 20 anos para entrar num quarto de um dia" - adorei!
Estou lendo Ulisses e me sentindo perdida também.




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