Sparr 16/01/2023
O sabor amargo do pertencer, sem pertencer
Maya foi na vida o que pôde e o que se propôs, mulher forte e presente.
Esse livro, lançado pela primeira vez em 69, foi marco na adolescência de pessoas maravilhosas como Oprah Winfrey, que se viu nas páginas e reconheceu o dessabor da segregação e da necessidade de se fazer maior, gigante, para conseguir cantar alto o suficiente para nunca mais se ver acuada em uma gaiola. Por meio de sua autobiografia, Maya conta sua infância e parte da adolescência, partes estas que a marcaram para sempre.
Quando ela descreve, em riqueza de detalhes, seus abusos, ou quando descreve como era a formatura na escola de negros, ou quando coloca os brancos quase como seres mitológicos, quase nunca vistos, mas que pareciam dominar o mundo e ter nas mãos a vida, em todas as descrições, a autora permite que experimentemos seus sentimentos e pensemos em quão difícil deve ter sido revisitar as suas dores para que outros não as sentissem, ou, infelizmente, para que se vissem nas muitas marcas e descobrissem que a sobrevivência é luta, não opção.
Poder ter contato com Maria Firmino, Djamila, Conceição Evaristo, Alice Walker, Viola Davis, Michelle Obama, e tantas outras mulheres negras que se mostram maiores que o tempo e mais fortes que a maldade causada pela minha raça, que reforço o meu compromisso de nunca deixar de ser antirracista, de lutar para que os meus semelhantes abandonem suas superioridades falseadas e provindas do privilégio que nossos ancestrais conseguiram com o sangue de inocentes. São por elas que ato o meu compromisso de ser melhor. Espero nelas e nas que virão, não marcas da violência e da separação, mas pessoas que encontrem espaço, voz, voga e valor. E que os meus saibam que isso não é mais que nossa obrigação.