Carla.Parreira 08/11/2023
Mundo Singular: entenda o autismo (Ana Beatriz Barbosa Silva/Mayra Bonifácio Gaiato)...
Melhores trechos: "...Homens, de forma geral, perdem, de longe, para as mulheres, nas questões relacionadas às habilidades sociais; têm muito mais dificuldade em perceber o quanto seus atos influenciam no ambiente ou no sentimento das pessoas. Eles podem agir de maneira grosseira ou até magoar os outros, sem se darem conta. São mais rígidos e controladores, pouco hábeis na arte de comunicação e, muitas vezes, compartilham momentos apenas quando são do seu interesse. Os hobbies masculinos tendem a ser mais restritos, como futebol, carros, dinheiro, por exemplo. Eles não conseguem ter a percepção correta de como as mulheres podem se divertir com um simples chá de bebê ou qual é a função de um detalhe ou enfeite que não serve para nada! Em pessoas com traços de autismo, este cérebro masculino é ainda mais evidente. De fato, o pesquisador inglês Simon Baron-Cohen levanta a hipótese de que o cérebro autístico seria um cérebro predominantemente masculino, como resultado de uma exposição maior à testosterona, o hormônio masculino, durante a gestação. Estudos genéticos, apesar de muito importantes, ainda engatinham nas elucidações da causa do autismo e é provável que a tese do excesso de testosterona não explique todos os casos de autismo existentes no mundo. Mas tudo indica que isso pode ser um dos fatores nessa colcha de retalhos... Seja lá como for, tanto mulheres quanto homens que apresentam um cérebro com funcionamento autístico (considerado um cérebro extremamente masculino) terão suas habilidades sociais prejudicadas. Isto é um marco do autismo. Porém, existe uma hipótese de que as meninas com traços leves de autismo conseguem "mascarar" melhor suas dificuldades pela predisposição feminina de serem melhores na linguagem e na inteligência social. Isto é, outras aptidões típicas do cérebro feminino compensariam sua genética autística. Não sabemos ainda. Talvez, os casos leves não cheguem a ser tratados e, por isso, as meninas quando são diagnosticadas com autismo aparentam ter um quadro mais grave do que os meninos. Precisamos estar mais atentos a elas...
As pessoas com autismo foram e ainda são, em algumas situações, rotuladas como pessoas que não têm sentimentos. Acreditamos, porém, que isso é uma injustiça e pretendemos derrubar esse mito. Podemos pensar que o cérebro de uma pessoa sem autismo funciona como uma unidade. As várias áreas do cérebro têm suas funções particulares, mas são interligadas. Já nas pessoas com autismo, estas áreas não conseguem se comunicar efetivamente. A pessoa, portanto, tem dificuldade em expressar seus afetos e pode fazer isso de maneira alternativa e inadequada. Farão isso não por falta de sentimento, mas porque a área do cérebro onde os afetos são vividos não se conecta corretamente com a área onde os afetos são expressos. Isso faz com que pessoas com autismo tenham sentimentos verdadeiros e profundos, mas não consigam expressá-los tão facilmente. Cabe a nós, portanto, ensiná-las a perceber e a reconhecer tais sentimentos e também compreender o jeito como se expressam, sem esperar que sejam como nós. Às vezes, uma criança com autismo pode expressar a sua gratidão oferecendo uma pedrinha, e manifestar seu amor com um pequeno toque na sua mão. E tenha a certeza de que isso é muito para eles..."