Sô 16/05/2017Ellen, a personagem principal, sempre foi muito curiosa. Desde pequena desmontava os rádios para saber como funcionavam e essa curiosidade permaneceu com ela durante toda a sua vida, sempre questionando tudo.
Quando adulta passou a trabalhar no Projeto Argus, que tem como objetivo buscar sinais extraterrestres através de radiotelescópios. Esse tipo de estudo é visto como banal entre a comunidade científica e chegam a cogitar cortar os fundos do projeto, só que para surpresa de todos, num belo dia chega um sinal. Uma série de números primos vindos da estrela Vega, que fica a 26 anos-luz da Terra. Dentro desses códigos há a primeira imagem televisionada da história, a de Adolf Hitler no discurso de abertura das Olímpiadas de 1936. Ou seja, os extraterrestres aparentemente retransmitiram a mensagem. Por quê? Seria uma forma de contato?
Mais para frente descobrem que essas mensagens são uma espécie de páginas de um livro, e que precisam esperar a transmissão da última página para recomeçar desde a primeira e assim conseguirem analisar a mensagem desde o começo. Quando isso acontece, descobrem que o tal livro é um manual de instruções para a construção de uma máquina. Uma máquina que possui cinco assentos. O convite está claro.
Quem conhece um pouco de Carl Sagan sabe que ele não se limitaria a ciência. Ele fala bastante de religião – através das conversas entre a Ellen que é agnóstica e um pastor - inserindo uma discussão relevante e extremamente interessante sobre Deus, o nosso papel no universo e outras questões filosóficas. Essas passagens são de longe as minhas favoritas.
Ele também vai detalhar não só o funcionamento da máquina como todos os trâmites diplomáticos. Temos um vislumbre de como cada país se comportaria e toda a burocracia envolvida. Como o livro é de 1985, a questão EUA x URSS ainda estava em alta e é bastante abordada no livro.
Assim como detalhar como cada país reagirá a tal mensagem, ele também vai mostrar como cada religião encarará a mensagem. Muitos consideram uma mensagem do Diabo e outros acham que chegou a hora do juízo final e sai doando todos os bens. Consigo imaginar essas coisas acontecendo claramente se a gente recebesse sinais extraterrestres.
O final do livro é de uma ironia sem tamanho. Spoiler: após a volta da jornada incrível pelo espaço, os cinco tripulantes a bordo descobrem que a nave nem saiu do lugar e que todas as fitas que usaram para gravar a experiência, se apagaram. Ela que sempre criticou as experiências religiosas, acaba vivendo algo parecido.
Mas acho que o que mais ficou gravado em mim nessa leitura foi um personagem que possibilita tudo isso, o Hadden, um bilionário que não sabe mais o que fazer com tanto dinheiro e vai financiando esses projetos. Um cara poderoso assim tem como maior ambição a imortalidade, deixando para trás seus legados. Para Hadden não bastava todos esses projetos e empresas, ele queria um “sarcófago voador”, na qual ele mesmo seria a cobaia. Pensou que seria incrível poder viajar no espaço o máximo possível e quando morresse ficaria vagando infinitamente. Sozinho. Achei essa ideia tão claustrofóbica que me deu até uma coisa ruim enquanto lia.
É um livro que gostaria de reler futuramente pra ver se passo a entender as passagens sobre a física que nesta primeira leitura entendi bulhufas. É inclusive por causa dessas passagens que não consigo dar cinco estrelas, porque já que não estava entendendo muita coisa, acabava ficando tedioso e cansativo. Mas no geral, que jornada!