Lili Machado 20/04/2012“O melhor dos thrillers é aquele em que o próprio leitor é o assassino!” – Umberto EcoUmberto Eco, neste O Pêndulo de Foucault, lançou a premissa literária da conspiração religiosa complexa, com uma seita secreta – popularizada com o Código da Vinci de Dan Brown.
Até o advento de Dan Brown, Umberto Eco e seu Pêndulo de Foucault, foi, durante anos, um símbolo de intelectualidade a ser ostentado em mãos, em reuniões importantes.
Um Pêndulo de Foucault, assim chamado em referência ao físico francês Jean Bernard Léon Foucault, é uma experiência concebida para demonstrar a rotação da Terra, em relação a um referencial, bem como a existência da força de Coriolis. A primeira demonstração data de 1851, quando um pêndulo foi fixado ao teto do Panthéon de Paris. A originalidade do pêndulo reside no fato de ter liberdade de oscilação em qualquer direção, ou seja, o plano pendular não é fixo. A rotação do plano pendular é devida (e prova) a rotação da Terra. A velocidade e a direção de rotação do plano pendular permitem igualmente determinar a latitude do local da experiência sem nenhuma observação astronômica exterior.
Agora, vamos ao livro:
Entediados com seu trabalho, três editores de Milão elaboram um plano fictício, que conecta o desaparecimento dos cavaleiros medievais templários, com seitas secretas dos tempos antigos e modernos.
Esse plano produz um mapa indicando os pontos geográficos através dos quais os poderes da Terra podem ser controlados – um em Paris, França, no Pêndulo de Foucault.
Ao alimentar o plano no computador, eles se tornam obcecados com sua trama, e prevendo o reaparecimento dos Templários, a tempo de retomar o poder.
Mas, o que acaba acontecendo é que a brincadeira torna-se real demais, quando grupos de satanistas tomam conhecimento do tal mapa, e dele resolvem se apossar, indo até o ato de matar um dos editores, em sua luta pelo controle do planeta.
Denso e provocativo, o thriller é uma mistura de meditação metafísica, estórias de detetives, filosofia, história, enigmas matemáticos, mitologias religiosas e multiculturais, ocultismo, mistérios herméticos, Rosacruz, Jesuítas, Franco-maçons, voodoo, magia, computadores tentando reproduzir o nome verdadeiro de Deus, mistérios da Torá judaica, druidas, túneis subterrâneos que conectam pontos estratégicos do planeta, séculos de conspiração e uma batalha pelo domínio do mundo, segredos passados de geração a geração aos poucos escolhidos – ad infinitum. – entenderam agora?
A narrativa é um exercício cerebral no qual Eco sugere que a arrogância intelectual não leva a bons termos.
Provavelmente, foi o primeiro livro que li (há muito tempo atrás), que me fez pensar sobre a natureza da realidade – o que é real, o que é conhecimento científico, como sabemos e quem decide.
Adorei os jogos mentais, as tramas de conspiração.
Houve momentos que pensei estar envolvida na conspiração e que poderia estar em perigo também. No fim do livro, seu ponto de vista sobre o mundo vai mudar.
Achei a linguagem muito densa, sim; mas com toques de saboroso prazer intelectual – uma jóia genuína. No começo você pode achar que não está entendendo nada – não importa – continue. Umberto Eco planejou exatamente isso! Aproveite o livro e passe por cima de pequenos detalhes e datas – absorva o conjunto da obra. Você terá bastante tempo para pensar sobre tudo isso depois de ter terminado. Não pare para pensar: Eu não estou entendendo, vou parar de ler. – não! Termine o livro!
Umberto Eco escreve dessa maneira – os livros dele são apena para os fortes de espírito – pessoas com perseverança e que lutam para conseguir o que poucos conseguem. Seus livros são deliberadamente criptografados – são para os fortes que permanecem no campo de batalha, recebendo, ao fim, a recompensa, como pétalas de rosas.
O próprio Umberto Eco admitiu que incluiu as primeiras 100 páginas de pura história em O nome da Rosa, para desencorajar os leitores que não possuíssem a tenacidade necessária para continuar o livro.