Rafs 07/11/2020
Mais bem desenvolvido que o primeiro, mas revoltante
"I am a soldier. I am the Sun Summoner. And I?m the only chance you have.?
Várias coisas que eu não gostei no primeiro livro foram corrigidas nesse, como o aprofundamento da história e dos personagens. A riqueza de detalhes e a construção de mundo impecável permanecem. Por outro lado, a trama ficou beeem mais lenta, mas ainda assim foi uma leitura boa, a escrita da Leigh Bardugo é envolvente até nas descrições mínimas. O que me fez tirar estrelas desse livro foi a raiva que eu passei com alguns personagens.
Eu amo fantasias com romance, mas não me importo de a protagonista acabar sem nenhum par romântico se isso for o melhor pra ela. Esse é totalmente o caso.
O relacionamento do Mal e da Alina não faz o menor sentido e foi muito mal construído. Eles passaram a vida toda juntos e ele nunca percebeu que ela gostava dele, até que eles ficam separados por alguns meses e ele decide que gosta dela (????). E ela ainda aceita como se fosse a melhor coisa do mundo.
Alem disso, o tempo todo o Mal é descrito pela Alina como uma pessoa que se adapta muito fácil. Ele se adaptou bem ao orfanato onde eles cresceram, ao Primeiro Exército, ao país no qual eles ficaram pouco mais de uma semana e ao navio do Sturmhond. Em um momento do livro, eles chegam em um lugar e a Alina diz que se sente em casa. Depois de incontáveis páginas do Mal reclamando e dizendo que não se encaixa nesse tal lugar, a Alina começa a pensar da mesma forma. A influência que ele tem sobre ela é quase abusiva. Ela diz que ama ele, mas ele provoca tudo nela, menos amor.
A Alina que cresceu com ele não existe mais, e ela fala isso várias vezes nesse livro. Ela mudou e PRECISA ser uma pessoa diferente pra enfrentar seus novos inimigos e fortalecer seu poder. O Mal não deixa ela ter esse foco; ela tem mil coisas importantes pra fazer mas fica se preocupando com ele o tempo todo, e as vezes nem é culpa do drama dele, mas da relação toda atrapalhada que eles tem. Os dois querem e precisam de coisas diferentes, então não acho que um consiga fazer bem pro outro enquanto os interesses deles forem tão conflitantes. Eu entendo porque ela quer manter ele por perto, ele é uma lembrança da parte "humana" dela e, de certa forma, a única família que ela tem. Mas eu acho que ela teria um desenvolvimento muito melhor sozinha.
Vi muita gente falando que eles são adolescentes e ciúmes é normal, e eu concordo. Mas isso é bem diferente. Além de ser um ciúmes sem embasamento nenhum, ele acha que tem o poder de tomar decisões pra ela quando o assunto é outros homens. Qualquer assunto, na verdade. Isso me tirou do sério. Não é que eu não goste de personagens imperfeitos, porque eu gosto, mas tem uma diferença entre ser imperfeito e ser tóxico.
No início eu realmente achava que o objetivo desse relacionamento era só a Alina perceber o quanto precisa ser mais independente e que ela é, sim, forte sozinha e não precisa se cercar de pessoas que não pensam nela. Mas depois de ver vários comentários da autora, eu deduzi que ela realmente gosta deles como casal (vai saber porque né).
O Mal é um personagem que eu poderia gostar fora do casal e até estava disposta a tentar compreender ele no início desse livro. Não rolou e não acho que tenha mais chance pra isso acontecer. A Alina evoluiu um pouco nesse livro no sentido de explorar os poderes dela e os impactos de ser a Conjuradora do Sol. Vi muitas resenhas falando do empoderamento dela nesse livro e até concordo, tiveram alguns momentos em que eu admirei mesmo a força dela. Mas empoderamento não é só esse tipo de poder, e eu acho que enquanto ela não parar de ser dependente de uma pessoa que faz mal pra ela, não vai ser empoderamento de verdade.
Um ponto positivo desse livro foi a introdução do Nikolai. Ele é um personagem muuuuuito divertido, me fez dar muita risada. Mas não é só isso: ele também é inteligente, ambicioso e muito determinado, o que faz dele muito interessante. Gostei bastante da personalidade dele e espero que ele continue muito presente no próximo livro.
O Darkling continua sendo um ótimo vilão, porém menos ativo nesse livro - realmente um potencial desperdiçado. Ele aparece em vários momentos, bem brevemente, solta as frases mais icônicas e desaparece. Ele é, de longe, o personagem mais interessante e eu sinto que ainda tem muita coisa da história dele pra ser explorada.
Esse livro desenvolve tanto a relação da Alina com o poder dela quanto a ligação dela com o Darkling, e essa foi uma das questões mais intrigantes. Ao mesmo tempo que ela tem medo de se tornar como ele, ela também sente a sede por poder, tanto o próprio como o que ele pode dar pra ela. Foi muito interessante ver como a autora trabalhou isso.
De forma geral, eu gostei desse livro, apesar dos momentos estressantes que me fizeram parar de ler e respirar fundo. Realmente não sei o que esperar de Ruin and Rising, só espero não me decepcionar mais.