@lendoaos30 25/08/2020
“Quem tem medo de Virginia Woolf?” Ora, eu tinha. Sempre ouvi que Virginia tinha uma escrita complexa, cheia de fluxos de consciência e difícil de compreender. Isso assusta qualquer leitor mais novo, que quer conhecer os grandes escritores mas tem medo de ter sua autoestima abalada se não compreendê-los. Foi com esse medo que, anos atrás, comprei este livro. Parecia ser uma experiência menos traumática começar a leitura por ensaios e artigos curtos em que a temática estava bem clara: mulheres e suas experiências. Por ironia do destino, comecei a leitura, parei e o livro ficou na minha estante enquanto outro bem mais temido passou na frente. “Orlando” foi minha primeira leitura concluída de Virginia e a felicidade encheu meu coração quando percebi que sim, eu conseguia – com minhas limitações, é claro, com qualquer um – entendê-la! Mais do que isso, ler “Orlando” me fez conhecer Virginia, amá-la, admirá-la, senti-la. Mas isso fica para a resenha sobre o outro livro. Voltemos. Agora empolgada com o fato de que Woolf e eu já éramos conhecidas, fui mais confiante ainda para este livro e o devorei com uma facilidade muito grande. Basicamente, ele cumpre o que propõe: traz artigos, resenhas e discursos de Virginia, todos sobre mulheres, suas vivências, suas dificuldades. Embora em nenhum momento ela utilize o termo “feminista”, como indicado no título, todos os seus textos carregam uma ideia central de que a mulher sofre opressões que devem ser eliminadas em busca de uma igualdade. A noção metafórica e literal, simultaneamente, de que toda mulher necessita de “um teto todo seu” (sua obra talvez mais famosa, e maravilhosa) encontra-se presente também nesses textos, deixando claro que Virginia tinha uma linha de pensamento que defendia sem hesitar, diante de quem fosse. Uma das partes mais interessantes deste livro, inclusive, é uma troca de publicações entre ela e um crítico que insiste em defender a ideia de que mulheres são intelectualmente inferiores aos homens. Virginia não só combate essa ideia com argumentos embasados e coerentes como também usa de ironia para desbancar toda a arrogância do autor (que segundo indicado no livro, era seu amigo). O único pecado desse livro, porém, se encontra justamente nessas breves informações que iniciam os textos. Acredito que poderiam ter sido incluídos mais detalhes do contexto em que cada texto foi produzido, para nos situar em relação ao que está sendo colocado por ela. Senti falta também de alguma breve análise sobre os textos, talvez um posfácio. Mas talvez isso seja apenas um capricho demasiado da minha parte. De todo modo, recomendadíssimo.
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