Elogio da Loucura

Elogio da Loucura Erasmo de Roterdã




Resenhas - Elogio da Loucura


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Marcelo 03/01/2014

Por que elogiar a Loucura?
Por que elogiar a loucura? Por que torná-la um livro? Porque ela merece aplausos pelas benfeitorias que fez, que faz e pode fazer pela humanidade; porque sua sabedoria deve ser comunicada para salvar a alma dos justos e dos injustos; porque ela tem a missão de ser justa com os injustiçados, queimados e chicoteados por suas loucuras, e de diagnosticar a insanidade daqueles que se acham senhores da razão e representantes de Deus na terra. Em suma, o Elogio da loucura é uma encenação da comédia humana. Não é seu objetivo, apenas nos fazer morrer de rir das desgraças, podridões, contradições, insuficiências e trapalhadas humanas, mas nos ensinar, assim como um filósofo, como diria Sócrates, a distinguir o bem do mal. E para isso, ela não precisa citar nomes, basta nos apresentar o ser humano em sua passagem pela vida, para ser certeira em seu tiro. E se alguém se ferir, a responsabilidade não será dela, visto que foi a própria consciência do atingido, que o julgou.

A Loucura é um mestre. O que seria de nossas vidas sem ela? Ela nos diz: triste, sem graça, sem cor, sem brilho, sem luz. E o que dizer de sua sabedoria? Não é ela que desnuda as ilusões e presunções humanas? Não é ela que ri daquele que se apresenta grande, usando pernas de pau? Não é ela que demonstra a ignorância daquele se acha sábio, quando na realidade, não sabe nada, sem fazer uma consulta na biblioteca que alojou em sua alma? Só a loucura tem a capacidade de dizer que é louco quem a acha louca, e quem a condena. Aos que se julgam santos, juízes da moral, ela pergunta: mas desde quando um santo mata? sente raiva? ama o dinheiro? mente? rouba dos pobres para dar aos ricos? Não seria isso uma loucura? A Loucura demonstra na prática a máxima do Eclesiastes: tudo é vaidade, e não há nada de novo abaixo do sol.

Enquanto um erudito precisa de horas para dar uma palestra e ensinar alguma coisa, fazer malabarismos, se contorcer até colocar a língua para fora, a Loucura só precisa de um minuto, e com uma simples piada, além de dissipar as preocupações e tristezas humanas, trazer para a vida a vida, e para a sede de conhecimento um saboroso vinho. A Loucura não pede para nós os holofotes e os flashes que são direcionados às celebridades, nem o tapete vermelho colocado para a passagem dos reis, nem a atenção exigida para o discurso de um presidente ou de um professor rabugento. A Loucura, só deseja que a escutemos como se ela fosse um amigo nosso. Ela nos convida para um encontro prazeroso e não para uma sessão de tortura, como costumeiramente os professores pedantes fazem em suas aulas, com as crianças, tornando-as mais ignorantes do que já são, ao darem para elas se alimentarem o saber em forma de pedra – um quebra cabeça sem pé nem cabeça – para mastigarem: impossível de ser mastigado, digerido e, portanto, de trazer algum benefício para a saúde – não atoa, Montaigne, que comungava com essa visão lúcida de Erasmo, dizia que se passássemos perto de uma escola no horário de aula, escutaríamos as crianças aos berros, chorando. Seria loucura a Loucura falar de si própria e se elogiar? vaidade? presunção? Nada mais digno. Quem, melhor do que ela, para fazer uma pintura de si mesma? Quem tem mais pés no chão do que ela, ao não depender do aplauso do público para ter uma ideia favorável de si, e ressaltar com todas as letras que é louca, e não sábia, a razão pura?

Não será mais louca, tola e distante da realidade, a loucura do pseudo-sábio que salva o mundo, em seus livros e falatórios, mas que na vida não é capaz nem de dar um sorriso de conforto e um pão para um mendigo que está em agonia por ter fome? Loucura essa que compra aduladores para fazer uma propaganda enganosa de suas virtudes, porque não há ninguém que possa dar um testemunho verdadeiro? Tudo isso, sem contar, quando o pseudo-sábio, de tanto iludir os outros, acaba por iludir a si mesmo. O silêncio dos homens a respeito da Loucura a deixa espantada: usam e abusam dela, mas não tem a coragem, a percepção, e talvez a inteligência, de cantarem à céus abertos uma dedicatória de amor e reconhecimento por ela. Por que tanta vergonha da Loucura? O que os homens querem conservar de sua imagem, esforçando-se para serem vistos como sérios, sóbrios – e também patéticos? Se a loucura não precisa do amor alheio para ser feliz, nem fazer promessas fantasiosas para conquistar o desejo de alguém, nem fazer uma tese de doutorado para ser reconhecida como inteligente e considerada apta, após muitos anos, para participar de um café filosófico, logo, ela não precisa nem pensar, se aquecer ou se exercitar para abrir a boca: basta dizer o que vier na telha. A Loucura sofre para trabalhar como doutores da razão? Muito pelo contrário, ela brinca e se diverte, tal como um filósofo chamado Heráclito, citado por Montaigne em seus Ensaios, que, quando questionado sobre a razão de ter abandonado um alto cargo em uma função pública e estar sem trabalhar, brincando com crianças, respondeu: “não seria mais sensato e agradável do que perder a cabeça, se ocupando com ambições fúteis e ferozes, tendo que olhar diariamente para a cara de monstros?”.

Para que pedir uma definição exata e didática a respeito do que é a loucura, quando sabemos que ela é múltipla, flexível, adorada e cultivada por diversos povos, podendo até ser infinita? “Está escrito no primeiro capítulo do Eclesiastes: O número de loucos é infinito”. Por que, então, precisamos de óculos para encontra-las no meio de palavras, quando é ela própria, em carne e osso que está diante de nós? Limitá-la e condená-la não é somente um pecado mas um ato de burrice. Humildemente a Loucura desfila com seu carro alegórico no carnaval da vida humana, encantando os olhos dos cegos, dos que apalmam as sombras, dos que veem, mas só tem os olhos voltados para o nada. A loucura tem paciência com a nossa ignorância. Sabendo que estranhamos, contraditoriamente, o que foge da nossa louca razão, ela se esforça com todos os seus músculos – assim como pensa a escultura pensadora de Rodin” – para distribuir todos os bens de seu coração. Talvez, por isso, a Loucura abra mão da razão para nos esclarecer. “É Ela que abre alas para a nova ideia”, disse o filósofo do martelo; já não é hora de nos libertarmos de nossas convicções? O tédio, o niilismo, marcas principais do corpo do nosso tempo, não se devem a seriedade fajuta do homem moderno, desse último homem, que inventa a felicidade, piscando os olhos, e depois de alguns instantes, já esquece que ela foi inventada, e, por isso, se agarra como uma criança aos seus brinquedos? A Loucura, em nenhum momento diz ser a Sabedoria encarnada, pois, caso o fosse, ressalta ela, nem precisaria expor seus quadros na rua.

O cálculo da Loucura é acessível a qualquer asno: quanto mais uma pessoa reprova a loucura do outro, quanto mais uma pessoa se coloca acima da loucura varrida do seu companheiro de caminhada, e se coloca no altar da sabedoria, mais essa pessoa merece ser motivo de piada, a fim de que tenha a oportunidade de ser educada com as luzes da Loucura, e tenha condições de se desvencilhar das trevas da razão. Essa loucura do pedante, não vive sem o reconhecimento. Aceita até fazer o papel do mágico, para tirar da sua cartola, citações ao acaso, coelhos e galinhas, na tentativa de fazer o seu público dizer, assim como Tertuliano: “creio porque é absurdo”. Que apenas um asno o aplauda, o pedante voltará feliz para casa. Deseja ser um iniciado na Loucura? Reconheça-se como um louco, até na sua identidade.

Diga o homem o que quiser. Passe o tempo que passar. O homem, senhor do seu destino? Não seria a senhora riqueza? Pense bem. Duvido você me dizer o que seria do mundo sem ela. Ruiria? Enlouqueceria? Riria? Morreria? Ou entraria em um estado perpétuo de nostalgia? Que sei eu? Dou-lhe uma, dou-lhe duas... Já descobriu por que a Loucura nasceu? Qual é o sentido dela no mundo? Ou sentidos? Nos mundos? Por que tanta inconstância nesse mundo de Deus? Será que é porque a vontade de beber é maior do que a sede? A razão de ser da Loucura não está aqui? Ou será que está ali? Mediar a relação entre a onda que se afoga e a onda que vai e volta? Teria a Loucura dado seus primeiros gritos no meio da dor? Não, não! A Loucura, em verdade, viu a primeira luz do dia da vida gritando de alegria, no meio de uma dança cheia de magia.

Já perceberam? As misérias humanas não invadem o jardim onde brotou a Loucura. Ainda que conseguisse derrubar o celeiro, viveriam como ervas daninhas, e pereceriam por não suportar tanta Loucura, tanta beleza, tanta riqueza. É como se a Loucura estivesse além do bem e do mal, como diria Nietzsche, no cume de uma montanha, pairando o mundo dos desejos cegos e irracionais, e ao mesmo tempo, passasse o dia inteiro, despencando do abismo, dançando. Quem mais poderia ter cuidado e amamentado a Loucura a não ser a ignorância e a embriaguez? Se a Loucura é a Loucura, é porque ela foi a única que se amamentou para ficar acordada de madrugada para conversar com as estrelas enquanto o mundo roncava. A Loucura está no meio de tudo e de todos. O que não faltam são seguidores: preguiça, amor-próprio, adulação, esquecimento, volúpia. Qual é a medida de todo esse conjunto harmonioso? A insensatez.

Esquecemos de mais gente, que ficou um pouco para traz. As delícias da mesa e os sonhos. Por que será que ficaram para traz? Certamente, estavam gozando a vida! Não seriam tais seguidores, mais independentes do grupo? O que mais o homem precisa além deles? Com eles, ele tem o fio da carne e da eternidade: as horas se perdem, o universo rebola. Não atoa, a Loucura rege o mundo através do alimento e da ilusão libertada de sua cadeia. Sim, a Loucura é uma deusa. Embora isso não saia no jornal, não seja ensinada para as crianças quando aprendem a andar, não esteja no google, é a Loucura o remédio sem o qual o homem morreria doente, o fruto permitido a todas a Evas e Adões, o presente com todos os preços, para todos os consumidores. Quando digo que a loucura está por toda parte, quero que me escutem melhor: ela não está apenas nos quatro cantos do mundo, nos principais pontos turísticos. A Loucura está com o pedinte, o padeiro, o prefeito; seus seguidores estão no ar, atrás das arvores, dentro de uma lâmpada; anda disfarçada em uma entrevista de emprego para te analisar, traveste-se até para limpar o banheiro e lhe pedir uma informação, só para ver a sua reação.

Segundo nos conta a Loucura, depois dos deuses, os Estoicos são considerados os seres mais divinos, isso, por conta da fama que tem de serem totalmente indiferentes ao mundo, por terem como meta na vida apagarem com a borracha qualquer tipo de rastro que possa despertar-lhes alguma emoção, seja ela alegria ou sofrimento. “Livremo-nos de todas as ideias sobre as coisas, a fim de que não corramos o rico de termos uma relação equivocada com a vida e atribuamos valores fictícios ao que não tem valor nenhum”: eis, aqui, a máxima dos estoicos. A Loucura, por ter um bom coração, sente compaixão pelos estoicos, estende a mão àqueles que estão cansados de morrer, dizendo que basta eles se abrirem para a experiência de entrar em contato com a vida, com seus sentimentos e pensamentos no meio do caos, que eles encontrarão a felicidade, tendo como guia a própria Loucura: pois, somente através dela, segundo Ela, é possível se encantar com a vida. O que cria aos seres humanos e seus deuses, para dar continuidade à vida? Todo o corpo humano! Não pensem que é a sua razão, e nem qualquer outro tipo de razão pura. Se formos mais a fundo do que isso, nos perderemos, pois a complexidade e absurdidade do emaranhado no qual estamos enfiados não pode ser medida ou avaliada com precisão. Se o mundo seguisse apenas o que entendemos com razão, este, ou teria acabado há séculos, ou se tornaria um completo hospício. Exemplos: Casamento e filhos: se uma mulher pensasse racionalmente no quanto iria sofrer e perder os cabelos com seu marido, os trejeitos de sua alma, suas traições, sua falta de afeto, e também com o parto de seu filho, e o árduo processo de educação, provavelmente ela não ousaria se arriscar nessa empreitada tão incerta e ao mesmo tempo tão favorável para o desmoronamento. Adivinhem, então, quem é que sustenta a loucas empreitadas do homem? Quem lhe insufla a fé, a esperança, a compressão? A Loucura, e também suas auxiliares: a Demência e o Esquecimento. Sem a demência, nenhum casal se suportaria, sem o esquecimento, ninguém tornaria a se relacionar com outra pessoa novamente, nem perdoaria qualquer tipo de falha no percurso.

Muita coisa ou muita loucura ainda poderia ser dito sobre esse livro, mas seguir adiante seria loucura. Ouçamos o famoso lema de Delfos: "nada em excesso".
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Pablo 18/10/2009

BÃO, O LIVRO É MUITO BOM.. E ATÉ DIVERTIDO, MAS NA ÉPOCA EM QUE LARGUEI ELE DE MÃO, ESTAVA FAZENDO ALGUMA COISA MUITO IMPORTANTE E PASSOU-SE MUITO TEMPO, ASSIM... DESISTI!
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HARRY BOSCH 15/12/2011

Auto Estima da Loucura

O livro começa com um aspecto satírico para depois tomar um aspecto mais sombrio, em uma série de orações, já que a loucura aprecia a auto-depreciação, e passa então a uma apreciação satírica dos abusos supersticiosos da doutrina Católica e das práticas corruptas da Igreja Católica Romana. O ensaio termina com um testamento claro e por vezes emocionante dos ideais cristãos.

As vezes um pouco de loucura pode ate proporcionar um estado de felicidade.
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Fred Fontes 30/12/2012

De médico e louco, todo mundo tem um pouco
Tivesse a expressão "de médico e louco, todo mundo tem um pouco" uma origem literária, esta seria o "Elogio da loucura", de Erasmo de Roterdã.
Incrível ler esses livros escritos há tanto tempo (esse, precisamente, em 1501), e perceber que o ser humano do século XV é o mesmo do século XXI. Apenas o mundo muda, ou, diria, o aspecto material do mundo muda, mas o espírito do homem é imutável. O homem que andava a cavalo, depois a vapor, depois a combustão, depois a jato, era, é e será movido sempre pelas paixões, ou, nos termos empregados por Erasmo, pela loucura. E dela ninguém escapa, do servo ao papa.
E que bom! Nessa sátira ao racionalismo e à filosofia (e, não esqueçamos, ainda não estávamos no Iluminismo), o pensador holandês lança um olhar irônico e impiedoso aos que se julgam sãos. Filósofos, teólogos, a nobreza, o clero, ninguém escapa. Quase todos são loucos, como bem demonstrado pelo autor. E os poucos que não são, sofrem por não serem.
Só os loucos são felizes. Felizes as crianças, por não terem ainda a idade da razão. Felizes os idosos, por já a terem perdido. Felizes os que, loucos, não pensam nas misérias humanas e com elas não se angustiam. Felizes os velhos que torram sua fortuna com mulheres 40 anos mais jovens, felizes as velhas que acolhem jovens 40 anos mais moços (como diz o ditado, melhor comer filé-mignon com os amigos que carne de pescoço sozinho). Felizes os bobos engraçados, cercados de amigos e risos. Tristes os intelectuais chatérrimos e solitários. Felizes os que não sabem que são infelizes.
A ignorância como anestesia das desgraças, em contraponto à dor que a luz da razão nos traz, é um tema até "batido", mas poucos o abordaram com tanta inteligência, humor e, por que não, loucura.
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Gabriel 04/12/2012

Agora entendo porque foi uma das obras que fez parte do despertar do humanismo/iluminismo... e porque gerou o rompimento da igreja! Uma obra fantástica, de uma mente muito a frente de seu tempo. Serve ainda hoje para abrir nossa mente à respeito do julgamento que fazemos das pessoas e sociedades e do sentido da vida, se é que há algum!
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@viajantedaleitura1 23/12/2010

Pura
A loucura em seu melhor estado de ironia!
Fui obrigada a ler esse livro na faculdade e de tanto que foi de mal grato,qdo comecei á entendê-lo fiquei surpresa com tanta inteligência e excelência.
E´um livro que levanta muitos aspectos,principalmente religioso, mas de uma forma tão sábia que faz com que se viage em suas páginas e se pare para questionar, ou se arrepender por ter questionado!
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Dih 16/09/2012

'' - Que adianta um rosto bonito, que é o melhor presente que
podem fazer os deuses imortais, quando contaminado pelo mau cheiro? De que serve a juventude, quando corrompida pelo veneno de uma hipocondria senil? ''



Nossa gostei muito dessa leitura e do humor que contem o livro. Ainda mais sendo escrito a muitoo tempo atrás.
Li por recomendação de minha ex-professora do cursinho, e como ela mesma disse: - Eu proíbo vocês de NÃO lerem este livro !

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Fabrício Máximo 20/06/2012

Loucura, loucura
Não seja louco em não ler este livro. Digo, é uma loucura lê-lo. É melhor eu parar, pois os trocadilhos estão ficando cada vez piores. Leia este livro, tão antigo e tão atual, e verá o quão bom é ser louco. Pronto.
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Tattoo 09/06/2012

Adoro esse livro.
Crítico e surpreendente, ele é uma ode a loucura, mas ela é apresentada naquilo que o senso comum considera normal e aceitável. É uma obra apaixonante,foi minha ´´Bíblia´´ da literatura.
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Rangel 16/02/2010

Insanidade Contraditória
A obra "Elogio da Loucura" de Erasmo de Rotterdam (escritor, secretário episcopal, professor e doutor em teologia), escrito em 1509, critica os costumes da época que constou a Loucura como autora e protagonista de um discurso literato crítico, satírico e irônico.

A palavra loucura se apresenta como ambigüa e desenvolve uma análise a partir do cotidiano das pessoas e das atitudes e comportamentos da época renascentista. Ela apresenta as contradições que se auto afirmam e se negam, o que é a causa da insanidade (loucura) dos homens e mulheres. A loucura é um ponto de partida na decisão de homens em todas as épocas, tantos as positivas como as negativas, as conseqüentes e as não-conseqüentes, as importantes e as não importantes. Todo ato humano é desencadeado pela loucura e exemplifica o deus Plutão que gerou a loucura da juventude da humanidade.

A crise dos estóicos e os graves erros dos escolásticos evocam os absurdos de questões teológicas que não seriam sequer entendidos pelos próprios apóstolos de Cristo. As linhas de pensamentos são saberes enganosos e por isso que se classifica duas loucuras: a loucura sã, que é a loucura inteligente, e a mera loucura, que é a do saber enganoso. Dessa forma, constitui-se uma estreita ambigüidade da realidade humana, que sempre está em contradição. O interessante de Rotterdam que ele não nega a superestrutura com sua crítica, mas procura sugerir modificação da infra-estrutura, e para isso, ele busca valorizar o saber não como forma de dominação, mas sim como forma de compreensão da própria estrutura da sociedade em que se vive e a forma de melhorar a convivência do homem com os demais socialmente.

Para justificar seu elogio à loucura, Erasmo utiliza Homero, que examina a vida dos deuses, Aristóteles, Platão, Sócrates, Sófocles e outros de sua época e de antes. A recorrência a esses pensadores, propicia desnudar o discurso linear dos estóicos e dos escolásticos, e mostra o caráter intervencionista e paranóico dessas teorias que têm na ignorância a base e o fim de suas teses, e que são utilizadas como forma de impedir o verdadeiro conhecimento de seu tempo e de sua vida, o que dificulta a própria prática da fé, uma vez que sem a contradição reina a mentira.

Nada além de uma saída para os que advogam a escuridão como regra para a manutenção de privilégios baseados em falsos conhecimentos que não resiste ao estudo sob o comando da contradição, ou seja, da loucura. Enfim, o autor traz as teorias sobre a loucura na perspectiva da vida organizada com as evoluções do pensamento religioso sob a ótica católica, que se opõe a qualquer tese que venha transformar essa realidade. Nesse sentido, a contradição é no livro de Rotterdam uma arma para a manutenção dos poderes e formas de vidas constituídas. Através de citações extraídas da bíblia e de exemplos de Jesus, o autor deixa claro que os homens são malucos, mesmo os que fazem profissão religiosa.

O autor encerra com questões a respeito dos que são eleitos antecipadamente para gozar as delícias da beatitude e afirma serem eles de números reduzidos, e associa suas atitudes com sintomas que se assemelham aos da loucura.

Assim, o livro se configura esclarecedor com informações e análise tanto da hipocrisia religiosa da idade média e do renascimento e como das mudanças ocorridas e contradições encontradas tanto no pensamento como no interior do poder da Igreja.
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George Facundo 07/10/2011

Para você entender o impacto que deve ter sido esse livro, e aproveitar a degustação da leitura dele em sua totalidade, será de grande importância você antes pesquisar sobre o autor e o contexto histórico/religioso que rodeava ele naqueles conturbados anos.
Uma vez contextualizado, a leitura passa a ter de fato um sentido revolucionário para quem lê. Ainda mais, mesmo tendo sido escrito a séculos atrás, ele em muitos aspectos é extremamente atual. Muita coisa na cristandade hoje ainda é reflexo daquela época. Muita coisa não mudou. A vaidade (com suas várias faces) ainda é a mesma em inúmeros templos.
A narrativa é narrada em primeira pessoa pela própria Loucura, e ela por sua vez vai discorrendo sobre sua atuação e influência sobre as mais diversas estruturas humanas. Desde o casamento, comércio, estudos e claro, a igreja. Dentre outros. Enfim, vale muito a pena ler esse livro! Indico sem medo!
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MVGiga 23/02/2011

Normal?
Em um dado momento o pensador alemão Goethe relatou que "O homem de bom senso jamais comete uma loucura de pouca importância".

A loucura, esse comportamento cuja caracteristica "anormal" tornou-se marginalizada durante toda a história da humanidade, vem sendo discutida por diversos estudiosos, cada um com a sua interpretação e diagnósticos.

Em 1511, foi publicado um dos mais influentes livros do ocidente sobre o tema: Elogio da Loucura.

O livro conta sobre a própria "loucura" relatando os maleficios e os beneficios das suas ações sobre os seres humanos. Provoca o questionamento sobre as nossas atitudes no dia-a-dia e de toda sociedade.

Através da divagação da "loucura", entramos no universo dos loucos e dos potencialmente loucos, porém são raros momento que a tão almejada "normalidade" se destaca na abordagem.

Deixando a dúvida da existência do ser perfeitamente normal ou seria a "normalidade" uma forma disfarçada da ação da "loucura"? O ser humano é um ser louco, porém não devemos jamais esquecer da virtude da "moderação".


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