Elogio da Loucura

Elogio da Loucura Erasmo de Roterdã




Resenhas - Elogio da Loucura


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Hofschneider 11/03/2017

a boa loucura
os homens da razão, estão quase sempre trancados dentro de si mesmos. quando não, estão discursando sua eloquencia irritante. a loucura, a falta de lucidez, é que tira-os deles mesmos. a estupidez humana pode vir com a loucura extrema, mas também pode vir com a sabedoria extrema, ou a obcessão por verdades.

a unica coisa que me magoou no livro, foi o excesso de atenção dada à igreja.

mas a ironia me comoveu. a ironia do contexto em que o autor escreveu o livro e todas as de mais no texto.
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Jacques.Bourlegat 21/02/2017

L'éloge de la folie ...
Até a minha vida adulta só havia conhecido um Erasmo. E não era o autor do livro aqui apresentado. Era o cantor muito famoso no Brasil, principalmente nos anos 70: Erasmo Carlos. Nunca tinha ouvido falar em qualquer outro que se chamasse assim, conhecido ou desconhecido. Até que um dia, ao assistir o filme ?L?auberge Espagnole?, descubro que existe um programa europeu, Erasmus, que promove intercâmbio de estudantes nos países da Europa. No filme, o personagem principal é francês e faz o intercâmbio em Barcelona, na Espanha, e entre diferentes problemas e questionamentos, eis que o heroi começa a delirar e fala com o tal Erasmo. Fiquei curioso em saber quem era o cara e o porquê do programa ter sido chamado assim.

Fui até a bliblioteca municipal de Nice, onde eu morava, (eu não tinha internet na época) e encontrei uma biografia enorme com uma capa toda vermelha. Erasmo era descrito como filósofo, teólogo e intelectual ligado ao movimento humanista durante o Renascimento. Na verdade, chamava-se Desidérius Erasmus. Nascera em Roterdam e, por isso, era conhecido por Erasmo de Roterdam (assim como alguns do seu tempo, tal como Leonardo que nascera em Vinci). E então soube a razão pela qual deram o nome ao programa europeu. Erasmo viajou pela Europa inteira: Itália, Alemanha, Inglaterra, França, Holanda, Suíça, entre outros, para efetuar os seus estudos acadêmicos e principalmente teológicos.

Erasmo, ao que parece, estava em busca de ?algo? com essas viagens. Conhecimento? Compreensão do mundo em que vivia? Inspiração? ( inspiração na Antiguidade, pois, é claro, estamos falando do Renascimento.) E o movimento Humanista veio bem nesse momento em que se redescobriam as ?coisas? da Antiguidade sob um novo olhar. Saindo da ?era das trevas? que fora a Idade Média, os intelectuais em primeiro lugar, mas o mundo todo em seguida, estavam descobrindo (ou redescobrindo) noções que redefiniam a compreensão que tinham das coisas. Por exemplo, foi nesse período que fora exposta a teoria do heliocentrismo, na qual o sol é o centro do sistema em que o planeta Terra se encontra, logo após ficar definido que a Terra era redonda e não plana, assim como as descobertas de outras terras além mar, chamadas de mundo novo. A imprensa foi outro fator determinante na época de Erasmo, pois, cada vez mais, os intelectuais tinham uma força de presença que nunca antes tinha existido: a possibilidade de divulgar os seus pensamentos rapidamente e em grande escala. Podemos imaginar uma comparação nos dias atuais de como a internet abriu as fronteiras para o conhecimento. A imprensa de Gutenberg teve o mesmo efeito no Renascimento. Não acabei de ler toda a biografia dele, lembro que era muito doente e que escrevera um livro cujo título me intrigou e me prometi que o leria um dia desses: Elogio da Loucura.

Pois bem, anos depois acabei achando em um sebo o tal livro, com uma capa linda que reproduzia uma pintura de afresco entitulada Anjo aparecendo para Zacarias, realizada por Domenico Ghirlandaio, grande mestre renascentista. Comprei e, depois de um certo tempo, acabei de lê-lo. Trata-se de uma sátira na qual a Loucura ela mesma faz o seu elogio, ou seja, faz a argumentação em favor de algo, nesse caso, dela mesma: a Loucura.

Na sua argumentação, a Loucura descreve o quanto os seres humanos e a sociedade em geral são ingratos à sua pessoa, não reconhecem o quanto ela é benéfica ao seu desenvolvimento e à própria sobrevivência da espécie. Como alguém em sã consciência iria querer viver com todos os males que afligem o ser humano: guerras, doenças, tristeza, se não fosse esse lampejo que é causado pelo prazer, que ela, a loucura, proporciona a nós, reles mortais. Pois, segundo ela, os sentimentos prazerosos são concedidos por ela e ninguém mais. Tal uma deusa ela dota de élans de coragem os maiores herois: afinal, a coragem e a estupidez muitas vezes são indistintas. Mais um ato da loucura. Inclusive o casamento. Casar-se e ter filhos, principalmente no caso das mulheres que viviam (e muitas ainda vivem) num mundo machista e misógino. Que loucura! Vida escrava. Porém, ainda hoje, mesmo após a liberação das mulheres, o movimento feminista, elas ainda continuam querendo casar-se e ter filhos. E como ter esses desejos e superar tudo isso sem um grão de folia? Segundo a Loucura, não é possível. Pois, se todos fossem sensatos e sábios, não haveria prazeres e muito menos perpetuação da espécie.

Além do mais, faz críticas sobre o super ego dos mestres filósofos, assim como ao clero. Defende uma reforma nas práticas religiosas tal qual Lutero, embora menos drásticas quanto o movimento luterano. Mas podemos perceber ao lermos o elogio da loucura, o quanto acredita que os sacerdotes enclausuram-se em dogmas e preceitos religiosos que, se forem estudados, divergem do que teria ensinado Jesus Cristo. Os eclesiásticos de sua época tinham passado dos limites tanto quanto os fariseus na época de Jesus. E será que isso também não continua sendo praticado em alguns templos religiosos nos dias de hoje?

Enfim, considerado um dos clássicos da literatura mundial, com referências diversas à Bíblia, à mitologia greco-romana entre outros e escrito há mais de 500 anos, a leitura desta obra pode não ser tão simples. Ao mesmo tempo não é tão hermética e propõe um estudo filosófico sobre o seu tempo a respeito das coisas que os homens fazem. Estas linhas estão muito longe de abranger todas as temáticas do livro, mas, em minha opinião, as principais são as que descrevi acima. A obra ilustra perfeitamente o que foi esse período da Renascença: a reflexão sobre o homem (humanidade) na sociedade e no mundo em relação às suas crenças, posicionando a problemática numa perspectiva humana, levando ao movimento humanista (ao qual pertenceu Erasmo), onde as preocupações voltavam-se pouco a pouco para as necessidades de cada um.
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May 25/01/2017

Obra-prima
Incrível que naquela época Erasmo tenha tido a coragem de apresentar uma crítica desse nível. Certeza que esse livro é uma obra-prima. Tenho um pouco de dificuldade em ler livros sem capítulos, sinto quebra de continuidade de leitura sempre que dou uma pausa na leitura. No entanto, ainda sem capítulos, esse livro foi uma leitura formidável.
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Jana 30/08/2016

Síntese sobre o livro
A Loucura é a narradora e discorre sobre o mundo humano (ou mortal, já que se trata de uma deusa grega) e suas ironias, por um ponto de vista que enfatiza o louco e a própria loucura, sendo um completo elogio para si e para aqueles que acompanham a deusa. Difícil adjetivar a narradora, que faz críticas tão racionais e fortes, tão reais, que apesar da crítica se direcionar a sociedade do século XVI, ainda se aplica a algumas incoerências do século XXI; portanto a narradora é a personificação da ironia. Além de ser um personagem fictício, que quase se torna real, já que a Loucura parece um reflexo das ideias e pensamentos de Erasmo de Roterdã – o autor - sobre a sociedade, principalmente sobre o clero, do qual fez parte. É uma obra intrigante, já que é possível encontrar referências do Humanismo e do Renascimento, mas também foi um catalisador da Reforma Protestante devido seu caráter ácido em relação a Igreja Católica, portanto um livro muito influente na literatura e na história.

site: o elogio da loucura, síntese
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Gabriel Moura 15/12/2015

Elogio da Loucura
Esse clássico livro escrito em 1509 apresenta a loucura. É como se ela (loucura) narrasse suas aventuras e suas perícias no reino dos homens. De forma satírica Erasmo de Rotterdam mostra que a loucura é filha do Deus Plutão, e que possui como companheiros inseparáveis: o amor-próprio, a adulação; a volúpia; a irreflexão; a delícia; o esquecimento; o riso e o sono profundo. A partir dessa genealogia, a obra busca comprovar a presença da loucura nas mais diversas esferas da existência humana, como a velhice, o casamento, a política e a religião. E é justamente sobre este último tema que a obra é mais feroz. Erasmo ataca não só monges, padres e sacerdotes, com também ironiza diversos ritos católicos da época. Tem uma linguagem mais rebuscada, o que tende a dificultar um pouco seu entendimento. Mas nada que prejudique a excelência do livro.

site: https://resumodelivro.wordpress.com/2015/09/30/elogio-da-loucura/
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Cíntia @cinagaoka 15/11/2015

Verboso e não gosto do tratamento religioso da obra. O autor abranda muito o tom na parte final do livro.
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Lídia 02/12/2017

Muito mais que um elogio à Loucura!
Inspirado no nome do amigo, Tomás Morus (aquele mesmo autor de "Utopia"), que lembra o nome da deusa grega Moria, a própria Loucura, Erasmo escreveu um livro em que a própria se põe em julgamento diante dos Homens e justifica a sua importância em suas vidas. Cheio de referências à mitologia e à filósofos clássicos, "Elogio da Loucura" é uma bem humorada sátira dos intelectuais, gramáticos, matemáticos, filósofos e teólogos da época e à própria natureza humana. Mas não se deixem enganar: por trás da crítica há uma profunda reflexão sobre o que nos torna humanos e sobre a maior de todas as loucuras: a de abnegar os impulsos da nossa natureza mundana para elevar nossa alma a princípios que não pertencem a esse mundo, mas esperando a glória de um outro que está por vir.
Mais que recomendo a leitura desse clássico!
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Lista de Livros 27/06/2014

Lista de Livros: Elogio da Loucura, de Erasmo de Roterdã
“Já escreveu sensatamente alguém que ser deus consiste em favorecer os mortais.”
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“Só a gramática é mais do que suficiente para nos aborrecer durante toda a vida.”
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“A verdade se encontra no vinho e nas crianças.”
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“Em lugar de um epílogo quero oferecer-vos duas sentenças. A primeira, antiquíssima, é esta: Eu jamais desejaria beber com um homem que se lembrasse de tudo. E a segunda, nova, é a seguinte: Odeio o ouvinte de memória fiel demais.”
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Mais em:

site: https://listadelivros-doney.blogspot.com.br/2014/06/elogio-da-loucura-erasmo-de-roterda.html
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Braguinha 01/04/2014

Somente para maiores de 35 anos
Um livro de filosofia de um expoente do gênero. V sobre a loucura. Só não é melhor porque a linguagem é truncada tecnicamente, não adaptada para os leigos e iniciantes, sendo assim pouco atrativa. Na capa da edição que li, uma ilustração do Porto de Roterdã, Holanda.

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Gleison 19/03/2014

Elogio da Loucura
O livro busca analisar o papel da sociedade em pleno renascimento onde a loucura desempenha um diálogo buscando fazer esta análise sob seu ponto de vista. Cabe a ela se enaltecer, buscando se defender como imprescindível para a humanidade sob diversos aspectos da vida da sociedade da época. Crítica à religião, à sociedade e aos costumes e comportamentos de forma humorada e sarcástica é um dos pontos fortes do livro.
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Marcelo 03/01/2014

Por que elogiar a Loucura?
Por que elogiar a loucura? Por que torná-la um livro? Porque ela merece aplausos pelas benfeitorias que fez, que faz e pode fazer pela humanidade; porque sua sabedoria deve ser comunicada para salvar a alma dos justos e dos injustos; porque ela tem a missão de ser justa com os injustiçados, queimados e chicoteados por suas loucuras, e de diagnosticar a insanidade daqueles que se acham senhores da razão e representantes de Deus na terra. Em suma, o Elogio da loucura é uma encenação da comédia humana. Não é seu objetivo, apenas nos fazer morrer de rir das desgraças, podridões, contradições, insuficiências e trapalhadas humanas, mas nos ensinar, assim como um filósofo, como diria Sócrates, a distinguir o bem do mal. E para isso, ela não precisa citar nomes, basta nos apresentar o ser humano em sua passagem pela vida, para ser certeira em seu tiro. E se alguém se ferir, a responsabilidade não será dela, visto que foi a própria consciência do atingido, que o julgou.

A Loucura é um mestre. O que seria de nossas vidas sem ela? Ela nos diz: triste, sem graça, sem cor, sem brilho, sem luz. E o que dizer de sua sabedoria? Não é ela que desnuda as ilusões e presunções humanas? Não é ela que ri daquele que se apresenta grande, usando pernas de pau? Não é ela que demonstra a ignorância daquele se acha sábio, quando na realidade, não sabe nada, sem fazer uma consulta na biblioteca que alojou em sua alma? Só a loucura tem a capacidade de dizer que é louco quem a acha louca, e quem a condena. Aos que se julgam santos, juízes da moral, ela pergunta: mas desde quando um santo mata? sente raiva? ama o dinheiro? mente? rouba dos pobres para dar aos ricos? Não seria isso uma loucura? A Loucura demonstra na prática a máxima do Eclesiastes: tudo é vaidade, e não há nada de novo abaixo do sol.

Enquanto um erudito precisa de horas para dar uma palestra e ensinar alguma coisa, fazer malabarismos, se contorcer até colocar a língua para fora, a Loucura só precisa de um minuto, e com uma simples piada, além de dissipar as preocupações e tristezas humanas, trazer para a vida a vida, e para a sede de conhecimento um saboroso vinho. A Loucura não pede para nós os holofotes e os flashes que são direcionados às celebridades, nem o tapete vermelho colocado para a passagem dos reis, nem a atenção exigida para o discurso de um presidente ou de um professor rabugento. A Loucura, só deseja que a escutemos como se ela fosse um amigo nosso. Ela nos convida para um encontro prazeroso e não para uma sessão de tortura, como costumeiramente os professores pedantes fazem em suas aulas, com as crianças, tornando-as mais ignorantes do que já são, ao darem para elas se alimentarem o saber em forma de pedra – um quebra cabeça sem pé nem cabeça – para mastigarem: impossível de ser mastigado, digerido e, portanto, de trazer algum benefício para a saúde – não atoa, Montaigne, que comungava com essa visão lúcida de Erasmo, dizia que se passássemos perto de uma escola no horário de aula, escutaríamos as crianças aos berros, chorando. Seria loucura a Loucura falar de si própria e se elogiar? vaidade? presunção? Nada mais digno. Quem, melhor do que ela, para fazer uma pintura de si mesma? Quem tem mais pés no chão do que ela, ao não depender do aplauso do público para ter uma ideia favorável de si, e ressaltar com todas as letras que é louca, e não sábia, a razão pura?

Não será mais louca, tola e distante da realidade, a loucura do pseudo-sábio que salva o mundo, em seus livros e falatórios, mas que na vida não é capaz nem de dar um sorriso de conforto e um pão para um mendigo que está em agonia por ter fome? Loucura essa que compra aduladores para fazer uma propaganda enganosa de suas virtudes, porque não há ninguém que possa dar um testemunho verdadeiro? Tudo isso, sem contar, quando o pseudo-sábio, de tanto iludir os outros, acaba por iludir a si mesmo. O silêncio dos homens a respeito da Loucura a deixa espantada: usam e abusam dela, mas não tem a coragem, a percepção, e talvez a inteligência, de cantarem à céus abertos uma dedicatória de amor e reconhecimento por ela. Por que tanta vergonha da Loucura? O que os homens querem conservar de sua imagem, esforçando-se para serem vistos como sérios, sóbrios – e também patéticos? Se a loucura não precisa do amor alheio para ser feliz, nem fazer promessas fantasiosas para conquistar o desejo de alguém, nem fazer uma tese de doutorado para ser reconhecida como inteligente e considerada apta, após muitos anos, para participar de um café filosófico, logo, ela não precisa nem pensar, se aquecer ou se exercitar para abrir a boca: basta dizer o que vier na telha. A Loucura sofre para trabalhar como doutores da razão? Muito pelo contrário, ela brinca e se diverte, tal como um filósofo chamado Heráclito, citado por Montaigne em seus Ensaios, que, quando questionado sobre a razão de ter abandonado um alto cargo em uma função pública e estar sem trabalhar, brincando com crianças, respondeu: “não seria mais sensato e agradável do que perder a cabeça, se ocupando com ambições fúteis e ferozes, tendo que olhar diariamente para a cara de monstros?”.

Para que pedir uma definição exata e didática a respeito do que é a loucura, quando sabemos que ela é múltipla, flexível, adorada e cultivada por diversos povos, podendo até ser infinita? “Está escrito no primeiro capítulo do Eclesiastes: O número de loucos é infinito”. Por que, então, precisamos de óculos para encontra-las no meio de palavras, quando é ela própria, em carne e osso que está diante de nós? Limitá-la e condená-la não é somente um pecado mas um ato de burrice. Humildemente a Loucura desfila com seu carro alegórico no carnaval da vida humana, encantando os olhos dos cegos, dos que apalmam as sombras, dos que veem, mas só tem os olhos voltados para o nada. A loucura tem paciência com a nossa ignorância. Sabendo que estranhamos, contraditoriamente, o que foge da nossa louca razão, ela se esforça com todos os seus músculos – assim como pensa a escultura pensadora de Rodin” – para distribuir todos os bens de seu coração. Talvez, por isso, a Loucura abra mão da razão para nos esclarecer. “É Ela que abre alas para a nova ideia”, disse o filósofo do martelo; já não é hora de nos libertarmos de nossas convicções? O tédio, o niilismo, marcas principais do corpo do nosso tempo, não se devem a seriedade fajuta do homem moderno, desse último homem, que inventa a felicidade, piscando os olhos, e depois de alguns instantes, já esquece que ela foi inventada, e, por isso, se agarra como uma criança aos seus brinquedos? A Loucura, em nenhum momento diz ser a Sabedoria encarnada, pois, caso o fosse, ressalta ela, nem precisaria expor seus quadros na rua.

O cálculo da Loucura é acessível a qualquer asno: quanto mais uma pessoa reprova a loucura do outro, quanto mais uma pessoa se coloca acima da loucura varrida do seu companheiro de caminhada, e se coloca no altar da sabedoria, mais essa pessoa merece ser motivo de piada, a fim de que tenha a oportunidade de ser educada com as luzes da Loucura, e tenha condições de se desvencilhar das trevas da razão. Essa loucura do pedante, não vive sem o reconhecimento. Aceita até fazer o papel do mágico, para tirar da sua cartola, citações ao acaso, coelhos e galinhas, na tentativa de fazer o seu público dizer, assim como Tertuliano: “creio porque é absurdo”. Que apenas um asno o aplauda, o pedante voltará feliz para casa. Deseja ser um iniciado na Loucura? Reconheça-se como um louco, até na sua identidade.

Diga o homem o que quiser. Passe o tempo que passar. O homem, senhor do seu destino? Não seria a senhora riqueza? Pense bem. Duvido você me dizer o que seria do mundo sem ela. Ruiria? Enlouqueceria? Riria? Morreria? Ou entraria em um estado perpétuo de nostalgia? Que sei eu? Dou-lhe uma, dou-lhe duas... Já descobriu por que a Loucura nasceu? Qual é o sentido dela no mundo? Ou sentidos? Nos mundos? Por que tanta inconstância nesse mundo de Deus? Será que é porque a vontade de beber é maior do que a sede? A razão de ser da Loucura não está aqui? Ou será que está ali? Mediar a relação entre a onda que se afoga e a onda que vai e volta? Teria a Loucura dado seus primeiros gritos no meio da dor? Não, não! A Loucura, em verdade, viu a primeira luz do dia da vida gritando de alegria, no meio de uma dança cheia de magia.

Já perceberam? As misérias humanas não invadem o jardim onde brotou a Loucura. Ainda que conseguisse derrubar o celeiro, viveriam como ervas daninhas, e pereceriam por não suportar tanta Loucura, tanta beleza, tanta riqueza. É como se a Loucura estivesse além do bem e do mal, como diria Nietzsche, no cume de uma montanha, pairando o mundo dos desejos cegos e irracionais, e ao mesmo tempo, passasse o dia inteiro, despencando do abismo, dançando. Quem mais poderia ter cuidado e amamentado a Loucura a não ser a ignorância e a embriaguez? Se a Loucura é a Loucura, é porque ela foi a única que se amamentou para ficar acordada de madrugada para conversar com as estrelas enquanto o mundo roncava. A Loucura está no meio de tudo e de todos. O que não faltam são seguidores: preguiça, amor-próprio, adulação, esquecimento, volúpia. Qual é a medida de todo esse conjunto harmonioso? A insensatez.

Esquecemos de mais gente, que ficou um pouco para traz. As delícias da mesa e os sonhos. Por que será que ficaram para traz? Certamente, estavam gozando a vida! Não seriam tais seguidores, mais independentes do grupo? O que mais o homem precisa além deles? Com eles, ele tem o fio da carne e da eternidade: as horas se perdem, o universo rebola. Não atoa, a Loucura rege o mundo através do alimento e da ilusão libertada de sua cadeia. Sim, a Loucura é uma deusa. Embora isso não saia no jornal, não seja ensinada para as crianças quando aprendem a andar, não esteja no google, é a Loucura o remédio sem o qual o homem morreria doente, o fruto permitido a todas a Evas e Adões, o presente com todos os preços, para todos os consumidores. Quando digo que a loucura está por toda parte, quero que me escutem melhor: ela não está apenas nos quatro cantos do mundo, nos principais pontos turísticos. A Loucura está com o pedinte, o padeiro, o prefeito; seus seguidores estão no ar, atrás das arvores, dentro de uma lâmpada; anda disfarçada em uma entrevista de emprego para te analisar, traveste-se até para limpar o banheiro e lhe pedir uma informação, só para ver a sua reação.

Segundo nos conta a Loucura, depois dos deuses, os Estoicos são considerados os seres mais divinos, isso, por conta da fama que tem de serem totalmente indiferentes ao mundo, por terem como meta na vida apagarem com a borracha qualquer tipo de rastro que possa despertar-lhes alguma emoção, seja ela alegria ou sofrimento. “Livremo-nos de todas as ideias sobre as coisas, a fim de que não corramos o rico de termos uma relação equivocada com a vida e atribuamos valores fictícios ao que não tem valor nenhum”: eis, aqui, a máxima dos estoicos. A Loucura, por ter um bom coração, sente compaixão pelos estoicos, estende a mão àqueles que estão cansados de morrer, dizendo que basta eles se abrirem para a experiência de entrar em contato com a vida, com seus sentimentos e pensamentos no meio do caos, que eles encontrarão a felicidade, tendo como guia a própria Loucura: pois, somente através dela, segundo Ela, é possível se encantar com a vida. O que cria aos seres humanos e seus deuses, para dar continuidade à vida? Todo o corpo humano! Não pensem que é a sua razão, e nem qualquer outro tipo de razão pura. Se formos mais a fundo do que isso, nos perderemos, pois a complexidade e absurdidade do emaranhado no qual estamos enfiados não pode ser medida ou avaliada com precisão. Se o mundo seguisse apenas o que entendemos com razão, este, ou teria acabado há séculos, ou se tornaria um completo hospício. Exemplos: Casamento e filhos: se uma mulher pensasse racionalmente no quanto iria sofrer e perder os cabelos com seu marido, os trejeitos de sua alma, suas traições, sua falta de afeto, e também com o parto de seu filho, e o árduo processo de educação, provavelmente ela não ousaria se arriscar nessa empreitada tão incerta e ao mesmo tempo tão favorável para o desmoronamento. Adivinhem, então, quem é que sustenta a loucas empreitadas do homem? Quem lhe insufla a fé, a esperança, a compressão? A Loucura, e também suas auxiliares: a Demência e o Esquecimento. Sem a demência, nenhum casal se suportaria, sem o esquecimento, ninguém tornaria a se relacionar com outra pessoa novamente, nem perdoaria qualquer tipo de falha no percurso.

Muita coisa ou muita loucura ainda poderia ser dito sobre esse livro, mas seguir adiante seria loucura. Ouçamos o famoso lema de Delfos: "nada em excesso".
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