Gabrielle Hensel 10/08/2021
How to get away with murder? Getting murdered.
"Sejamos pragmáticos quanto às nossas expectativas em relação ao Direito Penal...."
Pra quem é da área do Direito, como eu, a primeira frase do livro já atiça a curiosidade e nos anima pra leitura. Em relação a isso, as cenas nos tribunais, os termos utilizados, toda a atmosfera e condução do processo foi muito bem escrita e descritiva. Na verdade, é uma qualidade do autor esse detalhamento, não de uma maneira cansativa ou monótona, mas sim, de um modo que te enfia dentro da história, dá rosto e cor aos personagens e às cenas. É incrível como eu vejo nitidamente cada personagem agora, na minha cabeça, após terminar o livro, de uma forma muito completa e viva.
Voltando ao Direito, aqueles que não gostam, não se preocupem: ele faz com que o tribunal seja a história, te ambienta e te aproxima das particularidades de um julgamento -claro, estadunidense, porque no Brasil há inúmeras diferenças, apesar do rito ser muito parecido. Ou seja, realmente fica interessante.
Recomendo, achei a leitura bem fluida e, apesar de me irritar com algumas coisas, que vou falar sobre já já, eu acabei gostando bastante.
Ah: pra quem já leu Precisamos falar sobre Kevin, esse livro vai te lembrar muito a leitura! As sensações são as mesmas em diversas partes, o que fez com que, inclusive, meu imaginário visualizasse o Kevin e o Jacob como a mesma pessoa. Mas aqui, diferente de lá, você não tem a mãe do psicopata pra concordar com você que o filho é um assassino em potencial (e literal). Sabe a cena da mãe visitando o Kevin na prisão, que te deixa extremamente puto pensando como pode ser tão burra? Então, esse aqui é um livro repleto desse sentimento.
Não dei 5 estrelas por alguns motivos, entre eles (aqui começa o spoiler):
1. Estou acostumada a ler thriller, então finais nos quais o vilão acaba morto são muito fáceis pra mim, não acho graça, não curto. Por isso que, diante de inúmeros finais possíveis, nunca passou pela minha cabeça que ele morreria, até porque sempre pensei que seria um final não muito "feliz". No fim, o vilão morrer acaba sendo um final feliz para todo o resto. Eu esperava que os pais tivessem certeza, de alguma forma, que ele realmente matou as outras duas crianças, que ele confessasse, ou algo do tipo, para que tivessem que viver com o fardo de ter defendido o próprio filho assassino, com a certeza, e sem dúvidas.
2. Quando percebi o caminho que a história ia tomar, ainda aguardava um teor menos clichê nessa questão dos pais super protetores, e me irritou muito o fato de a última frase da mãe dele ser um "eu te amo". Seria mais impactante se ela deixasse muito claro pra ele que sabia o que ele tinha feito, e fugiria dessa chatice que teve o livro todo de "amor incondicional e cego" pelo filho.
3. Queria que a culpa do Andy sobre o filho ser um possível assassino fosse melhor trabalhada. Muito se falou sobre isso quando o Jacob era criança, mas é óbvio que o motivo do pai não acreditar, ou não querer acreditar, que o filho era assassino, não era somente o tal amor irracional, mas também o peso da sua culpa, pois o "gene assassino" vinha dele. Então, acreditar que seu filho era um psicopata, era ter que encarar tudo aquilo que ele negou por toda uma vida.
4. A Laurie é uma personagem chata e clichê. Ponto. Não tenho muito mais o que dizer, além de que ela me irritou mais na história que o próprio Andy ou o promotor de acusação -que não aprendi a dizer e nem escrever o nome dele.
No mais, como eu disse, a ambientação e descrição dos personagens e das cenas são muito boas. A cena que o pai do adolescente morto chega com a faca, a cena da mãe do adolescente cuspindo na cara da Laurie, a descrição da esposa definhando em razão do julgamento e da possibilidade do filho ser um psicopata... tudo isso é bom demais!
Eu recomendo bastante.