DaniBooks 27/02/2023
Há 20 anos, a série A Casa das Sete Mulheres me encantou. Porém, o livro em que ela se baseia nunca meu interessou; só agora quis lê-lo de fato. Nesse romance histórico, acompanhamos a Guerra dos Farrapos, conflito ocorrido entre 1835 e 1845. Seguimos de perto a vida das mulheres da família de Bento Gonçalves, líder da revolução, e sua longa espera durante os 10 anos de batalha. Vemos as angústias, os amores, as decepções, a força, o desespero, a loucura, enfim, todos os sentimentos que perpassam as almas dessas mulheres. Também acompanhamos o desenrolar da guerra, com cenas sangrentas de batalhas e de mortes. A escrita da autora é fluida e ela constrói imagens e metáforas muito bonitas, principalmente nas descrições da natureza e dos sentimentos dos personagens. Leticia Wierzchowski mistura belamente ficção e fatos históricos. Personagens da nossa história, como o próprio Bento Gonçalves, Giusepe e Anitta Garibaldi, entre outros, ganham vida nessa história de amor, de sonhos malogrados e de resiliência. É uma homenagem às mulheres de séculos passados, estereotipadas hoje pela sua submissão, mas que tinham uma força invejável. Dona Ana, Dona Antônia, Maria Manuela, Rosário, Perpétua, Mariana e Manuela são personagens marcantes, que, com o olhar de hoje, fazem a gente revirar os olhos algumas vezes, mas sem deixar de reconhecer o valor que tinham. O livro alterna entre capítulos narrados em terceira pessoa e os cadernos de Manuela, que são páginas do diário da que ficou conhecida como A eterna noiva de Garibaldi. Nessa alternância, reside minha primeira crítica: um diário tem um tom mais intimista, é um registro de impressões e de sentimentos, porém, aqui, não há muita diferença em relação aos capítulos narrados em terceira pessoa, parece uma continuação da história do capítulo anterior, só que contada em primeira pessoa. Outra crítica é a romantização de figuras como Bento Gonçalves, um senhor de escravos, dono de terras, que nunca sonhou com a República, na verdade. Em determinado momento, o costume desses senhores de abusar e de estuprar mulheres escravizadas é tratado como apenas uma necessidade de homens e algo muito agradável para aquelas mulheres. A abordagem da escravidão e da participação dos negros na guerra também deixa um pouco a desejar: a autora flerta com um pouco de criticidade, mas, no fim das contas, o assunto fica um tanto para escanteio. Claro, é um livro de 2002, em que as discussões e a consciência sobre essas questões eram mínimas, mas é inevitável, e necessária, a observação sobre esse assunto hoje em dia. Por fim, só reforço que gostei bastante da leitura e deixo a recomendação.