Diego 14/11/2012
Mastigando humanos é um fábula metalinguistica que inspira, questiona e critica os homens, na perpectiva de um jacaré. Ter esse livro como companheiro foi como uma visita turística às veias do esgoto, um subuniverso para onde vão as sujeiras humanas, através dos olhos famintos de um réptil. Dias úmidos, ameaçadores, fartos, escassos, de luzes frias, que ficam na memória e, de certa forma, dão até saudade.
Existe algo, porém, que não me agrada, que é o ar subversivo, há algo, não sei dizer exatamente, de seco e desrespeitoso na escrita. Não saberia dizer se é culpa do autor ou meramente causa da personalidade do protagonista que narrava. Os "bla bla bla"s, por exemplo, me encomodam. E o fato de não gostar de poesia também, apesar de paradoxalmente apresentar uma visão totalmente reversa.
Personagens brilhantes como Santana, Brás, Vergueiro e Ana Rosa fazem projetar a imaginação e criatividade do autor de uma forma que rapidamente nos encantam com seus relatos, dejetos e diálogos. Personificação ou zoomorfização? Para absorver tudo que o livro tem para oferecer, é preciso ver pelos dois lados. É preciso atentar para o sistema análogo em que ratos estão no controle. É preciso ver o pântano do homem. Infância, juventude, maturidade, esgoto, universidade, motel, está tudo lá nas sombras das entrelinhas. Expressa ingenuidade, crueldade e dá acesso aos mais variados corredores ácidos da interpretação para se explorar.