juliasilva 26/01/2022
Resenha de Marighella
O livro escrito por Mário Magalhães descreve a turbulência da vida do militante Carlos Marighella, onde a obra relata todas as idas e vindas desde as greves na Bahia até a guerrilha urbana na qual se destacou. Um dos meus medos pra esse livro antes de lê-lo era que Carlos fosse transformado em um mártir, alguém a ser idolatrado e copiado em suas ações; mas não, o autor coloca os atos com neutralidade, onde cabe ao leitor se concorda ou não com os ideais pregados por Marighella nos anos 60.
Em primeiro ponto, uma das qualidades desse livro é a riqueza de detalhes, o compromisso com a verdade e a importância de mostrar os momentos mais obscuros da história brasileira para que essa ¨ideologia¨ de demonização ao inimigo externo não seja repetida, visto que tal afirmação do governo foi justificativa e base para milhares de atos contra os direitos humanos, e o livro de Magalhães traz com uma maestria essa relação política de Marighella como tanto o mesmo que sofreu mentiras, torturas e omissão do governo brasileiro, mostrando também o lado humano de Marighella, sendo um brasileiro apaixonado por versos de Vinicius de Moraes, Jorge Amado e outros, sendo Carlos mesmo um escritor de versos sobre a caminhada da vida de militante no Brasil.
É preciso não ter medo
é preciso ter a coragem de dizer
Há os que têm vocação para escravo,
mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão
Em segundo tópico, uma das minhas críticas ao livro seria o excesso de informações, que foi o único detalhe que me impediu de ser uma leitura contínua, pelo fato que a partir de um ponto, a cabeça se cansa e você precisa realmente parar, mas visto que, não é algo que interfere na qualidade do conteúdo exposto no livro.
O que mais me atrai na história, é a paixão dos guerrilheiros pela nação, quebrando um tabu de quê demonstrações patrióticas exacerbadas seria de alguma forma advindas de uma pessoa militar que contém respeito pelo país ou uma pessoa que tem similaridades com a direita política; Isso é demonstrado a partir de centenas de falas dos guerrilheiros, tendo como exemplo Jonas, onde o mesmo sob tortura, grita que o governo está matando um brasileiro, um brasileiro que quer a instauração da democracia e o respeito pelos direitos humanos de cada um. Sendo Marighella por fim, o grande nome da frase ¨eu prefiro morrer a perder a liberdade¨ mostrando que ser livre, vai além de todas as coisas, ser livre é ter vida.
Por fim, admito que comecei a leitura receosa de que fosse encontrar um livro que colocasse somente o lado político esquerdista como o ̈certo ̈ devido ao Marighella ter sido um comunista, mas me surpreendi sendo uma história que mostra os acertos mas também diversos erros dos praticantes dessa política durante o caminho da história de Carlos, desde sua militância na Bahia até erros pontuais em ações ¨terroristas¨ em meio urbano. É uma leitura que recomendo a todos, tanto devido a conjuntura política que estamos atualmente para nos lembrar do quão horrível foi a ditadura brasileira para todos, colocando a manutenção do poder e a repressão do ̈inimigo constante¨ como prioridades acima dos direitos humanos de cada opositor do regime, que não há o que admirar nessa história, mas sim, nos envergonhar do que aconteceu e nos lembrar que isso jamais deve acontecer novamente na história brasileira.
E eu que por ti, se torturado for,
Possa feliz, indiferente à dor,
Morrer sorrindo a murmurar teu nome