Daniel432 02/11/2019
Armas e Poesia
Quando leio uma biografia, minha maior atenção é quanto à imparcialidade do autor. Um autor parcial, seja a favor ou contra o biografado, faz com que a biografia perca muito do seu valor pois fatos importantes podem ser distorcidos ou ocultados. Por isso não faço questão de ler autobiografias, apesar de ter lido algumas.
Mário Magalhães cometeu alguns deslizes mas tratou o biografado com imparcialidade. Apontou o carisma aglutinando pessoas ao seu redor e até seu lado poético (coisa que eu, nem de longe, imaginava) utilizado, muitas vezes, de forma sarcástica, mas também apontou erros de avaliação da conjuntura em atitudes tomadas por Marighella, sendo a mais importante a insistência na instalação da guerrilha rural, e também erros táticos, sendo o mais importante o que resultou na sua morte. Essa foi a maior descoberta que fiz sobre Marighella nesse livro, ele trabalhou com armas e poesia.
Quantos aos deslizes do autor, ou melhor o deslize, relaciona-se com a forma que apresentou as notas. São 112 páginas sem nenhuma informação adicional ao texto do livro, somente referências a documentos, jornais, livros, depoimentos que corroboram o assunto tratado.
O outro deslize tem que ser visto com reserva pois há fatores que escapam do poder do biógrafo. Trata-se da necessidade do autor, em muitas vezes, contextualizar o ambiente em que Marighella estava inserido e agia, tais como o ambiente político do Estado Novo, durante o segundo governo de Getúlio Vargas e, principalmente, durante o período que antecedeu o golpe militar de 1964. Contextualizado o ambiente político, o autor viu-se na premência de esclarecer o papel de outros personagens históricos. Tais situações fez com que, muitas vezes, a biografia se afastasse do biografado. Outro fator incontrolável por parte do autor e explicitamente citado pelo autor ao final do livro é a ausência de registros sobre a vida do biografado já que grande parte de sua vida viveu na clandestinidade, escondido, apagando seus rastros. Quanto a esse deslize, não posso atribuí-lo ao autor.
Finalizando, esta biografia serviu para aumentar meus conhecimentos sobre o período ditatorial-militar no Brasil e, principalmente, para mostrar que Marighella não se insurgiu somente nesse período (essa era a minha visão), mas sua vida política e de resistência começou em 1935 no movimento que ficou conhecido como Intentona Comunista.
Depois dessa resenha, claro que recomendaria a leitura dessa biografia!!!