Vitória 22/04/2022
Acho que esse comentário vai ser mais curto. Estamos falando de uma biografia, então não sei se terei tanta coisa assim pra dizer aqui. Eu sempre tive muita curiosidade pela figura do Marighella. Eu e meu pai nascemos no dia em que ele foi assassinado, então era algo que esteve presente durante toda a minha vida, principalmente pelo fato de militar no PT desde sempre. Não sei se foi por causa disso, mas acabou que essa biografia trouxe poucos fatos novos pra mim, grande maioria deles eu já conhecia.
A escrita do Mário é boa, gosto do fato de ele não só explorar a vida do Marighella, como de todos à volta dele. Temos uma breve contextualização do que estava acontecendo antes mesmo do Marighella nascer, como os pais dele se conheceram, e são coisas que acho importante de estarem presentes aqui. Na verdade, acho que as coisas que aconteciam ao redor do Marighella acabaram me interessando até mais do que ele mesmo. Já sabia da amizade dele com o Jorge Amado e a Zélia Gattai, e amei ver algumas histórias deles retratadas aqui.
Gosto do fato do autor não tentar transformar o Marighella num herói. Ele faz questão de falar dos acertos e conquistas dele, mas não deixa de lado os erros que ele cometeu. A expulsão da Pagu do PCB, autorizada por ele enquanto dirigente do partido, era algo que eu não sabia que tinha acontecido, e que, mesmo que tenha diminuído um pouco a minha admiração pela figura do Marighella, foi necessário que estivesse aqui. No fim, isso só serve pra que o Marighella se torne mais humano e próximo ao leitor.
Quando assisti o filme baseado nesse livro, fiquei extremamente incomodada porque as pessoas que constroem a guerrilha junto com o Marighella parecem apenas figurantes, alguns sequer nome tem. E, quando falamos de pessoas que militaram durante um período tão opressivo, é necessário darmos espaço e nome a elas, para que, mesmo se passando tanto tempo, elas e seus atos não sejam esquecidos. Achei que isso aconteceria no livro também, mas, por sorte, foi o contrário. O Mário faz questão de citar o nome de todos os envolvidos, seja do lado dos militantes ou dos torturadores, e em alguns casos até expõe suas histórias. Também gostei do fato de que, no final, ele dá um breve resumo do que aconteceu a elas após o assassinato do Marighella.
Mesmo que o Marighella seja uma figura contraditória até pra mim, que acabo discordando veementemente de algumas de suas atitudes, acho que esse é um livro essencial. Mesmo sem ter dado certo, a guerrilha organizada durante a ditadura militar não pode jamais ser esquecida. Mesmo tendo se passado mais de 50 anos desde o golpe militar, esse pedaço da nossa história é algo que precisamos relembrar todos os dias. Já tivemos outro golpe em 2016, mesmo que com configurações diferentes, agora temos um fascista como presidente do país. A nossa história é essencial pra que coisas como essas não aconteçam mais.