José Vitorino 15/02/2018
Elegante, sim.
Como o próprio título sugere, há elegância. E embora calcado na dupla narração em primeira pessoa, artifício que, ora ou outra, busca alcançar uma espécime maior de conjecturas, e com duas personagens que servem, antes, às próprias condenações, há, também, uma ferramenta arisca, uma espécie de duplo alter ego, mesmo que inconsciente, da marroquina Barbiery, que tenta, arbitrariamente, anular as próprias contradições, embora elas emerjam subitamente nalgumas passagens, se apropriando intimamente até do que não a pertença. Entre reflexões mais arrojadas e questionamentos um tanto severos — naturalizados em Renée — e filosofias menores, minimalistas, quase triviais — materializadas na pequena Paloma —, Barbery se apropria tão e somente de si própria para ir e vir no espaço do tempo sem, necessariamente, sequer, sair do próprio lugar comum, oque é um mérito. O texto é um sopro de beleza, embora, no segundo terço, lhe falte um pouco da eloquência que permeia as outras partes, principalmente na figura de Paloma, é de uma leitura suave e apropriadamente contumaz. Me interesso, agora mais, por muito mais de Muriel Barbey.