Alicia147 24/09/2022
Sua história se passa em Paris.
Temos um condomínio de famílias que residem em um prédio e todas essas famílias são muito ricas e moram nesse local a muitos anos. A história é narrada pela perspectiva de duas personagens, uma delas é a Renée que é a conciere do prédio, ou seja, como se fosse uma zeladora, sendo ela muito engraçada. Renée é autodidata e muito culta, porém ela não quer que ninguém saiba disso, porque ela quer cumprir com o protocolo do estereótipo de uma zeladora comum. Uma das coisas que ela faz, por exemplo, é deixar a sua televisão ligada no seu apartamento, para que as pessoas que passem por ali ouçam e saibam que ela está assistindo a novela, mas na verdade ela esta fazendo outras coisas.
A outra personagem é a Paloma que é uma moradora do prédio. Ela é uma pré adolescente e mora com seus pais e sua irmã mais velha. Paloma tem doze anos e ela decide que todas as pessoas são esnobes e insuportáveis e por isso a vida adulta não vale a pena e ela conta na sua primeira narrativa que no seu aniversário de treze anos ela vai cometer suicídio e vai colocar fogo no apartamento com o intuito de ensinar uma lição para o bando de gente rica que ela tanto detesta. Sua narrativa é passada através do seu diário e tem reflexão muito interessantes. Um dos seus títulos se chama “pensamentos profundos” e ela se expressa de uma forma muito pedante, o que é profundo e engraçado ao mesmo tempo.
Diante dessas duas narrativas vamos entendo a lógica entediante da rotina desse prédio. A autora vai nos trazendo várias questões de problemáticas sociais e faz isso através de vários estereótipos. Temos a percepção do quão mesquinhos são os moradores do prédio, porque eles são muitos ricos, porém vivem num mundo cheio de fofocas e não se importam com nada nem com ninguém.
A Renée, sendo a zeladora, está a disposição dos moradores, mas ao mesmo tempo ela não se submente a tudo, por exemplo, tem uma passagem em que a irmã de Paloma bate a porta de Renée em um horário em que ela não estava trabalhando e ela bate a porta na cara da garota, porque afinal ela não aceita simplesmente servir a todos a qualquer hora. Tem ainda um outro momento em que essa mesma pessoa solicita que Renée entregue a dissertação de mestrado dela para outra pessoa e Renée, muito curiosa, abre e lê essa dissertação. Conclui que é um desperdício de dinheiro todas as pessoas pagarem impostos e existirem bolsas de estudo para que alunos desenvolvam teses que não agregam, de fato, nada para a sociedade. É uma reflexão muito interessante que se formos pensar é verdadeira. Afinal, qual o sentido de tantas teses em prateleiras universitárias, de tanto incentivo para bolsas sendo que não existe um retorno disse para sociedade? Enfim... ela traz essa reflexão.
Temos então um dos moradores do prédio que se muda, porque houve um falecimento na família e um dos apartamentos é vendido. Isso torna-se motivo de muito falatório porque a muitos anos ninguém se muda. Quem vem residir é um senhor japonês viúvo e isso é motivo de muito borborim. Todos querem conhecer o japonês e serem convidados para sua casa. Esse senhor, muito culto percebe que Renée é uma senhora também muito culta e a convida para um chá. Ele também encontra Paloma no elevador e percebe seu intelecto. Depois desse momento temos a relação dos três personagens que é muito interessante.
Temos ainda a cultura japonesa que aparece em vários momentos e achei isso bem legal e também a influencia de Tolstoi. Renée é apaixonada por Tolstoi, tanto que seu gato se chama Leon e o Senhora japonês também gosta muito e tem dois gatos também com nomes que referem a Tostoi.
O desenrolar da narrativa eu amei e trás uma reflexão muito bacana.
O momento final de Renée é algo muito filosófico e coerente com toda a construção de sua história, enfim, gostei dessa leitura e vale a pena!