Wellington Ferreira 24/06/2012
Um romance de mestre sobre a transição da adolescência para a fase adulta.
"Eu tinha 37 anos e estava a bordo de um Boieng 747. A imensa aeronave descia atravessando densas nuvens carregadas de chuva, preparando-se para aterrissar no aeroporto de Hamburgo. Sob a chuva fina e fria de novembro, tingindo a terra de um tom escuro, tudo se revestia do ar melancólico das paisagens retratadas nas pinturas da escola de Flandres...
Uma vez o avião pousado, os sinais de proibido fumar se apagaram e uma música de fundo começou a tocar suavemente pelos alto-falantes do teto. Era 'Norwegian Wood', do Beatles."
Ao ouvir esta música, Toru Watanabe, o protagonista e narrador da história, é envolvido por um turbilhão de lembranças do seu tempo de adolescente e principalmente do seu efêmero, mas, inesquecível e confuso relacionamento com Naoko, ex-namorada do seu melhor amigo Kizuki, que se suicida, aparentemente sem um motivo justificável. A morte do melhor (e único) amigo faz Watanabe ficar meio sem rumo na vida, até que um telefonema de Naoko muda tudo. Eles passam a se encontrar semanalmente para, a princípio, desabafarem um com o outro, no entanto, as conversas avançam e seguem um outro rumo, fazendo com que eles iniciem uma relação. Naoko, no entanto, é internada em uma espécie de clínica psiquiátrica, a partir daí os dois se distanciam e passam a se comunicar por cartas.
A essa altura, Watanabe já tem se tornado "amigo" de um cara chamado Nagasawa, que ele conhece na faculdade. Nagasawa, apesar de ser muito inteligente, é um cara desprovido de escrúpulos, tira onda de todo mundo, ninguém pra ele presta ou está à sua altura, sua diversão é sair a noite para beber e transar com o maior número de mulheres possível. Watanabe, talvez por carência e falta de experiência com mulheres, entra neste ritmo durante um tempo, mas logo cansa-se, percebe que este estilo de vida não combina com a sua forma de pensar e viver.
É então que um destes passeios, que não deu certo, ele conhece Midori, uma colega das aulas de História da Arte Dramática, mesmo estudando na mesma sala, os dois, até aquele momento, nunca tinham conversado. Midori é uma menina bem ativa, independente, faladeira, sonhadora, explosiva e muito provocante... totalmente o oposto de Naoko, estas características cativam Watanabe, fazendo com que logo de cara tornem-se grandes amigos e passem a sair de vez em quando para comerem, beberem e jogar conversa fora.
Em uma das cartas que Watanabe recebe de Naoko, ela pede para que ele vá visitá-la no local onde está "internada". Ele topa na hora, vai e passa 3 dias junto dela e de sua amiga Reiko, que também é uma paciente, só que num outro nível, pois pelo fato de estar lá há 8 anos, torna-se uma voluntária do local. Reiko e Watanabe criam uma empatia muito forte, que permanece até o final do livro.
Após esta visita, às esperanças de Watanabe na plena recuperação de Naoko se renovam, ele promete esperar pela sua reabilitação para que, ao sair, possam viver juntos.
Murakami é um amante inveterado de boas músicas e livros e por já ter sido dono de uma pequena loja de discos, a história é permeada com várias referências à obras literárias e cantores de jazz, música clássica e bossa-nova, inclusive Tom Jobim é lembrado, com a sua "Garota de Ipanema". O próprio nome do livro, Norwegian Wood, é em homenagem a uma canção dos Beatles, e que após lerem o livro, vocês vão entender o porquê da escolha deste nome. Além destas alusões literárias e musicais, o livro contém muitas cenas de sexo, alguns acham que houve um excesso, eu particularmente não concordo. Não há vulgaridade e todas fazem parte do contexto.
O livro contém poucos personagens, mas todos com uma personalidade e identidade muito bem definidas e marcantes, o único ponto em comum que eu enxerguei entre eles é uma certa desilusão e angústia com a vida, talvez pela transição que estão prestes a sofrer da adolescência para a fase adulta.
Se eu pudesse resumir este belo romance em uma frase, diria: "É uma história de adolescentes que buscam, diante das dificuldades da vida e de um futuro incerto, viverem e sobreviverem num mundo de gente grande, confusa e ingrata."
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Um abraço e boas leituras!!!