Gabi Fernandes 15/09/2013
"Sou sua vida e estou dizendo para você parar por um momento e pensar."
A vez de ler Cecelia Ahern ! O momento mais oportuno possível para ler uma história que aborda o ato de parar para conversar com a própria consciência.
"Você está doente, vai ao médico, toma antibióticos. Você está deprimido, conversa com um terapeuta, ele receita antidepressivos. Os buracos aparecem, você pode fechá-los. Mas, com a sua vida, você toma algumas decisões ruins, tem má sorte algumas vezes, que seja, mas tem de continuar, certo? Ninguém consegue ver quem você é por dentro e, nos dias de hoje, se você não pode ver, a crença é de que não existe. Mas eu estou aqui. Sou a outra parte de você. O raio X da sua vida. Um espelho é mantido diante de seu rosto e eu sou o reflexo: vou mostrar como você está sofrendo, como está infeliz. Está tudo refletido em mim."
Quando o mundo vira as costas para você, você vira as costas para o mundo, já dizia Timão em "O Rei Leão". Mas, o fato é que não dá para permanecer com as costas voltadas para o mundo eternamente. Uma hora, você tem que encarar o problema de frente. Deixar de viver no automático e consertar os erros. Por mais doloroso e exaustivo que possa ser no início. A melhor forma de fazer isso ? Ora, se despindo totalmente de hipocrisias. Usando a verdade como remédio. Nisto, eu não poderia concordar mais com o "Vida" de Lucy Silcheter.
" Lucy: - Eles me conhecem.
Vida : -Nem você se conhece, como pode esperar que a conheçam ? "
Lucy Silchester leva uma vida disfuncional resultante de uma sucessão de erros ligados à problemas de autoafirmação, amor próprio e, principalmente, na minha opinião, de "auto-sabotagem".
"O que há com você ? Por que sabota deliberadamente cada coisa boa que acontece em sua vida ?"
"O problema, Lucy, nunca foi sua capacidade de colocar outras pessoas em primeiro lugar, e sim sua total incapacidade de se colocar em primeiro lugar."
É mais ou menos como a fórmula de sucesso de chic lits/literatura de mulherzinha da melhor qualidade. Como se "Férias" encontrasse "Comer, rezar, amar". Uma jornada interna de autodescobrimento. Sendo assim, como não amar isso aqui ?
Tá, até teria como não amar. Se Cecelia Ahern falhasse em quesitos como desenvolvimento de personagens, escrita ou execução da trama. Só que isso não acontece. Nem por um segundo. A escrita da autora é refinada e ágil, a trama é muito bem executada e os personagens são maravilhosamente bem desenvolvidos. Senti profunda empatia por Lucy e Vida. E o resultado é que foi difícil largar este livro. Queria lê-lo o tempo todo. Queria aprender com ele. Queria conversar com a minha própria vida a partir dele. E, por muitas vezes, consegui. Foi, sem a menor dúvida, uma sensação de acréscimo incrível. Mais que isso, na verdade, de compreensão mesmo. Era quase como se Ceceia Ahern me entendesse e quisesse me dar dicas, valiosas dicas, para me ajudar a encontrar o equilíbrio.
"Lucy, você está correndo o risco de seguir, totalmente, na contramão. Não quero que se torne uma mulher egoísta , que fica sentada o dia todo falando de si mesma com a sua vida. Você precisa encontrar um equilíbrio. Cuidar de você, mas cuidar das pessoas que se preocupam com você também."
Equilíbrio é valorizar a si mesmo e a quem verdadeiramente nos ama. Os amigos mais leais e a família. É como eu ouvia nas músicas de Jota Quest durante a minha adolescência, às vezes o seu amor pode estar do seu lado. Não vale a pena perder tempo com idolatrias e "endeusamentos". Não é justo colocar os outros em pedestrais. Nem com os outros e nem consigo mesmo.
"Você fica tão limitada quando foca em Blake que jamais reconheceria o homem perfeito, o homem dos seus sonhos, mesmo se ele estivesse bem próximo a você."
É isso, ser feliz é questão de se se libertar. De abandoar idolatrias. De viver bem consigo mesmo, bem o suficiente para aceitar que tentar não significa ter êxito, mas que não ter êxito não significa ser incapaz. Ser feliz é uma questão de aceitação. De recíproca.
"Por dez minutos eu o ouvi falar sobre sua vida e, quando ele estava chegando ao fim, sabia porque estava aqui. Estava sentada na grama, ao lado dele, ouvindo aquele homem familiar parecendo um perfeito desconhecido e, em questão de minutos, estava me sentindo completamente diferente a respeito dele. Estava vendo-o como alguém, menos como um deus e mais como amigo, um amigo um pouco bobo, que tinha se perdido em seu caminho e encontrava-se obcecado com sua vida, com sua vida e não com a de qualquer outra pessoa, e, certamente, não com a minha, porque a minha estava lá dentro, bebendo cerveja e ouvindo música tradicional irlandesa, sozinha, depois que eu a arrastara até lá. De repente, queria deixar Blake e ir para dentro com Vida. Mas não podia, não até depois de ter feito o que eu tinha ido fazer ali. Ele terminou de falar e eu sorri, calma e serena, um pouco triste, mas me sentindo em paz, finalmente."
Verdade, amizade e recíprocas verdadeiras. Autoconhecimento e autoestima. Deixar o passado no passado e viver o presente. Amar a pessoa certa de agora.
"E apesar dos meus protestos emocionais internos, e apesar de me sentir rasgada por dentro, meu corpo não podia deixar de responder a ele e me perdi de novo."
E amor próprio. Amar a própria vida. No fim é tudo sobre respeitar a própria vida.
"Enquanto você está por ai, sua vida também está. Assim como você derrama amor, carinho e atenção sobre seu marido, sua esposa, seus pais, filhos e amigos que o cercam, tem que fazê-lo igualmente com a sua vida, porque ela é sua, é você, e está sempre lá dando força pra você, torcendo por você, mesmo quando você se sente fraco. Desisti da minha vida por um tempo, mas o que aprendi é que, mesmo quando isso acontece, e especialmente quando isso acontece, a vida nunca, jamais, desiste de você. A minha não desistiu. E nós estaremos ali, um pelo outro, até os momentos finais, quando vamos nos olhar e dizer: ‘Obrigado por ter ficado até o fim’."
Por ter me mostrado todos esses elementos como elementos essenciais à felicidade e a paz interior eu devo meus mais sinceros agradecimentos a Cecelia Ahern. Primeiro livro da autora que leio. Primeiro de muitos. Com certeza.