gleicepcouto 26/12/2012Prepare-se para um encontro emocionante com a sua própria (V)vidahttp://murmuriospessoais.com/?p=5328
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A Vez da Minha Vida (Novo Conceito) é o quinto livro da irlandesa Cecelia Ahern. A autora, mais conhecida por P S Eu Te Amo (que, inclusive, foi adaptado ao cinema), é formada em Comunicação Social e já foi integrante de um grupo pop (Shimma), que ficou com a terceira colocação na final irlandesa do Festival Eurovisão da Canção.
Nesse lançamento, Cecelia nos apresenta Lucy Silchester – uma jovem que diz para todos, a todo tempo, que está tudo bem com ela. Nem que para isso tenha que inventar umas mentirinhas aqui e ali. Seja sobre sua vida afetiva ou profissional. Para evitar questionamentos alheios, acaba por fugir de sua família e amigos, tornando-se cada vez mais reclusa. Ela entra em um ciclo vicioso que não consegue ver o quanto está se prejudicando e afastando todos de si.
É aí que Vida entra em ação. Um dia, quando volta do trabalho, ela encontra um envelope no tapete de sua sala. Dentro, um convite marcando um encontro com sua vida, a Vida. Isso mesmo. Ela já até tinha visto algum anúncio sobre esse tipo de “serviço” em uma revista, mas Lucy não tinha tempo para “bobagens” como essa, claro.
O que ela não sabia, porém, é que sua Vida não desistiria dela tão fácil. Juntas, embarcam em uma viagem de descobertas que vai render muitas risadas, mas também lágrimas.
Alguns livros chegam sorrateiramente, como quem não quer nada. Começam devagar, um pouco chatinhos, mas aí, a história vai se desenvolvendo e quando você percebe, aquelas páginas já fazem parte de você.
Em A Vez da Minha Vida foi assim que aconteceu comigo, ao menos. Logo no primeiro capítulo com uma descrição gigante de um tapete me deu a falsa impressão de que o livro seria um saco. Ainda bem que fui insistente e continuei a leitura (aliás, só dormi quando terminei de lê-lo, às 4 da madrugada). Por conta disso, posso dizer que foi o melhor romance que li em 2012 – e um dos melhores, no geral.
É, gente. Não é pouca coisa. Mas gostaria de frisar que o livro parou na época ideal na minha mão. Impressionante. Era o que eu precisava ler naquele instante. Quase como um sopro de esperança no meu coraçãozinho já cansado.
A narrativa de Cecelia é fluida e de uma delicadeza camuflada. É o tipo de texto que, em um primeiro momento, parece comum, mas, ao olhar mais atentamente, você vê que ela insere tanto sentimento ali. As palavras são cuidadosamente escolhidas para expressar emoção, mas não de modo piegas ou exagerado. Não há espaço para firulas.
Mas há espaço para humor. O toque leve e divertido ao livro é muito bem dosado. Você consegue rir, gargalhar ou apenas sorrir. Depende da situação. Mas também tem aqueles momentos de sorrisos tristes, sabe? Muito delicados e sensíveis. E sim, tem romance, gente. Mas nada meloso. É fofo, com um quê de conto de fadas; mas muito legal e inusitado. Não é no estilo Vapt-Vupt, mas também não acontece em velocidade de lesma. Gostei bastante.
Os personagens são agradabilíssimos e coerentes. Toda as situações envolvendo Lucy e sua família parecem genuínas de tão bem escritas e embasadas. Ai, que vontade de socar o pai dela, gente. >.< Essa raiva toda é reflexo de personagem bem caracterizado – que ótimo!
O destaque, porém, vai para Lucy e Vida, que foram muito bem construídos. Você até sabe o que pode se esperar deles, mas quando eles fazem o contrário, você pensa… “Ops! Não os conheço tanto assim!” Mas isso é moderado, de forma que não torna os personagens bipolares. Além disso, o modo como Cecelia traz Lucy à vida é peculiar – muito difícil do leitor não se identificar com alguma característica dela.
Tracei vários paralelos para Vida, mas o principal foi Deus. Pensa comigo. Vida estava onde Lucy estava, absolutamente em todo lugar: vida profissional, pessoal, familiar… Sempre ao lado dela, mesmo quando ela não queria. Mesmo quando ela sequer acreditava em si mesma e muito menos nele. A relação dos dois é, definitivamente, o grande ponto alto do livro. Com o desenrolar dos acontecimentos ambos vão passando por mudanças graduais que culminam em um desfecho perfeito para a trama.
A Vez da Minha Vida é um livro para ser saboreado aos poucos, se deliciando em cada situação, atentando aos detalhes. Mas você tem que estar aberta para ele, deixá-lo entrar em sua vida, assim como Lucy deixou a Vida entrar na dela. Garanto que vai se emocionar e se surpreender com o que vai descobrir quando se encara de frente a própria (V)vida.