Manu 13/02/2016
O Exército de um Homem Só é uma obra literária produzida por Moacyr Scliar e incorporada à literatura brasileira como uma das peças de ficção mais importantes da década de 70. O livro, cujo contexto é a ditadura militar, possui um pano de guerra no qual é abordado, em todas as partes da leitura, sobre a revolução russa, Stalin, socialismo versus capitalismo, dominação Israelense.
Mayer, protagonista, originário de uma família judia, na qual o pai, representante, aspira que seu filho se torne um rabino, líder religioso dos judeus, por meio dos estudos da Torá que poderiam desenvolver em Mayer o gosto pela futura profissão. Embora o pai insista em pregar a importância da religião, Mayer é um jovem excêntrico, revolucionário, que tem ideias totalmente avessas da família, pois deseja a construção de uma nova sociedade, frase que é retomada, constantemente, no decorrer da história, e, devido a isso, este com a sua astúcia e valentia, vai à busca dos seus objetivos com a força de um touro. Fisicamente, Mayer apresenta-se como um jovem frágil e magro, pois teimava em não comer a comida da mãe, teimava que queria comer porco, mas quando este era servido à mesa, ele teimava que não queria mais. O jovem idealista é amante de Rosa de Luxemburgo, Walt Whitman, com seus versos: “Pioneiros! Ó Pioneiros!”... , do livro dos piratas e etc. Junto aos seus amigos: Léia, Marc, José Goldman, companheiros da colônia coletiva, Mayer, na propriedade do pai de Marc, desenvolve seu projeto da Nova Birobidjan, recinto criado pelo personagem, o qual é representado como o lugar da libertação dos judeus, em que eles podiam estabelecer uma sociedade igualitária. Apesar da benevolência e do espírito de guerra que o personagem carrega sobre ele mesmo, o seu viés humanitário, por vezes, demonstra-se exageradamente aflorado, desencadeando uma confusão entre o real e o imaginário, o qual é responsável pela aparência de louco que Mayer vai adquirindo ao longo do tempo.
Em relação a essa característica marcante da personalidade de Mayer, é possível compará-la a Dom Quixote, personagem da obra literária “Dom Quixote de La Mancha”, pois tanto um quanto o outro possuem uma mente visionária, um jeito lunático que se assemelha à loucura, estado crônico dos dois personagens. Outro aspecto levantado no livro é a afinidade que Mayer tem com os animais, como a companheira cabra, o companheiro porco, e a companheira galinha, essenciais para cobrirem as responsabilidades do Comitê do Povo e, em um futuro próximo, cadáveres do Mausoléu – cemitério dos bichos falecidos.
Com relação a essa afinidade do personagem com os animais, é possível desenvolver uma análise de que os bichos são humanizados por Mayer, o qual os trata como companheiros bípedes, capazes de possuírem os mesmos atributos humanos, como a execução de um trabalho racional dotado de responsabilidades e prazos. Portanto, a loucura de Mayer é observada e mapeada pelo próprio leitor, por meio dessas conclusões de que o personagem não consegue distinguir um animal de um homem, ou, talvez, queira acreditar em uma verdade “Mayerana” de que no mundo do Capitão Birobidjan – Mayer -, há a possibilidade de um animal ser um ser pensante. A obra “A revolução dos Bichos”, de George Owell, desenvolve um tema em comum, pois os animais se espelham aos humanos, uma vez que estes pensam, falam e lideram. Os porcos, no caso, são a espécie dos ditadores que ordenam e escravizam os demais bichos. Um exemplo de que os porcos são reflexos dos humanos é o fato de que estes vão se metaforizando em uma formação bípede, ou seja, eles adquirem o arquétipo do homem. A obra é uma fábula que satiriza o autoritarismo, o egoísmo e a ambição, que, independente de ser um homem ou um animal, à busca pelo poder sempre existiu e existirá.
Enfim, a meu ver, “O Exercito de Um Homem Só” é um livro bem escrito, com uma sequencia de inicio, meio e fim completa, não deixando nenhuma lacuna solta para que o leitor ficasse em dúvida ou sem ligar um fato ao outro, pois todos os detalhes da historia foram significativos para a análise, a trama e a manifestação de diversos sentimentos que em mim se apresentaram. Moacyr Scliar soube desenvolver um enredo temático, onírico e emocionante. E, em homenagem ao velho, idealista e louco Mayer: - Iniciamos neste momento a construção de uma nova sociedade. Hastearei a bandeira ao mastro! Viva os pioneiros, viva os pioneiros!