spoiler visualizarLara.Dias 14/04/2017
Sutilmente Crítico
Eu havia assistido o filme há uns dez anos atrás, na ocasião não sabia da existência do livro, e a vaga lembrança que havia sobrado se concentrava na cena do banquete.
Eu me surpreendi muito com a leitura desse breve livro, porque na minha lembrança, essa estória possuia uma mensagem otimista, sobre transformação, sobre reconciliação; sobre os simples prazeres dos sentidos e a felicidade da vida. Mas autora vai além disso, ela é muito mais critica, e até mesmo, poderia dizer, levemente sarcastica.
Quando eu terminei de ler a última frase, me pareceu que a narrativa havia terminado de uma forma abrupta. Um tempo lógico lacaniano. Reli novamente, e depois de refletir, essa estória tomou um novo significado.
Longe de mostrar uma mudança qualitativa na vida das irmãs Phillipa e Martine, através da experiência do banquete, ambas se mostraram tão apegadas aos seus valores estritos que não compreenderam a Babette. Aferradas aos seus valores asceticos, a negação da vida material, a louvação de um Paraíso no qual apenas Nele se concretizaria um ideal de felicidade, e a uma vida austera que havia atrofiado tantos corações e acumulado ressentimentos e mesquinharias, as irmãs despercebidamente deixaram passar uma aprendizagem que poderia advir daquele banquete, uma aprendizagem sobre a felicidade, a arte, o amor, a criação, e a vida.
A festa de Babette é uma critica, feita de forma sutil, a uma sociedade austera que cultiva valores abnegados para encobrir a hipocrisia de suas vidas.