Nicolas388 26/05/2023
"Vou contar a história de Ogun, o Prometeu africano"
Mayombe é um livro interessante, com uma narrativa um tanto diferente. Não no sentido de que seja uma história cheia de experimentalismos, mas há muitas digressões, além de ser é um relato que intercala entre primeira e terceira pessoa de uma forma singular. Há o narrador onisciente, que descreve os cenários e se chega até os sentimentos de seus personagens, entremeados, de vez em quando, com pequenos relatos pessoais dos muito personagens dessa história (e como são muitos). É difícil escolher um único protagonista, mas o personagem que mais se aproxima disso é o Comandante, ou como é conhecido por seu nome de guerra: Sem Medo.
O autor examina não apenas a luta contra a ocupação colonial, mas também as tensões internas entre os guerrilheiros, as divisões ideológicas e os desafios logísticos que enfrentam. Essa abordagem multifacetada proporciona uma compreensão mais profunda do contexto histórico e das complexidades da luta pela independência. As descrições que Pepetela faz das paisagens do Mayombe são evocativas, belíssimas, quase palpáveis. No entanto, apesar de tantos elogios, senti falta de alguma coisa, um aprofundamento em seus personagens, que muitas vezes parecem o mesmo ser. Ou talvez faça parte das intenções do autor, querer representar esse organismo coletivo, diferente e ainda tão parecido do povo angolano, algo que, ainda que intencional, não os impede de parecer unidimensionais.
É uma leitura essencial para aqueles interessados na história e cultura de Angola, além de ser uma obra literária notável em si mesma, o que torna este romance uma contribuição significativa para a literatura angolana e africana como um todo.