Dani do Book Galaxy 25/11/2020Poderoso e surpreendente, um thriller psicológico que ficou um bom tempo em minha menteJá tendo me surpreendido com "Garota exemplar", iniciei a leitura de "Objetos cortantes" com muitas expectativas. Fora que uma adaptação feita pela HBO com a Amy Adams no papel principal não era nada mal, e já esquentava ainda mais minha vontade de ler este romance da Gillian Flynn.
Confesso que o início foi um tanto arrastado para mim. O plot um pouco batido de "mulher madura que precisa retornar à sua cidade natal para enfrentar seu passado" parecia não prometer muito mais do que o esperado, mas fico feliz em dizer que sim: a autora me surpreendeu e desenvolveu uma história sombria, inteligente e sem floreios e romantizações.
Aliás, o que de fato torna "Objetos cortantes", assim como "Garota Exemplar", um livro bom, é a escrita da Gillian Flynn. Crua, objetiva, direto ao ponto, sem floreios e até meio brutal, ela fala de sexo com propriedade, discorre sobre abuso, violência, depressão e suicídio. E tudo sob o ponto de vista de uma mulher, de forma que sua fala se torna ainda mais poderosa.
Apesar de o ponto central da história ser uma investigação de uma série de assassinatos, o verdadeiro pano de fundo do thriller é mais complexo: a relação entre mãe e filha. O relacionamento conturbado e mal resolvido com a mãe transparece nas memórias da protagonista e se reflete em suas inseguranças e em sua personalidade como adulta.
Por mais durona que Camille possa parecer ao narrar a história, entendemos que ela é uma personagem frágil, cuja garotinha interior - que deseja desesperadamente o afeto e a aprovação da mãe - jamais cresceu.
O final do livro foi bem próximo ao que eu esperava e ansiava, porém de uma forma completamente diferente do que consegui imaginar - de forma que eu gostei muito, pois ainda que tenha imaginado corretamente o destino de algumas personagens, a autora ainda conseguiu me surpreender nas últimas páginas.